Capítulo 8: Posso te fazer uma pergunta, Abby?

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Assim que terminamos de comer, pegamos nossas coisas e saímos do restaurante. Victor iria deixar Millie no prédio onde ela tinha aula, antes de ir pra casa, já que sua tarde era livre. Eu precisava passar a tarde ouvindo meus professores falarem sem parar, mas duvidava que ia conseguir pensar em outra coisa a não ser no meu encontro com Abigail mais cedo.

—A gente se vê em casa a noite? —Millie indagou, enquanto parávamos na calçada, onde eu iria pra um lado e eles para outro.

Assenti com a cabeça, antes de fazer uma careta quando vi quem estava saindo do restaurante atrás de nós, que eu sequer havia notado que estava lá. Davine estava usando o moletom da turma de administração, segurando a mochila em um ombro só, enquanto conversava com uma de suas amigas. Ela parou assim que me viu, com os olhos se iluminando como duas árvores de Natal.

—Ei, Julian. —Ela abriu um sorriso que parecia realmente significar que estava feliz em me ver. Mas eu duvidava muito disso.

Comprimi os lábios quando ela se afastou da amiga e veio na minha direção, fazendo Victor e Millie pararem também, porque eles já tinham começado a se afastar. Fiquei feliz por isso, porque realmente não queria ficar sozinho com ela, mesmo que fosse no meio da rua. Tinha gostado de Davine de verdade, mas no final cheguei a conclusão que tudo que eu pensava sobre ela tinha sido uma ilusão da minha cabeça. Eu queria alguém perfeito que se importava comigo de verdade. Mas ela não era nenhuma dessas coisas.

—Eu estava querendo falar com você. Te chamei ontem, mas acho que você não ouviu... —Ela abriu um sorriso nervoso ao acenar para Victor e Millie, que estavam olhando pra ela como se julgassem até a quinta geração da sua família.

—Eu ouvi, eu só não queria falar com você. —Rebati, vendo-a abrir os lábios, mas não dizer nada, como se minha frase fosse um tapa no seu rosto. —Podemos apenas fingir que não nos conhecemos? Ficaria muito grato se você fizesse esse esforço por mim.

—Mas... —Davine pareceu sem jeito, olhando de relance para meus amigos antes de voltar a me encarar. —Eu só queria conversar, Julian. Só... só uma conversa. Podemos sair pra tomar um café ou...

Talvez se fosse em outra época eu teria rido daquilo. Quando Davine me chamou pra sair a primeira vez eu fiquei absolutamente feliz, porque alguém finalmente tinha olhado pra mim. Eu a achava incrível e tudo que eu queria era um pouco da sua atenção. Mas agora, tudo que eu queria é fingir que tudo isso nunca aconteceu.

—A gente já conversou, Davine. Conversou quando a gente terminou e conversou quando você saiu do casarão. —Afirmei, dando um passo para trás, pronto pra ir embora dali. —Agora não tem mais nada pra gente falar.

—Julian... —Ela tentou me segurar quando virei as costas, vendo Victor revirar os olhos e Millie balançar a cabeça negativamente, como se estivesse incrédula.

—Faz 8 meses, minha filha. Vai viver. —Victor exclamou, fazendo Davine se virar pra ele furiosa.

Mas eu já estava me afastando e eles também, ignorando completamente minha ex namorada, que ficou parada na calçada como uma estátua. Balancei a cabeça negativamente quando cheguei até minha moto, me sentindo um idiota completo naquele momento. Não sei o que Davine tinha visto em mim, mas com certeza não era uma coisa boa pro final que tivemos.

[...]

A semana passou em um piscar de olhos. Tentei me manter concentrado no que precisava fazer, mas não consegui parar de pensar em Abigail e em como a vida dela soava estranha e solitária. Queria descobrir tudo sobre ela, porque estava incrivelmente curioso, como se aquele pequeno contato entre nós dois fosse o suficiente pra ganhar minha total atenção.

Abigail não me enviou qualquer e-mail, mesmo quando eu a mandei um, confirmando minha ida na casa dela na sexta depois do almoço. Não sabia o que aquilo significava, mas subi na minha moto e parti pra casa dela. O dia estava incrivelmente frio, me obrigando a vestir várias camadas de roupa e colocar uma touca na cabeça, por conta do vento frio que batia contra mim quando eu estava dirigindo a moto.

Não precisei tocar o interfone dessa vez, me fazendo perceber que provavelmente havia uma câmera no portão. Estacionei no mesmo lugar do outro dia, antes de descer e olhar diretamente para a varanda onde Abigail estava da outra vez. Só que hoje, não havia qualquer sinal dela, o que me fez comprimir os lábios e hesitar, antes de caminhar em direção a entrada da casa.

As duas portas enormes da entrada foram abertas pelo segurança que aguardava ali, que me lançou um olhar demorado e afiado, que me fez encolher no mesmo instante. Ajeitei a touca na minha cabeça para disfarçar o nervosismo e a ansiedade, dando de cara com a governanta quando entrei no pequeno corredor que dava para a sala.

—A Srta. Brooks está aguardando na biblioteca. —A governanta manteve as mãos atrás das costas, enquanto me olhava seriamente. —Fui instruída a lembrá-lo dos motivos de estar aqui. O senhor veio por conta de um trabalho da universidade. Termine-o e vá embora. A Srta. Brooks não manterá qualquer contato com o senhor depois disso, assim como não deve ser incomodada com qualquer outro assunto que não seja sobre o trabalho.

—O que... —Abri a boca para falar, mas ela ergueu uma das sobrancelhas como um aviso, enquanto o choque daquelas palavras viajavam por todo meu corpo.

Ainda estava tentando me recuperar daquilo e entender o que diabos havia acontecido ali, quando ela se virou e indicou as escadas que davam para o segundo andar, deixando claro que me guiaria até a biblioteca. A segui em silêncio, porque meu coração estava martelando na minha garganta, enquanto a confusão e a estranheza tomavam conta dos meus pensarmos.

Soltei uma respiração pesada quando ela bateu na porta da biblioteca e então a abriu, olhando pra mim como se aguardasse eu entrar. Tentei não fazer uma careta para a expressão séria dela, como se estivesse me ameaçando silenciosamente. Aquilo só me deu mais certeza de que havia uma coisa muito errada acontecendo naquela casa.

—Julian? —Abigail abriu um sorriso adorável quando entrei na biblioteca, o que fez meu rosto esquentar consideravelmente, porque ela parecia feliz por me ver de novo.

—Oii. —Sorri de volta pra ela, olhando de relance pra governanta quando ela fechou a porta e desapareceu, me fazendo soltar um suspiro aliviado, enquanto a tensão deixava meus ombros.

—Tudo bem? —Abigail se sentou, folheando seu livro já aberto, enquanto eu me aproximava e tirava a mochila. —Eu fiz algumas pesquisas e marquei algumas coisas no meu livro, que eu acho que podem ser importantes para o trabalho. Posso mostrar a você antes de começarmos?

—Claro. —Falei, erguendo a mão para esfregar minha nuca, enquanto permanecia olhando para Abigail, vendo seus ombros rígidos e a linha fina que tomava seus lábios, como se ela estivesse tensa. —Sua mãe não deixou que você fosse na minha casa?

—Oh, não. —Ela balançou a cabeça negativamente ao mesmo tempo que me respondia, comprimindo os lábios de leve. —Não fazia sentido eu sair, se você pode vir até aqui.

Parei no meio do movimento de me sentar, encarando Abigail por tempo o suficiente para fazê-la erguer os olhos até meu rosto. Não havia nada além de curiosidade e hesitação naqueles olhos claros, como se ela quisesse saber tudo, mas tivesse medo de perguntar.

—Posso te fazer uma pergunta, Abby? —Indaguei, vendo as bochechas dela ganharem uma coloração avermelhada ao me ouvir chamá-la daquela forma. Mas ela balançou a cabeça que sim, me fazendo umedecer os lábios com a língua enquanto tomava coragem. —Você se sente feliz vivendo em uma casa onde você não pode sair e fazer absolutamente nada?


Continua...

Como conquistar Abigail Brooks / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora