Capítulo 5: Você não costuma sair?

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Não vi minha mãe no café da manhã, porque ela realmente saiu cedo demais. Também não desci para comer, porque a ansiedade me deixava com o estômago estranho, a ponto de eu não sentir um pingo de fome, mesmo que a governanta tivesse batido na minha porta várias vezes, pedindo para que eu descesse.

Observei as horas passarem pelo relógio na cabeceira da cama, enquanto olhava para as cortinas abertas da varanda, que revelavam o céu clareando aos poucos à medida que o sol nascia. Me arrumei quando percebi que estava quase na hora, me sentando na frente do espelho e trançando meus cabelos. Eles eram longos, de um tom escuro que não parecia nem preto e muito menos castanho, mas uma mistura deles.

Foi enquanto arrumava minha cama que ouvi o som de alguma coisa se aproximando. Corri na mesma hora para a varanda, observando a moto cruzar a estrada até a lateral da casa, onde estacionou. Minha barriga estava gelada, mas o calor se espalhava pelo meu corpo, enquanto eu o via descer da moto com pressa, tirando o capacete para olhar ao redor, como se estivesse deslumbrado com o visual ao redor.

Os cabelos dele eram loiros como os da minha mãe, mas com um tom mais escuro que os dela e estavam bagunçados em várias posições diferentes, por conta do vento que batia contra o rosto dele. Ele não parecia ser muito mais velho que eu, mas eu duvidava da minha capacidade de chutar a idade de alguém tão jovem, quando estou sempre cercada de pessoas muito mais velhas que eu.

Apertei meus dedos uns nos outros quando ele se virou, a testa franzida ao encarar a casa, com algo como surpresa nos olhos. Mas então ele me viu, a expressão se suavizando, mas a surpresa permanecendo nos olhos. Senti o calor se concentrar nas minhas bochechas e meu coração chegar a boca. Parecia que havia fogos de artifício explodindo dentro de mim, me causando uma sensação de euforia e nervosismo.

Ele desviou os olhos de mim quando um dos seguranças se aproximou dele, murmurando alguma coisa que o fez engolir em seco e assentir, antes de seguir para a parte da frente da casa. Entrei de volta na mesma hora, fechando as portas da varanda e correndo para a porta do quarto quando escutei uma batida nela.

—Srta. Brooks, o senhor Patton acabou de chegar. —A governanta surgiu na minha frente assim que abri a porta, com os lábios comprimidos. —As ordens da sua mãe são que se encontrem na biblioteca para fazer o trabalho.

—É claro, já vou descer. —Afirmei, abrindo um sorriso contido, não querendo deixar minha ansiedade transparecer, porque sabia que a governanta era os olhos e ouvidos da minha mãe quando estava fora. Qualquer coisa anormal que acontecia comigo, ela corria para contar para minha mãe.

[...]

Cheguei primeiro na biblioteca, onde minhas coisas da universidade já estavam me aguardando sobre a mesa, onde eu costumava estudar todos os dias. O papel do trabalho estava sobre meu notebook, onde me demorei repetindo o nome do meu colega, enquanto aguardava os segundos até ouvir o som da porta se abrindo.

—Fique a vontade, Sr. Patton. Mais tarde trarei algo para vocês dois comerem. —Ergui os olhos ao ouvir a voz da governanta, enquanto Julian balançava a cabeça positivamente, entrando na biblioteca com os olhos varrendo cada canto do lugar até me encontrarem.

—Oii. —Julian murmurou, assim que a governanta fechou a porta e nos deixou sozinhos. Ele ainda estava olhando pra mim quando tentou se aproximar, com a mochila esbarrando em uma mesinha na lateral, onde se apressou a segurar o vaso que havia sobre ela, quando ele quase foi para o chão. —Per... perdão...

—Tudo bem. —Mordi o lábio para não rir, vendo-o ajeitar apressadamente o vaso e se virar pra mim, com as bochechas ganhando uma coloração avermelhada. —Julian, não é? Eu sou a Abigail. É um prazer conhecê-lo.

—O prazer é meu. —Julian se aproximou, parando perto da mesa onde eu estava, parecendo constrangido e um pouco perdido. —Sua casa é muito bonita. Parece um castelo.

—Obrigada. —Abri um sorriso pra ele, que pareceu surpreso por um segundo, antes de sorrir de volta. Os olhos escuros parecendo perdidos em alguma coisa no meu rosto. A ansiedade fez meu coração contrair, enquanto eu mesma me perdia por um segundo no sorriso que ele me lançou. —Podemos começar o trabalho?

—Ah, é claro... —Julian balançou a cabeça para os lados, soltando uma risada sem graça, como se tivesse se dado conta do motivo de estar ali. Me sentei, observando-o tirar a mochila e se aproximar para se sentar na minha frente. —Andei pensando no que podemos começar falando. Não sei se você vai concordar comigo ou se tem alguma ideia melhor...

Ele continuou a falar sobre o trabalho, mergulhando no assunto de ciência política. Tentei prestar atenção no que ele dizia, mas ainda sentia minhas mãos suando de nervosismo pela minha primeira vez estudando com outra pessoa na minha frente, que não fosse a minha mãe. Julian parecia concentrado no trabalho, enquanto eu estava concentrada em absorver todos os detalhes dele.

Estava usando um moletom de Direito, que parecia um pouco grande demais pra ele, como se seu corpo tivesse encolhido dentro do tecido. Os cabelos loiros caindo no rosto, o que o fazia mexer neles a cada 5 minutos, parecendo incomodado com o fato de estarem caindo sobre seus olhos. Não deixei de notar também as marcas escuras embaixo dos olhos, que o faziam transparecer um ar de cansado.

—O que foi? —Julian parou, parecendo se dar conta de que passou os últimos minutos falando sem parar, enquanto eu o ouvia e o observava.

—Nada, estou apenas pensando no que está dizendo. —Menti, umedecendo os lábios com a língua, ouvindo o som do meu coração batendo na minha cabeça.

—Desculpa se eu falo demais. Tenho problemas com ansiedade, então estou contando os segundos para terminar esse trabalho e o entregar logo. —Afirmou, me fazendo comprimir os lábios, porque não sabia muito bem o que pensar sobre aquilo. —Ainda temos aula a tarde. Preciso voltar pra casa antes de almoço.

—Pensei que seus pais fossem trazê-lo até aqui. —Comentei, porque minha mãe jamais me deixaria entrar em um carro sozinha. Ainda mais em uma moto. —Eu moro um pouco longe da cidade.

—Um pouco é apelido. —Julian retrucou, o que arrancou uma risada de nós dois, antes de eu vê-lo negar com a cabeça. —Meu pai mora em Atlanta. Eu divido uma casa com uns amigos.

—Oh! —Eu fiz uma careta, me dando conta de que Julian era de uma realidade totalmente diferente da minha. —Você não mora mais com seus pais então? E eles te deixam morar em outro estado?

—Bom, sim. Eu precisava estudar e meu pai não podia vir pra cá. —Deu de ombros, enquanto eu o encarava sem nem piscar. —A maioria dos universitários são assim. Na verdade, achei que a professora estava ficando louca quando vi seu nome na lista do meu trabalho, porque não fazia ideia que tínhamos alguém que fazia aulas a distância.

—Minha mãe não acha seguro que eu vá. —Esclareci, vendo que dessa vez quem fez uma careta foi ele, como se estivesse achando minha mãe esquisita. Mas eu já tinha me dado conta de outra coisa. —E a sua mãe? Você não falou sobre ela.

—Eu não falei, porque nem a conheço. —Julian afirmou, soltando uma risada baixa. —Ela foi embora depois que eu nasci. Não lembro nem que cara ela tinha. Não importa, na verdade. Meu pai fez o papel de pai e mãe, além da minha vó também ter ajudado a me criar.

—Eu não conheço meu pai também. —Falei, vendo Julian puxar o celular do bolso e encarar a tela por um segundo, antes de voltar a olhar pra mim. —Mas eu não faço ideia do que aconteceu com ele, porque minha mãe nunca falou nem mesmo seu nome.

—Sinto muito. —Julian murmurou, me encarando com uma expressão estranha. Não parecia triste pelo fato de eu não conhecer meu pai e sim mais confuso do que antes.

—Como é morar longe do seu pai? Você sai quando quer e faz o que quiser também? —Indaguei, vendo-o abrir e fechar a boca várias vezes, como se não soubesse como responder aquilo.

—Sim... —Ele hesitou, engolindo em seco. —Você não costuma sair?

—Só em caso de extrema necessidade, com a minha mãe. —Falei, vendo Julian desviar os olhos de mim para o livro aberto na sua frente, com o rosto curvado em uma careta. —Mas normalmente, nunca.

—Nunca. —Ele repetiu, como se isso fosse a coisa mais absurda e improvável que ele já tinha ouviu na vida.



Continua...

Como conquistar Abigail Brooks / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora