Capítulo 14: Vou tirar você daqui.

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Julian Patton

Abigail se levantou do chão, correndo para puxar o lençol de volta. Me apressei em ajudá-la, deixando o tecido todo embolado entre as travas da varanda, antes de Abigail segurar meu braço e me puxar para dentro. A luz do quarto estava apagada e a pouca luminosidade vinha de um abajur ao lado da cama. Mas eu podia observar as cores claras do quarto, além da decoração bonita, como o quarto de uma princesa.

Abigail não disse nada quando fechou as portas da varanda, parecendo visivelmente nervosa e constrangida. Desde que ela me ligou, tentei pensar em todos os motivos possíveis pra isso. Fiquei o restante do dia todo preocupado, até finalmente chegar aqui e vê-la aparecer na varanda, o que me deixou tão aliviado, que sequer consigo descrever.

—Como você conseguiu entrar? —Abigail indagou, se virando pra me encarar, enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha.

Das duas vezes que a vi, estava com uma trança. Mas hoje eles estavam soltos, caindo volumosos sobre seus ombros. Uma cachoeira de cabelos castanhos em uma mistura de cacheado com ondulado. Combinavam com ela, assim como os olhos claros que pareciam o céu azul infinito.

—Deixei minha moto na floresta e vim andando, até um lugar que me permitiu pular o muro. —Expliquei, lembrando do tombo que levei quando fui escalar uma árvore para pular o muro e o galho se quebrou. Não me machuquei, mas foi um pouco vergonhoso, o que me fez agradecer por estar sozinho. —Os seguranças não me viram. —Abigail assentiu, sem sair do lugar, me encarando como se estivesse sem jeito. —Você está bem, Abby?

—Bem, acho que sim. —Ela riu. Uma risada fraca e sem qualquer animação, enquanto caminhava até a cama, passando ao meu lado. Me virei para observá-la subir na cama, se sentando com as pernas cruzadas e com a cabeça baixa. —Acho que você já percebeu que estava certo sobre o que disse.

—Certo sobre o que, especificamente? —Indaguei, apertando meus dedos uns nos outros, porque não tinha certeza do que falei e do que Abigail entendeu.

—Ela nunca vai me deixar sair. Mesmo que eu queira, ela jamais vai deixar. —Sussurrou, erguendo o rosto corado para me encarar, enquanto os olhos pareciam tristes e apagados. —Não sei qual o problema verdadeiro. Sinto que ela está me escondendo alguma coisa. Eu só sei que não importa o quanto eu peça, ela nunca vai me deixar sair. Sinto como se... sinto como se eu fosse mesmo uma prisioneira, Julian.

—Você pediu pra sair, não é? —Indaguei, vendo-a balançar a cabeça que sim, desviando os olhos de mim para suas mãos, que estavam no seu colo.

—Ela brigou comigo e repetiu a mesma coisa de sempre. —Suspirou, erguendo a mão para esfregar as bochechas, como se estivesse com vontade de chorar, mas não quisesse fazer isso na minha frente. —Desculpa por ligar pra você e faze-lo vir até aqui. Sei que não tem nada a ver com isso, além de ter tentado me fazer ver o óbvio.

Tomei coragem e caminhei até me sentar na ponta da cama, o que fez Abigail voltar a olhar pra mim. Abri o maior sorriso que conseguia, porque por dentro eu estava encontrando os piores nomes e xingamentos ao pensar na mãe dela. Mas Abigail não precisava de mais problemas em cima dela. Não quando ela já parecia perdida o suficiente.

—Eu não queria estar certo sobre isso, Abby. Juro pra você que não queria. E você ter me ligado porque eu estava certo, não me deixa feliz. —Umedeci os lábios com a língua, vendo-a brincar com os próprios dedos em um ato de nervosismo. —O que você quer fazer?

—Eu não sei. —Ela se deitou na cama, encarando o teto com os olhos sem qualquer brilho. —Eu só queria entender o porquê das coisas serem assim.

—Tudo bem, então... —Me deitei na cama também, ficando na posição oposta a de Abigail, mas nossas cabeças estavam na mesma linha da cama, permitindo que ela virasse o rosto e encarasse minha expressão pensativa. —O que sua mãe disse pra você, como motivo de não deixá-la sair?

Abigail hesitou um pouco, como se não soubesse se deveria mesmo me contar. Não me ofendi com isso e apenas esperei, encarando o teto enquanto sentia ela observar meu rosto. Minhas bochechas esquentaram em algum momento, porque não estava acostumado a ter uma garota me olhando da mesma forma que ela olhava.

Mas Abigail desviou os olhos e ficou encarando o teto como eu, antes de me contar as coisas que sua mãe costumava usar como desculpa. Fiquei com uma careta quase o tempo todo, porque a forma como ela falava não soava nem um pouco normal ou saudável. Quando Abigail terminou de falar eu fiquei em silêncio, pensando em tudo que eu tinha ouvido.

—O que você acha? —Abigail sussurrou, parecendo com medo da minha resposta. —Sabe, tenho a sensação de que ela está me escondendo do meu pai. Não quero pensar que minha mãe é uma mentirosa, mas tudo isso é tão estranho e ela nem mesmo fala dele.

—E o que quer fazer? —Questionei, finalmente girando o rosto pra olhar pra ela. —Quer procurar o seu pai e falar com ele pra tirar a prova?

—E se eu fizer isso e ele realmente ter ido embora por não me querer? —Indagou, girando o rosto para olhar pra mim também, os olhos parecendo maiores naquele momento, como se Abigail estivesse assustada.

—Ai a gente da um pé na bunda dele e o enfiamos no poço do esquecimento. —Afirmei, vendo os lábios de Abigail tremerem e sua expressão ficar surpresa, antes de ela explodir em uma risada adorável. Não consegui conter o sorriso ao ver as bochechas dela ficarem vermelhas com isso, a deixando ainda mais bonita. —Sabe, já fiz isso antes com o Victor. Procurar o pai de alguém, quero dizer. No final o cara era super legal.

—Quem é Victor? —Questionou, parecendo curiosa agora, enquanto nós dois continuávamos nos encarando. Minha respiração ficando mais lenta à medida que a calmaria tomava conta do quarto.

—Meu melhor amigo. Ele é programador e hacker. Pode encontrar seu pai se quiser. —Falei, sentindo o calor se concentrando no meu peito, com meu coração martelando na minha cabeça quando não consegui parar de olhar pra Abigail e absorver todos os detalhes do seu rosto.

—Era ele que estava com você de manhã quando eu o liguei? —A pergunta veio mais baixa, como se ela não soubesse se podia ou não perguntar aquilo.

—Sim, ele, Millie e o Briar. Millie é minha melhor amiga e namorada do Victor. Foi o pai dela que Victor e eu procuramos. Briar é... —Fiz uma careta, porque nesses cinco dias que estou convivendo com Briar, ainda não consigo saber o que pensar dele. —Nós quatro moramos juntos, perto da universidade.

Abigail balançou a cabeça, enquanto parecia processar todas aquelas informações sobre mim. O brilho que havia aparecido nos seus olhos desapareceu depois de alguns segundos. Ergui a mão e toquei a testa dela, já que estávamos deitados em direções opostas. Abigail pareceu surpresa, mas não se afastou quando deslizei o dedo até seus cabelos, tocando os fios macios.

—O que foi? —Indaguei, tentando pensar em várias formas de ajudá-la.

—Quero sair daqui. —Sussurrou, como se estivesse com medo de dizer aquilo em voz alta. —Quero sair daqui, Julian, nem que seja por meia hora.

—Tudo bem. —Engoli lentamente, sentindo uma corrente de eletricidade e calor passar pelo meu corpo quando Abigail ergueu a mão e tocou meus cabelos também, de uma forma que me deixou arrepiado. —Vou tirar você daqui. Mas sua mãe não pode sequer imaginar isso, está bem? Ou nós dois vamos estar ferrados.



Continua...

Como conquistar Abigail Brooks / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora