Capítulo 9: Eu não estou presa!

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Abigail me encarou por longos segundos, sem dizer uma só palavra, como se estivesse surpresa demais para pensar em alguma resposta. Não sabia o que esperar dela naquele momento, mas tinha quase certeza de que alguma coisa tinha acontecido quando fui embora no outro dia. Impossível eu receber um aviso daquele gratuitamente. Um aviso que eu iria desobedecer, para a infelicidade da governanta e da senhora Brooks.

—Por que está me perguntando isso? —Abigail indagou, parecendo um pouco nervosa demais naquele instante, porque seu rosto estava me um pouco pálido.

—Só estou curioso. Fiquei pensando no que você me falou depois que eu fui embora e o quão surpresa estava quando eu disse que não morava com meu pai. —Afirmei, umedecendo os lábios com a língua, enquanto tentava ponderar no que dizer, para não chegar a um ponto que me traria problemas. —Você é a primeira pessoa que eu conheço que nunca sai de casa, nem mesmo para ir para as aulas. E você mora longe demais da cidade, pra ficar presa dentro de casa.

—Eu não estou presa! —Retrucou, fazendo uma careta, mas havia a sombra de uma dúvida nos seus olhos, como se ela não tivesse certeza sobre aquilo. —Eu estou muito bem vivendo assim, Julian. Não sou infeliz.

—Tudo bem. Sinto muito se te ofendi ou qualquer coisa com essa pergunta. —Falei, vendo-a comprimir os lábios em um claro sinal de tensão.

—Não ofendeu, mas está se intrometendo em algo que não é da sua conta. —Afirmou, com aquele rosto gentil e doce dando lugar a algo mais afiado e firme. Mas Abigail era péssima em esconder suas emoções, porque eu podia ver que por baixo de tudo aquilo havia medo. —Podemos apenas terminar o trabalho? Foi pra isso que você veio aqui.

—Certo, tudo bem. —Mordi o interior da bochecha, me segurando para não insistir. Mas Abigail havia ficado na defensiva, o que era sinal suficiente para eu não falar mais nada naquele momento. —O que você queria me falar sobre o trabalho?

Abigail respirou fundo antes de começar a falar sobre o trabalho. Tentei me concentrar naquilo, mesmo que uma luzinha vermelha irritante ficasse piscando dentro da minha cabeça, gritando que tinha alguma coisa de errado naquele lugar.

Abigail e eu passamos as horas seguintes falando apenas do trabalho. Mesmo tentando não demonstrar, eu sabia que havia deixando-a confusa com a minha pergunta. Havia dúvida e hesitação na forma como ela falava e olhava pra mim. Quando eu estava com a atenção no meu caderno e no livro, ela me observava com o canto dos olhos, como se quisesse me perguntar alguma coisa e não soubesse como.

Não conhecia Abigail o suficiente, mas esperava que a curiosidade dela fosse maior que seu medo e ela resolvesse se abrir comigo até meu tempo ali acabar. Não sabia bem o que estava fazendo e o que pretendia com aquilo, se alguma coisa estivesse mesmo errada com a forma que ela vivia ali. Eu só sentia que não podia virar as costas pra isso.

No meio da tarde a governanta entrou na biblioteca para nos trazer um lanche. Não olhei pra ela um segundo sequer, assim como recusei a comida, porque a tensão que emanava de Abigail estava começando a me afetar também. Quando a governanta saiu, uma hora depois, comecei a me perguntar se tinha estragado tudo, porque Abigail olhava para qualquer lugar menos pra mim.

Victor — Você ainda está vivo?
A Rapunzel precisa de salvação?

Olhei para a tela do meu celular quando ela se acendeu e vibrou, revelando uma mensagem de Victor. Peguei o celular na mesma hora, vendo Abigail erguer a cabeça para olhar o que eu estava fazendo. Enquanto digitava uma resposta, vi que ela prestava atenção em tudo, parecendo um pouco perdida dessa vez.

Julian — A Rapunzel está com medo, mas acho que despertei a dúvida nela também.

—Eu pareço viver numa prisão? —Abigail indagou, tão baixo que quase não ouvi. Tirei os olhos do celular e a encarei, vendo-a olhar para o caderno na sua frente, como se estivesse com vergonha de olhar pra mim.

Como conquistar Abigail Brooks / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora