Capítulo 34: Me sinto trocado.

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Julian Patton

Apertei a mão de Abigail ao ler a mensagem da mãe dela, me virando para observar sua reação. Primeiro ela ficou vermelha, como se estivesse constrangida com aquela situação. Mas depois seus lábios tremeram e ela ficou pálida, assim como os olhos ganharam um tom avermelhado, deixando claro que ela estava prestes a chorar.

—Como ela... sabe? —Indagou, quase se engasgando com as palavras, erguendo os olhos para me encarar. A expressão assustada e desesperada no seu rosto fez meu coração se apertar dentro do peito, como se estivesse sendo esmagado. —Julian...

—Eu não sei. Só se alguém da casa entrou no seu quarto e viu que você não estava mais lá. —Afirmei, tentando pensar em uma solução rápida para aquilo. Mas não havia absolutamente nada. —A não ser que sua mãe tenha voltado antes, com à intenção de te fazer uma surpresa e... você sabe.

—Abby, fica calma. Vai dar tudo certo. —Millie se levantou, dando a volta na mesa antes de abraçar Abigail por trás, porque ela havia deixado algumas lágrimas escaparem, manchando suas bochechas.

—Podemos pensar em alguma solução. Você não vai voltar a ficar presa naquela casa. —Victor completou, me lançando um olhar que deixava claro que estava do meu lado para o que der e vier.

—Vocês não entendem! —Abigail exclamou, escondendo o rosto entre as mãos.

Puxei ela pra perto de mim, o que fez Millie se afastar um pouco, me dando espaço para segurar o rosto de Abigail e fazê-la olhar pra mim. Meu coração quase se estilhaçou ao ver o estado que ela estava. Ninguém tinha o direito de fazê-la passar por isso. Ninguém tinha o direito de deixá-la se sentir assim. Nem mesmo Kristie, sendo sua mãe verdadeira ou não.

—Eles sabem que ela não é sua mãe. Sei que não pedi autorização pra contar, mas Victor ajudou a encontrar o Billy e achei que era justo ele saber, além de eu confiar nele e na Millie. —Afirmei, vendo os olhos de Abigail mergulhados no mais profundo desespero, como se ela estivesse com medo da mãe dela pela primeira vez. —Você não precisa voltar para aquela casa se não quiser.

—Estou te trazendo problemas. —Sussurrou, me fazendo soltar uma risada e balançar a cabeça negativamente.

—Isso não é um problema pra mim, Abby. Problema seria se você desejasse continuar vivendo daquele jeito com a sua mãe. Mas se você não quiser, eu não vou te levar de volta. —Afirmei, querendo deixar as coisas o mais claras possíveis pra ela. —Ela pode vir com a polícia, com o FBI e quem mais quiser. Eu não me importo. Você só precisa me dizer o que você quer.

Abigail me puxou para perto, escondendo o rosto no meu peito. A abracei apertado, vendo a expressão preocupada de Victor e Millie, porque aquilo era uma bola de neve prestes a se tornar algo muito, muito maior e sem controle. Mas eu estava disposto a entrar no centro dela por Abigial.

—Não quero voltar pra casa, Julian. Não quero voltar para aquele lugar. Ela nem é minha mãe. Eu nem sei... eu nem sei quem ela é de verdade. —Abigail se agarrou em mim com mais força, como se eu fosse seu bote salva vidas. —Mas eu não quero te trazer problemas. Você não tem nada a ver com isso.

—Eu tenho tudo a ver com isso, porque foi eu que te tirei de lá. —Afirmei, beijando a testa de Abigial quando ela se afastou um pouco, com o corpo tremendo em alguns soluços. —E se você não quer voltar, eu não vou te levar de volta.

—Mas o que eu vou fazer então? —Indagou, escondendo o rosto entre as mãos de novo, como se estivesse constrangida por estar chorando daquele jeito na nossa frente. —Eu não tenho absolutamente nada, Julian. Não tenho ninguém e...

—Isso não é verdade. —Foi Victor quem a cortou, soltando uma risadinha baixa, que fez Abigial erguer a cabeça para olhá-lo. —Você tem a gente. Somos seus amigos, Abby. E ajudamos uns aos outros, independente do que seja.

[...]

—Você sabe que essa não é mais sua casa, né? —Ouvi a voz de Yuri atrás de mim, me fazendo virar e ver que ele estava falando com Bryan, que estava abrindo a geladeira do casarão e roubando um pedaço de torta que Millie havia comprado mais cedo.

—Na verdade, não. É a casa dos meus amigos, então é a minha casa também. —Bryan afirmou, indo se sentar na ilha da cozinha. —Além do mais, é quase 5 horas da manhã, cara. Não estava esperando ser acordado tão cedo com um alerta vermelho.

Soltei uma risada, porque essa era a mensagem que enviávamos uns aos outros quando estávamos com problemas e precisávamos de ajuda. Victor havia mandado a todos eles, enquanto levávamos Abigial pra outro lugar, porque eu tinha certeza de que a mãe dela encontraria o meu endereço e viria mesmo procurar Abigail aqui. Mas eu tinha a leve sensação de que não envolveria a polícia nisso. Não por enquanto.

—Por que estamos aqui mesmo? —Yuri indagou, soando um pouco confuso ainda com as explicações que demos a todos eles. Ou talvez ele ainda estivesse processando o fato de que Abigail era praticamente uma prisioneira da própria mãe, ou o que quer que ela fosse.

—Ela vai vir procurar a Abby aqui. Então vamos fazer o que fazemos de melhor, atrapalhar. —Foi Steven quem respondeu,  acariciando o gato que estava no seu colo, olhando para todos nós como se nos julgasse internamente. —Onde está o outro cara que mora com vocês?

—O Briar? —Fiz uma careta e dei de ombros, porque não tinha o visto desde o beer pong com Abigail. Ele provavelmente ainda estava na festa. Ou na casa de alguma garota.

—Não acredito que vocês estão morando com esse cara. —Bryan murmurou, soando um tanto ofendido. —Eu era o atleta do grupo. Me sinto trocado. Por um jogador de hóquei ainda por cima.

—Ele ainda não é jogador de hóquei profissional. —Corrigi, vendo Bryan resmungar um "que diferença isso faz?", enquanto os outros reviravam os olhos com o drama dele.

Olhei para a janela da sala quando vi o carro de Victor entrando na garagem. Não sabia se ficava nervoso ou aliviado, porque estava tenso pra caramba desde que precisei me separar de Abigail. Não queria me separar dela nesse momento, mas eu era o alvo da sua mãe, então aquilo era necessário infelizmente.

Victor passou pela porta, parando no meio do corredor que separava a sala da cozinha. Sua expressão estava tranquila, enquanto eu estava uma pilha de nervosos, querendo saber como as coisas estavam. Não via a hora de pegar meu celular e poder ligar pra ela e saber como ela estava.

—Agora é só esperar a mãe dela aparecer. —Victor afirmou, erguendo as sobrancelhas se leve. —Se ela for aparecer.

—Ela vai. —Rebati, porque não tinha dúvidas quanto aquilo. —E a Abby?

—Ela vai ficar bem, cara. Relaxa um pouco. —Victor passou por mim, dando um tapinha no meu ombro, como se quisesse me dizer silenciosamente que tudo ia ficar bem. —Minha irmã não vai deixar nada acontecer com ela, sabe disso.


Continua...

Como conquistar Abigail Brooks / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora