Capítulo 40: Ciúmes?

1.1K 216 55
                                    

Desci as escadas e encontrei Victor e Nicholas parados no meio da sala, observando Millie, Ella e Abigail conversando baixinho no sofá, como se tivéssemos contando algum segredo que não poderíamos saber. Parei entre os dois, sentindo um peso enorme nos meus ombros, porque não conseguia entender porque Abigail estava me tratando com tanta indiferença.

—Sua cara de bunda é engraçada. —Victor murmurou, me fazendo exibir uma careta pra ele, antes de soltar um suspiro pesado. —Vocês dois conversaram? Ela disse o que há de errado?

—Não, ela disse que quer ir pra casa conversar com a mãe dela. —Contei, vendo Victor e Nicholas girarem a cabeça para olhar pra mim, como se estivessem surpresos com aquilo tanto quanto eu. —Não sei o que está acontecendo. As coisas estavam super bem entre nós e então do nada ela simplesmente ergueu uma parede entre nós dois.

—Bom, mas o que quer que tenha sido, é especificamente sobre você, porque ela está tratando o restante de nós igualmente. —Nicholas afirmou, enquanto Victor erguia a mão para esfregar o queixo, parecendo pensativo. —Se você fez alguma coisa, ela não vai contar, vai deixar você descobrir sozinho.

—Mas eu não fiz nada! —Retruquei, bufando em frustração, fazendo os dois rirem. Nicholas ergueu a mão em rendição e foi em direção as escadas. —Aonde você vai?

—Alguém nessa casa precisa trabalhar, né? —Murmurou, e eu acabei rindo quando Victor ergueu a mão e mostrou o dedo do meio pra ele como forma de protesto a sua provocação. —Leve-a pra casa se ela quiser. Não vai querer agir como a mãe dela.

—Eu nunca faria isso. —Afirmei, tentando não soar ofendido com a frase de Nicholas. Sabia que ele só estava tentando me ajudar. Se Abigail queria mesmo falar com a mãe dela, eu deveria apenas a apoiar.

As três ficaram conversando por um tempão, antes de eu e Victor trocarmos um olhar demorado e caminharmos até o sofá onde as três estavam. Na mesma hora elas ficaram em silêncio, deixando claro que não podíamos saber do assunto que elas estavam sussurrando tanto. Victor foi se sentar ao lado de Millie, enquanto eu afundava na poltrona mais distante. Abigail ainda estava evitando olhar pra mim, mas agora tinha as bochechas vermelhas como se estivesse envergonhada.

—Do que vocês estavam falando? —Victor indagou, fazendo as três trocarem um olhar demorado, antes de Abigail morder o lábio e abaixar a cabeça, ainda mais vermelha. Aquilo fez a curiosidade martelar na minha mente, porque queria muito saber o que estava passando pela cabeça dela.

—Coisas de mulher que não são da conta da sua bunda curiosa. —Ella afirmou, cutucando o irmão nas costelas com o dedo. —Abigail quer ir pra casa, então eu vou pegar o carro e levá-la. Vocês três deveriam estar indo pra aula uma hora dessas.

—Minha aula só começa mais tarde. —Millie protestou, choramingando quando Victor ficou de pé e a puxou junto, deixando claro que estava na hora de irmos.

[...]

Parei no jardim, observando Ella entrar na garagem e tirar o carro, enquanto Abigail se despedia de Victor e Millie na entrada da casa. O desconforto dentro de mim era quase palpável, porque ainda estava tentando entender o que diabos tinha acontecido para chegarmos naquele ponto.

Abigail finalmente se aproximou de mim, depois de ter passado a última hora me ignorando por completo. Mesmo que as vezes eu a pegasse olhando pra mim, ela logo desviava os olhos e não me dirigia uma única palavra. Não lembro de quando uma situação me incomodou tanto quanto essa. Porque eu só queria ficar perto dela, mas parece que o universo me odeia muito.

—Desculpa por tudo isso que aconteceu. Sei que transformei sua vida em um caos. —Abigail sussurrou, parando na minha frente, enquanto olhava para a rua, parecendo com vergonha, já que suas bochechas estavam coradas e seus lábios tremiam. —E obrigada por tudo.

—Isso parece uma despedida. —Soltei, erguendo a mão para ajeitar o gorro na minha cabeça. Aquele gorro que eu havia dado para Abigail e ela me devolveu mais cedo. —A gente não vai mais se ver?

—É claro que vamos. Isso não é uma despedida. Não vou deixar minha mãe me prender mais em casa, Julian. Vou começar a ir nas aulas da universidade, na verdade. Porque era uma coisa que eu sempre quis. —Afirmou, enquanto eu comprimia meus lábios e balançava a cabeça, observando o rosto de Abigail, querendo puxa-la mais para perto. —E se ela surtar e não deixar...

—Você pode contar comigo. —Falei, não aguentando mais aquela distância. Tirei as mãos do bolso e toquei o rosto de Abigail, fazendo-a erguer o rosto e olhar pra mim. —Se precisar de qualquer coisa, não quero que hesite em me pedir. Sou seu amigo, Abby. Seu melhor amigo.

—Meu melhor amigo. —Ela repetiu, umedecendo os lábios com a língua, enquanto os olhos encaravam os meus, com uma faísca de algo carregado passando por eles.

—Sim, e isso significa que se você sumir, vou escalar a torre pra te salvar de novo. —Afirmei, sentindo meu coração quase derreter dentro do peito quando um sorriso surgiu nos lábios de Abigail. O primeiro sorriso que ela me dava no dia, mas que seria suficiente para me deixar feliz. —Se ela não quiser te contar nada...

—Eu posso ir pra sua casa? —Indagou, sabendo perfeitamente o que eu iria dizer naquele momento. Abigail sorriu, antes de ficar subitamente séria. —Não sei o que pensar sobre isso. Ela é minha mãe, ao mesmo tempo que eu sei que não é. Eu só queria... eu só queria entender o que está acontecendo, Julian. Parece que não pertenço a lugar nenhum. Tudo isso é tão novo pra mim.

Soltei um suspiro pesado, porque não conseguia imaginar como Abigail se sentia. Ela tinha passado todo aquele tempo em casa, sem contato nenhum com ninguém além da própria mãe. Mas agora ela estava ali, vendo tudo com os próprios olhos, sabendo que nem tudo na sua vida era verdade.

—Só promete que vai me procurar se precisar. —Falei, dando um passo hesitante na direção de Abigail, sem saber se tinha autorização para abraçá-la ou não.

—Eu prometo. —Ela balançou a cabeça que sim, me encarando com a respiração um pouco desregular, como se estivesse muito nervosa. As bochechas se tornando mais vermelhas. —Você não fez nada de errado, tá? Eu só estava com ciúmes.

—Ciúmes? —Fiz uma careta quando ela me deu as costas, se afastando até o carro onde Ella esperava. Abigail parecia achar que aquilo era explicação suficiente. Mas não era, porque só serviu para me deixar ainda mais perdido.

Observei ela hesitar com a mão na porta do carro, ficando um segundo parada ali, antes de se virar e caminhar na minha direção de novo. Os olhos buscando os meus como se ela estivesse tão perdida quanto eu, enquanto o rosto exibia o tom mais adorável de vermelho em meio a uma respiração pesada, denunciando todo o nervosismo dela naquele momento.

Esperei por alguma explicação quando Abigail parou na minha frente. Mas ela me encarou por um segundo absolutamente longo, antes de ficar na ponta dos pés e segurar minha jaqueta. Meu coração explodiu dentro do peito quando ela me puxou e pressionou os lábios macios contra os meus. O choque daquilo arrepiando todos os meus pelos, fazendo meu corpo inteiro estremecer e um suspiro escapar pela minha boca.

A surpresa me paralisou na hora, enquanto Abigail se afastava e me encarava com hesitação. Os olhos arregalados como se ela não acreditasse no que tinha acabado de fazer e os lábios abertos em busca de ar. Demorei um segundo para reagir, sentindo meu coração disparar como fogos de artifício. Ergui a mão e envolvi a cintura dela, escutando Abigail soltar um barulho de surpresa com a boca, antes de eu pressionar meus lábios nos dela em um beijo de verdade.

Os lábios gelados me deixaram praticamente sem fôlego, arrancando um gemido do fundo da minha garganta quando ela retribuiu, derretendo nos meus braços quando aprofundei o beijo e a apertei mais contra meu corpo. O gosto dela tomando conta da minha boca, fazendo cada célula do meu corpo reagir aquilo como se eu estivesse queimando de dentro para fora.


Continua...

Como conquistar Abigail Brooks / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora