Capítulo 41: Você não tem amigos.

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Senti o calor se espalhar pelo meu corpo quando Abigail se segurou em mim e me beijou de volta com a mesma vontade que eu a beijava. Cada parte do meu corpo se arrepiando por completo, enquanto meu coração batia com tanta força que eu tinha certeza de que Abigail poderia ouvir.

Ergui a mão e deslizei até a nuca dela, segurando seu rosto com cuidado. O beijo que tinha começado um pouco afobado foi ficando calmo, como se nós dois estivéssemos com medo do outro não querer e agora entendêssemos o que ambos queríamos. Os lábios de Abigail eram perfeitos e mesmo que em alguns momentos ela não soubesse bem o que fazer, era absolutamente perfeito pra mim, porque eu sabia que era ela.

A beijei até ficarmos sem fôlego. Até eu ter certeza de que o perfume dela iria ficar impregnado em mim pelo restante do dia, assim como seu gosto na minha boca. Me afastei muito lentamente, porque não sabia quando iria ter aquilo de novo. Então deixei um selinho demorado nos lábios, abrindo os olhos para encontrar Abigail muito corada e ofegante, de um forma tão adorável que era impossível não sentir vontade de beija-la de novo.

Ela me encarou por um segundo inteiro, com os olhos praticamente brilhando. Abri um sorriso pra ela, sentindo minhas próprias bochechas esquentarem, porque sabia que meus amigos tinham presenciado aquilo. Mas não me importei com isso, porque qualquer provocação que viria valeria a pena depois de beijar Abigail.

Meu coração batia freneticamente no meu peito, causando uma sensação estranha na boca do meu estômago, como se ela estivesse cheia de borboletas. Eu estava sem palavras, porque não estava esperando beija-la naquele momento, depois de Abigail ter passado a manhã me ignorando. A observei soltar uma respiração trêmula e retribuir meu sorriso, antes de ficar seria de novo como se estivesse muito sem graça.

Parecia que nós dois tínhamos ficado sem palavras, o que era um pouco engraçado e constrangedor. Mas Abigail resolveu a situação, puxando aquele gorro na minha cabeça do nada, o que fez meus cabelos bagunçarem todos e caírem sobre minha testa. Ela abriu a boca para dizer algo, mas então a fechou de novo, enfiando aquele gorro na cabeça como se ele a pertencesse agora.

Não me surpreendi dessa vez quando ela se inclinou e me roubou um selinho, antes de virar as costas e ir para o carro. Dessa vez ela não hesitou ou se virou pra olhar pra mim, apenas entrou e fechou a porta, me deixando imóvel no meio da calçada, sem poder fazer nada enquanto ela ia embora.

Ainda estava me recuperando do beijo quando Victor e Millie pararam cada um de um lado meu. Millie passou as mãos ao redor do meu braço, escorando a cabeça no meu ombro, enquanto Victor dava alguns tapinhas nas minhas costas, como se tivesse muito orgulhoso de mim naquele momento.

—Isso foi surpreendentemente fofo. —Afirmou, me arrancando um suspiro de frustração, porque eu sabia que não iria demorar um segundo para as provocações surgirem. —Foi do nada, mas foi fofo.

Não respondi, porque a surpresa tinha passado e agora eu estava me sentindo um idiota por não ter dito nada. Por ter deixado-a ir embora sem dizer nada sobre aquele beijo. Tinha sido bom pra mim e eu esperava que tivesse sido pra ela também. E, principalmente, eu esperava que ela não sumisse da minha vida.

Abigail Brooks

Observei os portões se abrindo, pensando em todas as coisas que queria dizer para minha mãe, ao mesmo tempo que estava com medo do que ela iria dizer pra mim. Tinha passado a viagem toda repetindo a mim mesma que não podia deixá-la entrar na minha cabeça, decidir o que eu deveria fazer ou não. Eu não podia voltar a ser aquela Abigail que ficava presa dentro de casa. E eu tinha muito a agradecer a Julian por isso, porque foi ele quem abriu meus olhos.

Ella estacionou na frente da casa, tirando o cinto enquanto eu permanecia parada, sem fazer menção de descer. Minha mãe deveria estar me esperando lá dentro, pronta pra uma batalha que ela tem certeza de que vai vencer. Pra falar a verdade, não faço ideia de qual versão da minha mãe eu irei encontrar lá dentro.

—Vou ficar esperando aqui, ok? Não vou embora até que você apareça aqui pra me dizer que está tudo bem, ou pra ir embora comigo. —Ella afirmou, abrindo um sorriso tão gentil pra mim que meu coração quase se quebrou no meio.

—Obrigada. —Consegui dizer, sentindo um nó enorme se formar na minha garganta quando finalmente desci do carro, encarando as escadarias da entrada, onde a governanta aguardava com uma expressão séria. Tinha certeza de que seria muito mais fácil pra mim enfrentar aquilo se Julian estivesse ali. Mas também seria muito pior, porque minha mãe deve odia-lo.

Segui em direção a casa, contando os passos até subir as escadas e passar pela governanta sem olhar pra ela. Ela não era importante de fato. A única com quem eu queria conversar era minha mãe. Eu queria respostas e queria entender toda minha vida, que agora parecia uma folha em branco. Não precisei ir muito longe, porque ela estava de pé no meio da sala, me esperando.

—Onde você estava? —Indagou, a voz soando mais controlada do que eu estava esperando. Tirei minha mochila das costas e coloquei sobre a poltrona, me preparando mentalmente para aquilo.

—Com alguns amigos.

—Você não tem amigos. —Retrucou, me fazendo sentir aquelas palavras como um soco no meu estômago, que se revirou e fez um gosto amargo subir para a minha boca.

—Agora eu tenho. —Falei, vendo-a soltar uma risada descrente, como se eu estivesse contando uma piada tão idiota naquele momento. Como se fosse impossível alguém como eu fazer amigos. Talvez fosse isso que minha mãe sempre quis. Me impedir de ter amigos para que meu mundo girasse ao redor dela.

—Não, você não tem! —Ela se aproximou de mim, parando na minha frente com uma expressão furiosa. —Você está se referindo aquele rapaz? Pois ele não é seu amigo, Abigail. Você nem mesmo conhece ele direito. O viu duas vezes e decidiu que ele era confiável o suficiente para você fugir de casa com ele? Por favor, eu não criei uma filha tão burra assim.

—Burra não, talvez apenas um pouco cega. —Afirmei, observando as sobrancelhas dela se erguerem em surpresa, como se ela não esperasse que eu a respondesse de forma firme. —E eu o conheço mais do que conheço você, mãe.

Ela soltou uma gargalhada, fazendo meu coração afundar em mais puro gelo. Olhando pra ela, não conseguia entender como deixei que ela me influenciasse por tanto tempo.

—Como você ficou sabendo? Você voltou mais cedo pra casa? —Indaguei, vendo-a me lançar um olhar afiado, antes de atravessar a sala até a mesa de centro, onde pegou um jornal e praticamente o jogou pra mim.

—Eu estava jantando quando vi isso. Desmarquei todos os meus compromissos e voltei pra casa na mesma hora. —Afirmou, enquanto eu observava uma página inteira do jornal dedicada às apresentações que tiveram no teatro naquela primeira noite que eu saí. Entre elas, a foto que eu havia tirado com Julian e os outros. —Não foi uma surpresa tão grande assim quando cheguei e não a encontrei em casa.

Soltei um suspiro pesado, deixando o jornal de lado, sentindo vontade de me enfiar em um buraco e desaparecer. Tudo parecia ter virado de cabeça para baixo muito rápido, me levando para o meio de uma história muito caótica e confusa.

—Você me proibiu de sair. Você me manteve presa dentro dessa casa, quando tudo que eu queria era sair. Você estava me sufocando, mãe! —Afirmei, vendo que dessa vez foram minhas palavras que a atingiram como um soco no estômago, porque sua expressão de raiva desmoronou um pouco. —É claro que eu fugi no meio da noite. Se eu não fizesse isso você jamais me deixaria sair daqui.

—Eu só estou tentando proteger você! —Exclamou, como se aquela fosse uma justificativa boa o suficiente. —Eu sou sua mãe. Eu só quero o seu bem, você não entende isso?

—Você nem é minha mãe de verdade! —Explodi, sentindo meu coração disparar quando aquelas palavras foram absorvidas por ela, que deu um passo vacilante para trás, parecendo assustada.


Continua...

Como conquistar Abigail Brooks / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora