Capítulo 48: Estou preocupado com você.

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Julian Patton

Abigail ficou rígida ao meu lado, como se não estivesse pronta para falar sobre sua mãe. Levei minha mão até a dela por baixo da mesa, lhe lançando um olhar cauteloso, porque queria que ela soubesse que estava tudo bem. Não tinha me dado conta do quão estranho aquele jantar poderia estar sendo pra ela, no meio de tantas pessoas estranhas. Com nossos pais ali.

—Minha mãe é um pouco rígida. —Abigail abriu um sorriso falso. Talvez os outros não pudessem notar isso, mas depois de vê-la sorrir milhares de vezes pra mim, conseguia detectar quando seu sorriso era genuíno ou não. —Ainda preciso conversar com ela sobre isso.

Houve alguns segundos de silêncio, como se todos pudessem notar a tensão que emanava de Abigail.

—Bem, tenho certeza que ela vai mudar de ideia assim que vê-la sobre os patins. —Madelyn abriu um sorriso tão caloroso que era possível iluminar uma noite toda. —Eu também demorei a abrir os olhos para o talento de Millie com balé, mesmo que ela gostasse muito disso.

—Sinto falta de você nas minhas aulas. —Natalie murmurou para Millie, que logo a respondeu. Mas não prestei atenção, porque estava olhando para Abigail, vendo o quanto ela parecia retraída agora, com sua animação desaparecendo.

Apertei a mão dela, a fazendo erguer o rosto para me olhar. Ela sorriu de leve quando pisquei pra ela, desejando que aquele momento de desconforto passasse e ela voltasse a ficar feliz. A cada dia que passava, mais eu odiava sua mãe. A simples menção dela tinha o poder de sugar toda a luz de Abigail.

—Você não está com fome, Julian? Mal tocou na comida. —Natalie chamou minha atenção, fazendo uma careta ao olhar para o meu prato quase intocável. —Você costumava gostar bastante de tudo que eu cozinhava.

Victor se engasgou com o suco que estava bebendo do outro lado da mesa, enquanto Millie levava a mão aos lábios. Não tinha certeza se era pra esconder um sorriso ou um enrugar reprovador com os lábios. Só sei que precisei me ajeitar sobre a cadeira, abrindo o maior sorriso que conseguia para Natalie.

—A comida está muito boa. Eu só não estou com muita fome mesmo. —Afirmei, vendo Victor balançar a cabeça negativamente do outro lado, de uma forma muito sutil. Mas aquilo não passou despercebido por mim e muito menos para o meu pai, que estava me encarando com uma expressão neutra até demais.

O jantar se seguiu de uma forma amena e um pouco esquisita. No final da noite, os pais de Millie foram os primeiros a ir embora com ela. Victor e seus pais foram alguns minutos depois. Não deixei de notar meu pai conversando rapidamente com meu melhor amigo em um momento da despedida. Pelo olhar resignado que meu pai me lançou, sabia que estava com problemas.

Levei Abigail para o quarto para que ela pudesse se ajeitar. Esperei ela ir para o banho, sabendo que Natalie ainda estava na cozinha, então segui para o lado de fora da casa. Sabia que ele provavelmente estava me esperando. Se eu não aparecesse por conta própria, ele iria atrás de mim e não queria que Abigail escutasse nossa conversa.

Meu pai estava parado no meio do quintal, com os braços cruzados na frente do corpo, olhando para a casa na árvore. Caminhei até parar ao lado dele, ouvindo o suspiro pesado que escapou dos seus lábios quando percebeu minha presença. A ansiedade causava um nó desagradável no meu estômago.

—Por muito tempo eu achei que nós dois éramos muito solitários, sabia? Minha vida era resumida em trabalhar para manter a casa e cuidar de você. Não quero que entenda errado, porque não estou reclamando. Você sempre será a melhor coisa que fiz nesse mundo. Mas eu sabia que faltava alguma coisa, pra nós dois. —Ele passou a mão pelos cabelos, parecendo muito cansado naquele momento. —Você tinha a vida resumida a ir pra escola e estudar. Me dava muito orgulho, mas eu sabia que você tinha dificuldade de fazer amizades, por conta do bullyng.

Como conquistar Abigail Brooks / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora