Capítulo 17: Família Hollis.

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Eu tinha certeza que sábado iria demorar séculos para chegar, porque eu estava mais do que ansioso pra ver Abigail de novo e a tirar daquela casa, mesmo que fosse por algumas poucas horas. E eu tinha certeza também que essa demora iria mexer com o meu humor de uma forma terrível, porque odiava ficar ansioso acima de qualquer outra coisa.

—Nosso lugar já está reservado, Julian. Você pode levar a Abigail também. —Millie murmurou, enquanto nos sentávamos em uma das mesinhas do café, perto da janela, onde podíamos observar a quinta feira nublada e fria do lado de fora. —E você já a apresenta pra nós.

—Será que dá tempo? —Indaguei, batucando meus pés no chão sem parar, enquanto Millie soltava uma risada.

—Claro que sim. Briar não vai pegar as chaves do rinque de patinação só depois da meia noite? —Quando balancei a cabeça que sim, minha melhor amiga abriu um sorriso de orelha a orelha. —Então vai dar tempo. Você não precisar ficar até o final. E eu tenho certeza de que ela vai gostar de ir lá com a gente.

—Tudo bem. —Concordei, abrindo um sorriso pequeno, pensando que gostaria de ter muito mais do que só algumas horas com Abigail, porque havia muitos lugares que eu gostaria de levá-la.

Mas talvez, dependendo de como as coisas relacionadas ao pai dela se resolvessem, Abigail conseguisse sair mais de casa. Havia pedido para Victor tentar descobrir alguma coisa sobre isso e esperava ter um pouco mais de sorte nessa parte.

—Nosso café já vem. —Victor se sentou ao lado de Millie, passando o braço ao redor da namorada, antes de empurrar o celular sobre a mesa na minha direção. Olhei para a tela, observando o telefone vibrar enquanto meu nome aparecia ali. —Acho que é a sua Rapunzel.

—Não começa. —Resmunguei, arrancando uma risada de Victor e Millie, antes de pegar o celular e me afastar, clicando em atender a chamada. Não havia conversado com Abigail ainda, porque fiquei hesitante em ligar pra ela de manhã, com medo que ela estivesse ocupada e eu acabasse atrapalhando.

Abigail — Julian? É você?

Julian — Oi, Abby. Sou eu. Tudo bem?

Ouvi o som de uma porta batendo, como se Abigail, estivesse indo pra outro lugar, provavelmente para não correr o risco de ninguém ouvir nossa conversa. Saí para o lado de fora do café, sentindo o vento frio contra o meu rosto, enquanto meu coração reagia ao fato de estar ouvindo a voz dela.

Abigail — Está tudo bem. Minha mãe já saiu pra trabalhar... Achei que você fosse ligar ontem ou hoje de manhã.

Julian — Desculpa, eu queria ligar, mas... não queria te incomodar. Ninguém descobriu que eu estive ai ontem a noite?

Abigail — Não, ninguém te viu. Minha mãe acha que eu já esqueci de você e da ideia de pedir para sair para fazer algo. Vai mesmo me levar pra patinar?

Julian — Vou sim. Inclusive já está tudo certo pra isso. Mas antes de irmos patinar, vou te levar em outro lugar. Não vou te contar onde, porque vai ser surpresa. Mas tenho a sensação de que você vai gostar muito.

Abigail — Estou ansiosa pra sábado, e com medo de algo dar errado.

Julian — Nada vai dar errado, Abby. Prometo que você vai ter a melhor noite da sua vida.

Não consegui conversar muito com Abigail, antes de ela precisar desligar o celular. Fiquei pensando no fato de que ela estava esperando uma ligação minha e que eu deveria mesmo ter ligado, em vez de deixá-la esperando. Voltei para dentro do café pensando que ligaria de volta pra ela assim que estivesse em casa.

Quando estava me aproximando da mesa, vi as duas garotas que estava servindo nosso café, conversando de forma animada com Victor e Millie. Havia um motivo para que nós três frequentássemos o café dos Hollis, assim como a maioria dos estudantes da universidade. Todos sabiam que o café era gerido por uma família mais do que peculiar, que se dava bem com absolutamente todo mundo.

O casal dono do café era famoso por adotar várias crianças. Atualmente eles tem 5 filhos adotados e, pelo que sabemos, estão na fila para adotar mais um. Mas diferente da maioria das pessoas que adota bebês, os Hollis não se importavam com a idade. Conhecíamos os cinco filhos deles, porque todos eles ajudavam no café e faziam amizade com todo mundo que passava por aquela porta.

—Bom dia, garotas. —Falei, assim que me aproximei da mesa, vendo Jasmine e Mavie Hollis olharem pra mim e sorrirem, antes de murmurarem juntas um "bom dia" ainda mais animado do que a conversa que eles estavam tendo antes de eu chegar.

—Estávamos mesmo nos perguntando onde você estava, Julian. Já que esses dois nunca aparecem aqui sem você. —Mavie murmurou, gesticulando para Victor e Millie. —Não sei como você consegue ficar de vela por tanto tempo.

—Já estou mais do que acostumado. —Dei de ombros, arrancando uma risada de Mavie.

Ela era a filha mais velha dos Hollis e tinha sido a segunda a ser adotada por eles. Com pele negra e cachos tão perfeitos que com certeza davam inveja em muitas mulheres. Jasmine era a terceira mais velha, tendo a mesma idade que eu. Diferente de Mavie, ela tinha pele clara e cabelos castanhos cortados na altura do queixo, muito lisos.

—Quem sabe você não arruma uma namorada em breve. —Victor comentou, como quem não queria nada. Sabia que ele e Millie estavam imaginando que eu e Abigail fôssemos nos envolver em algum momento. Mas não era por isso que eu estava a ajudando. Estava fazendo tudo isso porque ela merecia sair e não viver presa em uma casa.

—Quem? —Jasmine indagou, arregalando os olhos na minha direção, como se fosse adorar saber de uma fofoca nova. —Você conheceu alguém? Conta, conta, conta!

—Não, não tem ninguém. —Afirmei, lançando um olhar afiado na direção do meu melhor amigo, que apenas soltou uma risada e olhou para Millie como se eles estivesse confabulando pelas minhas costas. —Victor só está falando isso porque ele gosta de implicar comigo. Eu não tenho ninguém.

—Mas deveria. —Mavie tocou meu ombro, me lançando um olhar caloroso que fez minhas bochechas esquentarem.

Ela era muito bonita e já tinha flertado comigo uma vez ou outra. Tínhamos saído juntos uma vez depois que terminei meu namoro, mas não senti nada além de amizade por ela, então nunca fomos em frente com qualquer outra coisa além disso. Mas ainda sim, eu não conseguia não ficar sem graça perto dela.

—Vocês sabiam que estudos dizem que se apaixonar tem o mesmo efeito no cérebro do que usar uma droga? —Jasmine indagou, fazendo nós quatro olharmos pra ela. Ela tinha um costume engraçado de falar bastante e, principalmente, falar coisas aleatórias. Mavie já nos disse que ela é fissurada por estudos e estatísticas de todas as coisas. —Eles dizem que uma série de neurotransmissores como adrenalina, dopamina, serotonina, oxitocina e são liberados no cérebro, causando o efeito de euforia que da aquele friozinho na barriga. Isso da o efeito de estar apaixonado e...

Parei de ouvir o que Jasmine dizia, mesmo quando meus amigos e a irmã dela ainda prestavam atenção nas suas pesquisas sobre o efeito do amor no corpo humano. Eu estava encarando aquele café ao redor, me perguntando como Abigail se sairia fazendo a mesma coisa que nos. Indo para as aulas. Vindo até esse café e conhecendo a família Hollis. Conhecendo nossos outros amigos.

Tenho a sensação que ela iria gostar tanto disso e ia se sentir em outro universo. E pensar que ela está trancada dentro de casa nesse momento, me faz odiar qualquer motivo que a mãe dela tenha pra deixá-la viver assim.


Continua...

Como conquistar Abigail Brooks / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora