Entrei no casarão, vendo que já era quase uma hora da manhã. O caminho até a casa de Abigail era longo, além de eu precisar percorrer uma parte da floresta que ficava entre a casa e o muro. Não consegui parar de pensar nela, me sentindo mal por precisar ir embora. Mas também não havia mais nada que eu pudesse fazer naquele momento.
Se não fosse tão tarde eu ligaria pra ela pra saber se estava tudo bem, mas eu tinha saído de lá a poucas horas e ela provavelmente foi dormir assim que eu deixei seu quarto. Agora eu tinha que pensar em como tirá-la de lá, porque não podíamos usar aquele lençol para pular sua varanda como fiz hoje, já que depois não teríamos como tirar ele de lá quando estivéssemos no chão.
Deixar vários lençóis amarrados pendurados na varanda de Abigail era como colocar uma placa enorme e brilhante escrito "eu fugi", para qualquer segurança que passasse por lá durante a noite. Então eu precisava de uma ideia boa e rápida. Tinha uma coisa me mente, pra falar a verde, mas não tinha certeza se era uma boa ideia. Envolver outras pessoas nisso poderia dar problemas.
Fiz uma careta, esfregando minha testa quando me senti mais frustrado do que qualquer outra coisa. Minha barriga roncou de fome, enquanto eu desejava um hambúrguer enorme e milhares de batatas fritas, que eu sabia que me ajudariam a pensar melhor quando eu estivesse de barriga cheia. Mas isso também ia atrapalhar todos os meus planos de perder mais alguns quilinhos.
—Puta merda! —Levei um susto quando encontrei Briar no sofá, comendo um pedaço de pizza, enquanto tinha um livro aberto na outra mão, com uma luz esquisita que iluminava as páginas, já que ele estava no escuro. —O que está fazendo aqui a essa hora?
—Te faço a mesma pergunta. Tava onde até essa hora? —Briar indagou, dando uma mordida na sua pizza, enquanto virava uma página com a outra mão.
Mas seus olhos estavam em mim, enquanto suas sobrancelhas se erguiam. Estava usando um óculos de grau preto, que eu havia o escutado explicar a Millie que usava apenas quando ia ler, porque tinha dificuldade de enxergar de perto. Observei o sorriso que se abriu nos lábios dele, como se ele tivesse pensando o que não deveria.
—Estava com uma garota, né, seu safado? —Exclamou, me fazendo encolher no lugar.
—Era uma amiga. —Soltei, muito rápido, sentindo minhas bochechas esquentarem. Por sorte as luzes estavam apagadas e Briar não podia notar isso, mas minha frase foi o suficiente para fazê-lo soltar uma risada. —O destruidor de corações aqui é você.
—Não posso fazer nada se sou absolutamente irresistível. —Briar sussurrou, soltando uma risadinha sarcástica quando eu fiz uma careta ao ouvir sua frase.
—O que está fazendo acordado? —Indaguei, caminhando até me sentar na poltrona ao lado do sofá, observando a caixa de pizza aberta. Estava com fome, mas não queria dar o braço a torcer.
—Estou nos capítulos finais do livro. Preciso saber o que vai acontecer. Não posso ir dormir agora. —Briar balançou o livro, com se aquilo fosse explicação suficiente. Já tinha visto Millie virar a noite por conta de um livro.
—E não pode deixar pra descobrir o que vai acontecer amanhã?
—Claro que não, Julian. Eu não preciso dormir, eu preciso de respostas. —Afirmou, me fazendo olhá-lo por um longo segundo, com as sobrancelhas erguidas e os lábios comprimidos. Briar revirou os olhos logo em seguida, como se estivesse incrédulo. —É de The Big Bang Theory, cara.
—Sei. —Foi tudo que eu disse, antes de me levantar e seguir em direção a escada, cansado, frustrado e com fome demais para continuar com aquela conversa esquisita.
—Ei, você está legal? —Briar indagou, me fazendo balançar a cabeça que sim e seguir pelos degraus até o corredor, onde parei subitamente, me dando conta de algo.
Desci as escadas de novo, encontrando Briar sentado do mesmo jeito que antes, com a atenção no livro de novo. Mas ele ergueu a cabeça assim que percebeu que eu havia voltado, me lançando um olhar confuso e questionador. Abri e fechei a boca várias vezes, pensando em como pedir algo a ele.
—Eu preciso de um favor seu. —Falei de uma vez, engolindo em seco e abrindo um sorriso constrangido, porque até o dia que Briar trouxe suas malas pra cá e tomou conta de um dos quartos, eu tinha certeza que não seríamos amigos e eu também não pediria nada a ele. Mas o mundo gira rápido demais.
—Pensei que não gostasse de mim. —Briar murmurou, me fazendo soltar um suspiro pesado e me aproximar do sofá onde ele estava.
—Odeio gente rica e odeio principalmente atletas. —Afirmei, vendo-o exibir uma careta. —Não é nada pessoal, eu só não tive boas experiências com pessoas assim.
—Seu melhor amigo é rico. —Briar sussurrou, como se tivesse me contando um segredo, o que me arrancou uma risada, antes de eu lhe lançar um olhar demorado. —Tudo bem, o que você quer?
—Seu pai é dono de alguns centros de patinação artística, certo? Sei que isso é um pedido um tanto esquisito, mas você não daria o jeito de eu conseguir usar um deles no próximo sábado à noite? —Indaguei, pressionando meus lábios quando terminei, vendo Briar piscar várias vezes seguidas, como se ainda tivesse tentando compreender o que eu disse. —A noite... meio que de madrugada.
—É por causa da garota de hoje? —Briar indagou, e eu balancei a cabeça afirmativamente, vendo-o parecer ainda mais confuso. —Por que diabos precisa levar ela lá de madrugada? O rinque de patinação fecha tarde da noite, cara.
—Eu sei, mas... —Balancei a cabeça negativamente, não ia espalhar a história de Abigail pra todo mundo. —É complicado de explicar. Pode fazer isso por mim ou não? Prometi a ela que ia levá-la para patinar.
—De madrugada? —Briar fez uma careta, torcendo os lábios em dúvida quando eu balancei a cabeça que sim. —Tudo bem, eu consigo. Mas você vai ficar me devendo uma, entendeu?
—Entendi. —Abri um sorriso enorme, quase pulando de alegria e dando soquinhos para o alto. Mas me contive, porque Briar estava me olhando, negando com a cabeça como se eu fosse louco. Talvez eu estivesse mesmo ficando louco.
Continua...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Como conquistar Abigail Brooks / Vol. 4
RomanceAbigail Brooks está muito longe de ser a Rapunzel, mas foi criada a sete chaves desde criança. Estudando desde a infância em casa e tendo todo o contado com o mundo vindo apenas de sua mãe, ela está mais do que ansiosa para descobrir o que existe al...