Capítulo 51: Times Square.

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—Você não tem um irmão, mas pensa pelo lado positivo. —Ella sorriu pra mim com tanto carinho que meu coração até errou algumas batidas. —Você ganhou vários amigos que gostam muito, muito de você.

Sorri pra ela, me sentindo sem jeito quando as outras concordaram com ela, sem nem mesmo hesitarem. Sabia que elas gostavam de mim, porque todas as suas ações eram muito genuínas comigo. Mas também sabia que precisava agradecer a Julian por isso, porque não teria feito tantas amizades sem ele.

—E ganhou o Julian. —Millie me lançou um olhar demorado que me fez rir e corar ao mesmo tempo, porque conseguia imaginar o que ela estava pensando. —Não vou dizer isso porque ele é meu melhor amigo, mas você ganhou na loteria com ele, sabe? Julian tem dificuldade de lidar com os próprios sentimentos em determinadas situações, mas ele é a pessoa mais leal que eu já conheci.

—Eu sei. —Balancei a cabeça, umedecendo os lábios com a língua enquanto pensava em todas as vezes que Julian havia me provado aquilo. —Eu gosto muito, muito dele. Concordo que eu tive muita sorte em poder conhecê-lo. —Abri um sorriso pequeno e um pouco constrangido, antes de dar de ombros e olhar pra elas. —Não tenho qualquer experiência com relacionamentos, então isso é um pouco assustador pra mim. As vezes não tenho certeza do que fazer e do que não fazer. De como agir ou... se não estou sentindo mais do que deveria.

—Abby, a gente não controla o que vai ou não sentir. Isso é algo completamente fora do nosso controle. —Yasmin afirmou, usando um tom de voz cauteloso. —E quando estamos gostando de alguém, é normal que no início tudo venha com uma intensidade muito maior. Não vou dizer que depois de algum tempo a intensidade dos sentimentos acabe, mas você aprende a lidar com eles, sabe? Você e Julian ainda estão se conhecendo melhor.

—Estão na fase da descoberta, onde tudo é novidade. Principalmente você. —Lina completou por Yasmin, me fazendo soltar um suspiro e assenti com a cabeça. —É normal ser um pouco assustador no início. Mas não é um assustador ruim, certo?

Balancei a cabeça negativamente na mesma hora, pensando no quanto eu gostava de passar meu tempo com Julian. Ele estava tomando conta de cada pensamento meu e isso não era nem um pouco ruim.

[...]

Já perdi as contas de quantas vezes Julian me levou para dar uma volta pela cidade na sua moto, durante a noite. Todas as vezes era sempre a mesma sensação maravilhosa de euforia, que deixava minha barriga repleta de borboletas. Eu não conseguia parar de sorrir ao observar as ruas iluminadas e as pessoas que caminhavam pelas calçadas.

Dessa vez Julian me levou até a Times Square, onde deixamos a moto de lado e caminhamos pela calçada de mãos dadas. Havia sempre uma sensação diferente quando eu saia com ele, como se estivesse conhecendo mais uma parte do mundo, de Julian e de mim mesma. Era incrível a capacidade que ele tinha de me fazer sorrir, como se essa fosse a única coisa que importasse pra ele no momento.

—É bem diferente do que eu imaginava quando aparecia na tv. —Comentei, escorando a bochecha no ombro de Julian enquanto tentava gravar cada detalhe daquele lugar.

Julian não disse nada, além de ficar incrivelmente imóvel. Não precisava de muito para saber o que ele estava pensando. Eu tinha nascido em Nova Iorque e com 20 anos ainda não tinha conhecido a Times Square, assim como outros pontos turísticos que as pessoas viajavam só para ver. Tinha perdido tanta coisa esses anos todos, que as vezes me sinto uma estranha na minha própria pele.

—Da próxima vez, você vai me levar até a estátua da liberdade. —Afirmei, cutucando o peito de Julian até que ele finalmente olhasse pra mim. Os olhos tão iluminados quanto aqueles telões espalhados pela Times Square. Mas diferente deles, os olhos de Julian só refletiam meu rosto, como se eu sempre fosse ser seu foco. —Por que você está tão quieto? Quer voltar pra casa?

—Só estou pensando longe. —Ele deu de ombros, inclinando o rosto para beijar minha bochecha, antes de se afastar para ajeitar o gorro sobre meus cabelos. O gorro dele, que eu nunca mais tinha devolvido desde que o peguei de volta na frente da casa de Ella, quando nós beijamos pela primeira vez.

A expressão dele estava mesmo distante, mesmo que eu sentisse que sua atenção era totalmente minha. Tinha a sensação de que sabia o motivo. Julian podia estar pensando em como minha mãe me tirou muitas coisas, mas também deveria estar pensando no que aconteceu mais cedo. Quando estávamos saindo da nossa última aula e passamos pelo seu armário, encontrando alguns posts-its colocados lá com piadas idiotas.

Julian não falou nada além de arrancá-los e jogá-los no lixo. Mas eu sabia que ele tinha ficado constrangido por eu ter visto aquilo, mesmo que fingisse que não. Ele tinha parado de pular refeições e estava se cuidando de verdade agora, como o pai dele havia pedido. Mas eu sabia que aquilo ainda o incomodava, porque o bullying não tinha parado. Esse era o problema das pessoas que praticam bullying. Elas não entendem a gravidade do que estão fazendo, até que um desastre finalmente aconteça como consequência.

—Não liga para o que os outros falam, Julian. Sei que é difícil, mas eles são apenas um bando de idiotas que não tem o que fazer da vida.

Julian engoliu em seco e balançou a cabeça positivamente, desviando os olhos de mim. Comprimi meus lábios e envolvi as mãos nas bochechas dele, o obrigando a olhar pra mim e ver o sorriso enorme que estava no meu rosto. Se as pessoas iriam encher sua cabeça de coisas ruim, então eu iria me esforçar para substituir todas elas por coisas boas.

—Você é lindo. Lindo por fora. Mas principalmente. —Coloquei minha mão sobre o peito dele, sentindo seu coração batendo tão rápido quanto o meu. Por um segundo pensei que eles batiam na mesma velocidade, em sincronia. —Você é lindo aqui. E eu sou apaixonada por cada parte de você.

—Abby... —Julian pareceu sem palavras e até mesmo sem fôlego, porque me encarou com uma expressão completamente surpresa.

Sorri ainda mais pra ele, ficando na ponta dos pés para pressionar nossos lábios. Julian soltou um suspiro pesado, passando os braços ao redor da minha cintura e me puxando ainda mais para si, enquanto abria os lábios para aprofundar nosso beijo. Meu coração disparou, enviando uma onda de eletricidade pelo meu corpo, como se Julian e eu fôssemos elementos químicos que reagiam a presença um do outro, causando uma explosão de sensações.

Julian me beijou até eu perder o fôlego, se afastando e deixando um rastro de beijos nos meus lábios e nas minhas bochechas. Ele suspirou, encostando a testa na minha, enquanto mantinha os olhos fechados. Ele parecia querer apenas apreciar aquele momento, então eu fiz o mesmo. O abracei com mais força e apenas senti a presença dele ali, tomando conta de cada parte minha.

Mas então eu senti uma sensação estranha. Um formigamento na pele que arrepiou todos os meus pelos e fez até mesmo meus ossos estremecerem. Julian se afastou de mim quando sentiu minha mudança, observando quando me virei e olhei ao redor. A rua lotada e iluminada parecia mais caótica naquele momento, com o movimento das pessoas aumentando.

—Abby, o que foi?

—Não sei. Eu só... —Fiz uma careta, levando a mão até meu peito quando senti meu coração apertado. Uma sensação ruim e desconfortável batendo com força contra mim. —Só tive uma sensação ruim.



Continua...

Como conquistar Abigail Brooks / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora