As coisas estavam indo maravilhosamente bem. Já estava a duas semanas no casarão e estavam sendo os melhores dias da minha vida. Nunca tinha me divertido tanto ou me sentindo tão feliz como estava sendo nesse momento. Minha vida antes era tão solitária, mas eu tinha me acostumado com ela porque minha mãe me fez acreditar que era realmente certo.
Tinha tido tempo livre essa manhã, no qual Millie me convidou para ir no cinema e fazer comprar no shopping. Não hesitei em aceitar, porque queria mesmo passar um tempo com Millie. Mesmo morando na mesma casa, as vezes não tínhamos tanto tempo pra conversar, a não ser quando acabávamos nos encontrando com as outras.
Hoje eu também estava um pouco ansiosa. Depois das minhas aulas no período da noite, tinha combinado com Briar de ir com ele até o centro de patinação conhecer um dos treinadores. Tinha passado a noite toda pensando nisso, a ponto de quase não conseguir dormir direito, em um misto de animação, ansiedade e nervosismo, porque também estava com medo de descobrir que não tinha qualquer chance na patinação.
—Bom dia, Abby. —Mavie surgiu na minha mesa, segurando o cardápio, com um sorriso nos lábios. A pele negra parecendo tão iluminada naquele momento da manhã, enquanto seus cabelos estavam presos em milhares de tranças, que a deixavam linda. —Onde está o restante do grupo?
—Victor tinha aula, Julian ficou em casa estudando e Millie foi no banheiro, mas não deve demorar. —Dei de ombros quando ela riu do meu breve resumo sobre eles. —Jasmine não está aqui hoje?
—Me procurando? —Jasmine surgiu atrás de Mavie, passando o braço ao redor da irmã, com um sorriso um pouco tenso. —Oi, Abby. Bom te ver de novo. —Jasmine se virou pra irmã antes que eu tivesse a chance de responder. —É a sua vez de cuidar dos pestinhas.
—O que? Claro que não. A gente combinou que a manhã era sua e a tarde era minha! —Mavie exclamou, enquanto Jasmine soltava um gemido de frustração.
—Por favor, só uma hora, Mavie. Wyatt está implicando com a Taylor por absolutamente qualquer coisa, o que está fazendo ela chorar a cada 10 minutos. Meus ouvidos não aguentam mais e eu não consigo faze-los parar. —Afirmou, soltando uma respiração pesada de quem realmente não aguentava mais. Mavie revirou os olhos e se afastou até desaparecer atrás do balcão.
—Seus irmãos? —Indaguei, trazendo a atenção de Jasmine pra mim. Ela balançou a cabeça que sim, se sentando no lugar que Millie estava, antes de ir no banheiro.
—Mais novos. Eles são como dois furacões que nunca param quietos. As vezes é um pouco caótico, sabe? —Ela esfregou as têmporas, fazendo uma careta como se estivesse com dor de cabeça. —Normalmente os únicos que conseguem controla-los são nossos pais e o Joe.
—Seu outro irmão? —Ela confirmou com a cabeça ao ouvir minha pergunta. —Ele é o mais velho? Acho que nunca o vi.
—Ah, não. Mavie é a mais velha. Depois o Joe, eu, Wyatt e Taylor. —Jasmine abriu um sorrisinho que não chegava até os olhos e também não era muito animado. —Mas a primeira a ser adotada fui eu.
—Seus pais pretendem adotar mais filhos? —Questionei, ficando curiosa. Não era sempre que você encontrava um casal disposto a ter vários filhos. A maioria das pessoas hoje em dia evita eles, na verdade.
—Sim, eles já estão na fila de adoção esperando serem chamados de novo. —Ela deu de ombros e dessa vez riu de verdade. —Uma vez eles disseram que queriam chegar ao número 10 de filhos. Mas não tenho certeza se eles estavam falando a verdade ou queriam apenas nos deixar assustados, porque a casa já é uma loucura só com nós cinco.
—Mas você gosta de ter muitos irmãos?
—Claro. Apesar do caos, eles são minha família. Não consigo me imaginar sem qualquer um deles. —Jasmine afirmou, mordendo o lábio ao observar a pulseira que Briar havia me dado. —Bem, eu tenho que ir trabalhar. Apareça mais vezes, ok?
Concordei com a cabeça, vendo-a se afastar para trás do balcão também. Encarei a pulseira, girando os dois pingentes presos a ela. Millie estava demorando demais e eu estava começando a me perguntar se deveria ir atrás dela. Olhei na direção do banheiro, mordendo o lábio e me preparando para levantar.
Quando fiz isso, acabei tropeçando para trás, porque minha mãe estava sentada a algumas mesas atrás de mim, bebendo café como se nada anormal estivesse acontecendo. Ela olhou pra mim e ergueu as sobrancelhas, depositando a xícara na mesa quando me aproximei da mesa dela a passos lentos.
—Mãe? —Soltei, não sabendo se ficava surpresa ou assustada. —O que está fazendo aqui?
—Vim falar com você. Aproveitei que você estava ocupada com aquela moça para beber um café. —Ela sorriu pra mim. Um sorriso tão doce que me fez hesitar. Ela deve ter visto a expressão confusa no meu rosto, porque se apressou em falar de novo. —Sempre sei quando e onde você usa meu cartão, querida. Pensei que fosse mais esperta nesse ponto.
—O que? —Quase me engasguei com as palavras, o que a fez rir. —Você sabe até que eu...
—Esteve em Atlanta? —Completou por mim, me deixando ainda mais assustada, porque sua voz soava tão controlada, de uma forma que fazia meu coração disparar. —Esperei que você abrisse os olhos, Abigail. Esperei que percebesse a burrada que estava fazendo ao sair de casa.
—Você veio até aqui porque está disposta a responder minhas perguntas? Está disposta a ser flexível? —Questionei, odiando o quanto minha voz tremeu quando falei. —Porque eu nunca mais vou viver presa naquela casa. Não é certo, justo ou saudável. Tanto pra mim, quanto pra você.
Minha mãe limpou a boca com o guardanapo tão lentamente que chegou a me dar agonia, antes de puxar a carteira e deixar algumas notas sobre a mesa. Ela finalmente olhou pra mim. O sorriso não estava mais no rosto, mas ela parecia tão contente consigo mesma, suspirando como se nossos problemas não fossem tão sérios assim.
—Não, não estou disposta a fazer nenhuma dessas coisas. —Ela soltou uma risada quando dei um passo assustado para trás, porque estava mesmo esperando alguma mudança dela. —Cansei dessa brincadeira, Abigail. Está incomodada com essa situação? Pois eu também estou. Dei tempo a você, mas agora acabou, entendeu? Hora de voltar pra casa.
Continua...
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Como conquistar Abigail Brooks / Vol. 4
RomanceAbigail Brooks está muito longe de ser a Rapunzel, mas foi criada a sete chaves desde criança. Estudando desde a infância em casa e tendo todo o contado com o mundo vindo apenas de sua mãe, ela está mais do que ansiosa para descobrir o que existe al...