Capítulo 28: Conto de fadas.

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Abigail ficou imóvel. Tão imóvel que parecia nem estar respirando, com os olhos arregalados e os lábios tremendo na tentativa de conter as lágrimas. A puxei para trás de mim, querendo afastá-la de Billy e da sua expressão séria.

—Como você consegue falar uma coisa dessas desse jeito? —Indaguei, observando-o dar um passo para trás e negar com a cabeça.

—Não tem jeito melhor de falar isso, rapaz. Não vou criar uma história doce e bonita sobre Kristie, quando essa história é tudo menos bonita. Kristie é mentirosa e manipuladora, quanto antes Abigail souber disso, será muito melhor. —Billy afirmou, se afastando na direção da sua casa, enquanto eu olhava para trás, vendo Abigail encarando um ponto fixo no chão, absolutamente congelada. —Antes que você me pergunte, não faço ideia de quem são os pais dela. Não sei o que aconteceu. Mas Abigail também não foi adotada. Quando questionei Kristie sobre isso, ela pediu o divórcio e desapareceu. A verdade é dura, mas é essa.

—Ei, espera... —Fiz menção de ir até Billy, mas ele já estava abrindo a porta de casa, se virando para me lançar um olhar duro, com o rosto inteiro tenso.

—Já falei o que queriam saber. Não tem mais nada para ela aqui. Por favor, vão embora. Não quero que Kristie fique sabendo que falei com ela e que a contei sobre isso isso. —Billy afirmou, fazendo Abigail se virar e olhar pra ele. As lágrimas que estava tentando segurar manchavam toda sua bochecha nesse momento.

—Por que ela não pode saber? O que vai acontecer se ela souber que eu estivesse com você?

—Eu disse, ela é mentirosa e manipuladora. —Billy soltou um suspiro pesado, olhando com certa pena e arrependimento para Abigail, já que ela soltou um soluço e deixou as lágrimas virem. —Sinto muito, menina, por estragar seu conto de fadas.

Billy fechou a porta, deixando claro que a conversa estava encerrada ali. Me virei para Abigail, mas ela já estava caminhando de volta para a moto, parecendo desesperada para ir embora dali rápido. Corri para alcançá-la, tocando suas mãos quando ela tentou enfiar o capacete na cabeça.

—Abby? —Ela empurrou minhas mãos, balançando a cabeça negativamente, com os olhos vermelhos e os lábios tremendo. —Eu sinto muito.

—Eu só quero ir embora. —Abigail conseguiu colocar o capacete, entregando o outro pra mim. —Por favor, só me leva embora daqui. Depois conversamos sobre isso. Mas agora eu não consigo.

Assenti, vestindo o capacete e fazendo o que ela pediu. Dirigi direto para casa, podendo sentir o corpo de Abigail tremer contra minhas costas enquanto ela chorava. Só queria parar a moto e a abraçar, mas não achava que fazer isso no meio da rua ia ajudar muita coisa. Então só parei quando chegamos em frente ao casarão.

Abigail não esperou, ela pulou da moto e tirou o capacete, pegando as chaves que estavam no meu bolso antes de disparar para a casa. Chamei o nome dela, mas ela já havia desaparecido do lado de dentro, fazendo meu coração se apertar de preocupação, porque não pensei que as coisas iam sair tão ruins como foram. De tudo que eu pensava, Kristie não ser a mãe dela era a última das coisas.

Segui para a casa depois de guardar a moto, entrando e encontrando tudo no maior silêncio. Briar, Victor e Millie tinham ido pra festa, o que significava que estávamos completamente sozinhos. Subi as escadas em direção ao meu quarto, porque não achei que ela pudesse estar em outro lugar que não aquele. Mas quando abri a porta ela não estava ali, me deixando um pouco apreensivo.

Abri todas as portas do corredor para acha-la, até chegar no último cômodo, que era um quarto, mas havia sido transformado em uma biblioteca para Millie. Todas as paredes estavam cobertas de estantes, sem um único espaço livre de um livro. Abigail estava encolhida no chão, escorada em uma das estantes com o rosto escondido nos joelhos.

—Abby... —Soltei uma respiração pesada, me abaixando na frente dela e a puxando para o meu colo. Abigail estava chorando a ponto do seu corpo inteiro tremer em vários soluços. Mas ela me abraçou de volta, escondendo o roso no meu pescoço. —Eu sinto muito, linda. De verdade, eu sinto muito. Isso não deveria estar acontecendo com você.

—O que eu vou fazer agora? —Abigail sussurrou, com a voz embargada fazendo meu coração se estilhaçar e eu desejar protege-la de absolutamente tudo. —Tenho que... tenho que voltar pra casa e fingir que não sei de nada? Tenho que questioná-la sobre meus verdadeiros pais? O que eu vou fazer, Julian?

—Eu não sei, Abby. Eu queria ter uma resposta pra isso, mas infelizmente eu não sei. —Soltei um suspiro, segurando o rosto dela para beijar sua testa. —Mas vamos descobrir e vamos resolver isso. Estou aqui com você e não vou te deixar sozinha.

Abigail parou de chorar depois de alguns minutos. A levei para o meu quarto e coloquei um filme para assistirmos. Ela ficou quietinha o tempo todo, agarrada a mim como se tivesse medo que eu sumisse. Mas eu fiquei ali, passando a mão nos seus cabelos e sentindo sua respiração na minha garganta, até ela finalmente se acalmar.

—Você quer comer alguma coisa? Podemos fazer algo ou pedir. —Sugeri, comprimindo meus lábios ao afastar um pouco o rosto para olhar pra ela, que estava com a cabeça escorada no meu ombro.

O filme havia acabado, mas eu não tinha prestado atenção em nenhum momento do que acontecia na tv. Tinha a sensação que Abigail também não. Ela estava tocando o bolso da frente do meu moletom. Brincando com o excesso do tecido, parecendo perdida em pensamentos. Senti uma sensação esmagadora no meu peito, porque só queria que ela voltasse a sorrir pra mim.

—Por que você usa roupas maiores que você? —Indagou, fazendo algo frio se arrastar pelo meu corpo, porque não estava esperando por aquela pergunta. Abigail não me conheceu quando cheguei em Nova Iorque. Ela não faz ideia de como eu era. —É estranho, mas te deixa fofo.

—Fofo é uma coisa boa. —Falei, preferindo não responder aquela pergunta inicial. —Você está com fome?

Abigail balançou a cabeça negativamente, escondendo o rosto na minha garganta de novo. Estremeci com a respiração suave dela ali, me controlando para não pensar em qualquer outra coisa que não deveria, porque Abigail estava mal e aquele não era o momento para sentir atração por ela. Mas a abracei de volta, fechando meus olhos enquanto sentia seu perfume tomar conta de mim, deixando meu coração acelerado e meu sangue quente.

—O que posso fazer por você, Abby? —Perguntei baixinho, passando minhas mãos pelos cabelos dela, enquanto meus lábios tocavam sua testa. —Só quero ver você sorrindo de novo.

Abigail soltou uma respiração pesada, esfregando a bochecha no meu ombro, enquanto apertava os braços ao redor de mim. Aquele gesto deixava meu coração na garganta, querendo explodir como fogos de artifício.

—Vamos para a festa. —Afirmou depois de um momento, me pegando de surpresa. —Quero saber como é uma.


Continua...

Como conquistar Abigail Brooks / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora