A primeira coisa que vi quando abri os olhos foi Julian, sentado ao lado da minha cama. Uma cama de hospital. Ele estava segurando minha mão, com o queixo escorado no braço sobre a cama. Parecia visivelmente cansado, mas sorriu assim que notou que eu estava acordada.
—Oi. —Sussurrou, fazendo um sorriso se abrir nos meus lábios ao ouvir a voz dele e ao encontrá-lo ali do meu lado.
Alívio e uma mistura de apreensão tomou conta de mim quando me lembrei do que havia acontecido. A discussão e então o momento que agarrei o volante e fiz o carro perder o controle até bater. Ergui minha mão livre no mesmo instante, fazendo uma careta para a pressão esquisita na minha cabeça, antes de sentir a faixa que a envolvia.
—Você está bem. —Julian afirmou, levando minha mão até seus lábios e deixando um beijo demorado ali. —Encontramos vocês na estrada, no momento que a ambulância e a polícia já estavam lá. Você só bateu a cabeça, Abby. Mas está tudo bem.
—Como? —Indaguei, sentindo minha boca muito seca. Julian estava estranho. Cauteloso demais. Até mesmo distante. —Como vocês nos encontraram?
—Victor rastreou seu celular. —Esclareceu, me pegando um pouco de surpresa com aquilo. Não sabia que Victor podia fazer essas coisas. —Como se sente? Está com dor? Quer que eu chame o médico?
Balancei a cabeça negativamente, apertando a mão dele quando senti que ele iria se afastar. Julian parou na mesma hora, abrindo um sorriso pequeno pra mim.
—Onde ela está?
—Ela está bem, mas não está nesse hospital, se é isso que quer saber. —Julian apertou minha mão de volta, provavelmente vendo o quanto eu relaxei sobre a cama só de ouvir aquilo. —Ela nunca mais vai chegar perto de você, Abby. Nunca mais vai te machucar.
Balancei a cabeça em concordância, olhando para Julian e me perguntando o que havia de errado. Soltei a mão dele e a levei até seu rosto, tocando seu queixo e subindo até sua bochecha. Julian fechou os olhos quando fiz isso, inclinando o rosto para descansar a bochecha na palma da minha mão.
—O que há de errado? —Questionei, fazendo-o abrir os olhos para me encarar de novo. —Aconteceu alguma coisa?
—Não, não... está tudo bem. Você só me deixou muito, muito preocupado. —O sorriso dele era quase dolorido quando segurou minha mão que estava no seu rosto e a beijou. —Não é uma visão muito legal te ver em uma cama de hospital.
—Fui eu. —Sussurrei, vendo-o franzir a testa em confusão ao me ouvir. —Fui eu que causei o acidente. Agarrei o volante para que ela perdesse o controle de propósito. —Julian estremeceu ao ouvir isso, desviando os olhos de mim para a janela na outra extremidade do quarto. —Um carro tinha batido na gente. Está tudo bem com o motorista?
—Era um casal e uma criança. Eles estão bem sim. Nenhum deles se machucou. Chamaram a ajuda logo após o acidente. —Julian suspirou, erguendo a mão para esfregar a testa, enquanto seu rosto se curvava em uma careta.
—O que foi? Por que está assim? —Puxei a mão de Julian para que ele parasse de esfregar a testa e voltasse a olhar pra mim. —O que está te incomodando tanto?
—Não está me incomodando, é só... —Ele corou e desviou os olhos, parecendo constrangido naquele momento. —Os pais de Briar estão aqui. Quer dizer... os seus pais estão aqui. Os verdadeiros.
—Ah! —Soltei, sentindo meu próprio rosto esquentar com aquela informação, ao mesmo tempo que meu coração disparava dentro do peito. Uma respiração pesada escapou pelos meus lábios, enquanto Julian olhava para a máquina ao lado da cama, que soltava o som de um blip cada vez mais rápido.
—Desculpa, não queria te deixar nervosa. Fui pego de surpresa quando eles chegaram aqui mais cedo. —Julian beijou minha mão de novo, parecendo tentar acalmar meu coração acelerado e a ansiedade que começava a crescer dentro de mim. —Está tudo bem, Abby. Eu só fiquei um pouco ansioso com isso.
—Sobe aqui na cama. —Falei, vendo-o hesitar, como se aquela não fosse uma boa ideia. —Deita aqui do meu lado. Você está muito longe.
Ele suspirou por fim, se sentando na cama antes de se deitar ao meu lado, com o rosto próximo do meu. Meu coração bateu ainda mais forte, mas dessa vez por ele e não qualquer outra coisa. Seu sorriso maior deixava claro que ele sabia disso, enquanto trazia a mão para envolver o meu rosto, com seu nariz roçando no meu.
—Estou com gosto de remédio na boca. —Falei, um pouco sem graça, quando percebi qual era a intenção dele. Julian riu, negando com a cabeça como se isso não tivesse importância, antes de juntar os lábios com os meus.
Ergui a mão para tocar o rosto dele, sentindo a calmaria tomar conta de mim quando finalmente entendi que estava tudo bem. Eu estava no hospital, com Julian ao meu lado. Aquela mulher estava bem longe dali. Se dependesse de mim, ela jamais tocaria em um único fio de cabelo meu. Ela não me merecia.
Julian precisou descer da cama quando uma enfermeira apareceu e o lançou um olhar afiado de puro desagrado. Ela checou algumas coisas comigo, antes de comentar sobre a sala de espera estar cheia de pessoas querendo me ver. Precisei olhar para Julian para ter certeza de que aquilo era verdade. O sorriso que ele me lançou foi a confirmação que eu precisava.
—Quem está lá fora? —Indaguei, assim que a enfermeira se retirou do quarto de novo. Julian se aproximou da cama, voltando a segurar minha mão e entrelaçar nossos dedos.
—Bom, todo mundo. Nossos amigos. Ficaram todos preocupados com você. —Julian afirmou, me fazendo abrir um sorriso tímido, porque não estava esperando por isso. Sei que podia considerá-los meus amigos, mas não fazia ideia do quanto. —Briar queria ficar aqui no quarto com você. Mas todos chegaram a uma conclusão juntos de que seria melhor eu estar aqui, pra que você não ficasse tão nervosa. Mas quando estiver pronta, Abby, e quiser...
Julian não completou, mas eu entendi logo de cara o que ele queria dizer. Olhei para o meu braço, sentindo falta da pulseira que Briar havia me dado. Eles provavelmente haviam tirado de mim para fazer todo o atendimento depois do acidente. As palavras dele e o fato de seus pais estarem ali traziam uma sensação esquisita para dentro de mim. Uma realidade bem diferente da que eu estava acostumada.
—Você pode chama-lo até aqui? —Indaguei, engolindo as lágrimas que ameaçaram surgir. —Acho que gostaria de falar com ele primeiro.
Continua...
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Como conquistar Abigail Brooks / Vol. 4
RomanceAbigail Brooks está muito longe de ser a Rapunzel, mas foi criada a sete chaves desde criança. Estudando desde a infância em casa e tendo todo o contado com o mundo vindo apenas de sua mãe, ela está mais do que ansiosa para descobrir o que existe al...