Capítulo 4: Você só quer o meu bem.

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Abigail Brooks

Os dias de outono costumavam ser muito frios durante a tarde e a noite, com o sol aparecendo e aquecendo o clima durante o dia. As árvores ficavam tomadas por um tom laranja muito bonito, enquanto as folhas começavam a se preparar para cair e cobrir completamente o chão. Uma das minhas épocas favoritas do ano.

Eu costumava observar tudo isso acontecer, assim como via o tempo ficar branco quando o inverno chegava e começava a nevar. Então o calor maravilhoso do verão e logo depois as flores que surgiam com a primavera. Eu costumava observar tudo isso pelas portas da varanda do meu quarto, onde eu passava a maior parte do tempo.

Eu não tinha nenhuma doença, como a maioria das pessoas provavelmente deve imaginar quando falam meu nome e o fato de eu não sair de casa nunca. O problema era apenas minha mãe, que era incrivelmente protetora e não gostava que eu saísse. Ela ficava repetindo sobre sermos importantes e que poderiam me sequestrar, sempre que eu pedia para sair um pouco. Ela falava sobre como as pessoas eram maldosas e cruéis.

Tenho certeza que ela não está errada, assim como também acho que nem todas as pessoas no mundo são ruins. Mas eu cresci exatamente assim, ouvindo essas palavras se repetirem na boca dela várias e várias vezes, enquanto eu ia crescendo. Ter 20 anos e não conhecer nada no mundo é um pouco assustador, porque estou sempre sentindo que estão me roubando algo. Mas não consigo não confiar na minha mãe, quando ela sempre se preocupou comigo acima de tudo.

—Aquela maldita universidade! —Levei um susto quando minha mãe entrou no meu quarto, com os sapatos de salto fazendo um barulho no chão à medida que se aproximava da minha cama, onde eu estava deitada observando o tempo lá fora. —Não importa quanto dinheiro eu dê pra que eles mantenham seus estudos em casa, sempre tem um professor pra passar por cima disso!

—Qual o problema? —Indaguei, erguendo o rosto para olhar pra minha mãe. Seus cabelos loiros ondulados estavam jogados pra trás, como se ela tivesse subido as escadas correndo, além dos olhos claros faiscarem desagrado.

—Você tem um trabalho em dupla pra fazer, com um dos seus colegas. Ele vai vir  aqui amanhã cedo. —Minha mãe balançou a cabeça negativamente, esfregando as têmporas. —Justamente no dia que eu tenho um compromisso importante que não posso faltar...

Ela continuou falando, mas eu só conseguia pensar no fato de que iria receber uma visita amanhã, de um dos meus colegas. Mesmo que eu não fizesse ideia de quem era, ainda era muito mais do que eu tinha tido nos últimos anos. Meu coração disparou com s possibilidade de conhecer alguém, que não tivesse o mesmo rosto de todos os empregados e seguranças da casa que eu estou acostumada. Um rosto novo e um pedaço do mundo lá fora que vai entrar aqui dentro.

—Abigail, você está prestando atenção no que eu estou falando? —Minha mãe parou ao meu lado na cama, estalando os dedos na frente do meu rosto. —É um rapaz, que eu não faço ideia de onde vem e quem é. Então quero que faça o trabalho e o mande embora logo em seguida, está bem? Não podemos nos dar ao luxo de te colocar em risco aqui dentro, na nossa própria casa.

—Acho que você está exagerando. —Afirmei, vendo-a arregalar ligeiramente os olhos ao me ouvir. —Só vamos fazer um trabalho.

—Eu estou exagerando em querer proteger meu bem mais precioso? —Ela se  sentou na cama, envolvendo meu rosto com as mãos. —Estou exagerando em presar pelo seu bem estar? Pela sua felicidade e cuidado?

—Não, mãe, não está. —Abri um sorriso fraco, sentindo a frustração se misturar com a ansiedade que crescia pelo dia de amanhã, que agora eu tinha certeza de que não seria igual aos outros longos dias que passei naquela casa. —Você só quer o meu bem.

—Exatamente. Os jovens hoje em dia estão cada vez mais fora de controle, Abigail. —Afirmou, acariciando minhas bochechas, antes de levar a mão até a trança que moldava meus cabelos escuros. —Fico assustada com as coisas que vejo na universidade. Por isso não quero que você tenha tanto contato assim com eles. Você é preciosa demais pra esse mundo.

Minha mãe se inclinou, beijando minha testa de forma demorada, enquanto eu permanecia com os olhos abertos, pensando nas palavras que ela havia acabado de dizer. Eu costumava acreditar em tudo que ela dizia, porque ela era minha mãe. Mas nas poucas vezes que consegui sair dessa casa, com ela junto, senti que o mundo não era tão ruim assim como ela dizia.

Eu só tinha autorização pra sair com ela, quando era algo de extrema importância. Foram poucas vezes, mas foram o suficiente para me deixar curiosa e confusa. Não acho que minha mãe seja uma mentirosa ou qualquer coisa do tipo, mas tenho a sensação que ela está exagerando demais na sua preocupação comigo, a ponto de começar a me deixar sufocada nesse lugar.

Quando eu era criança costumava achar tudo isso legal. Imaginava que eu era uma princesa aprisionada em uma torre e que um dia um príncipe iria aparecer para me salvar daqui. Mas quanto mais eu fui crescendo, mas isso começou a se tornar estranho e solitário. Minha vida começou a se tornar entediante, a ponto dessa versão conto de fadas que eu havia criado, já não ser mais tão interessante.

—Não precisa se preocupar, filha. Eu não vou estar em casa, mas todos os seguranças vão permanecer aqui. —Minha mãe se levantou, alisando o vestido preto que estava usando. —Vou sair para jantar e amanhã cedo terei uma reunião importante. Provavelmente não vamos nos ver nem no café da manhã. Mas qualquer coisa você pode falar com a governanta, que ela me manda uma mensagem. Tudo bem?

—Tudo bem. —Concordei, sentindo um friozinho na minha barriga, com a ansiedade pronta para explodir meu coração.

Eu sei que era apenas um trabalho pra universidade, mas eu estava tão desesperada para ter qualquer mudança na minha vida, que sabia que talvez essa fosse minha única oportunidade. A ansiedade cresceu dentro de mim, enquanto eu pensava em todas as perguntas que queria fazer a ele quando o conhecesse.


Continua...

Como conquistar Abigail Brooks / Vol. 4Onde histórias criam vida. Descubra agora