Por segundos eu perdi os movimentos das pernas e a respiração. Não que eu estivesse errada, mas naquele momento eu me senti pega no flagra após um crime.
Valentina simplesmente não percebeu e arrancou com o carro.
- não vai vim?
Meu pai falou um tanto mais alto enquanto eu me mantive imóvel. Sai do transe e andei em sua direção, ele fechou o portão assim que passei.
- vem, vamos ficar aqui no jardim.
- a mamãe tá em casa?
- não, saiu agorinha pra padaria.
- eu não faço ideia do que você viu, mas eu posso explicar.
- a quanto tempo vocês estão juntas?
Meu pai parecia calmo, e também não me parecia surpreso com a situação, o que estava surpreendendo a mim mesma, não era conveniente contar dessa forma, mas eu não tinha mais pra onde correr.
- vai fazer 6 meses...
- muito tempo pra esconder algo do qual parece feliz em viver.
- não só pareço, eu tô muito feliz
Ontem quando Valentina me perguntou se é feliz comigo, eu também me perguntei isso antes de responde-lá. E sim, eu sou verdadeiramente feliz com ela. Eu sei que infelizmente venho projetando traumas do meu antigo relacionamento nela, assim como tenho receios pelo ex relacionamento dela também, ainda mais que não começamos da melhor forma. Mas sim, ela me faz verdadeiramente feliz.
- você sabe que sua mãe vai surtar, não sabe?
- por eu gostar de mulheres, ou por ser a Valentina?
- você sabe bem a resposta.
- tá, mas qual o motivo? Porque você não me conta?
- não é sobre mim minha filha.
- e por questões dela eu não posso viver?
- é bem mais complexo do que você pode imaginar.
- não é justo a forma que ela trata o Igor, e eu não vou aceitar que ela trate a Valentina da mesma forma, eu a amo, ela me faz feliz, e é com ela que quero ficar.
Colocar isso pra fora foi bem mais fácil do que pensei, talvez por ser meu pai ali, mas me senti muito leve.
- eu desconfiei que a paixão estava presente em sua vida, só não tinha certeza de quem estava te causando ela..
- desconfiou?
- sim, você voltou a brilhar em casa, começou a sair, a dormir fora, ficar de bom humor, e você literalmente levou a Valentina pro nosso sítio, e ninguém além da família vai lá..
- eu tô muito apaixonada e não quero ficar longe dela, eu não queria que você soubesse assim, eu não me senti pronta pra contar antes por conta de toda essa situação da mamãe, e foi uma surpresa pra mim também me ver tão atraída assim por alguém, e por uma mulher..
- eu sinto muito que você precise se sentir pronta pra contar sobre algo bonito, saiba que eu admiro você, e irei gostar de qualquer pessoa que te faça feliz, sua mãe vai entender, com o tempo, só tenta entender também que existe um passado difícil na vida dela.
- e o que a Valentina tem a ver com esse passado pai? Me conta, eu tô cansada disso.
- eu não posso, eu sinto muito mas não posso.
Assenti e suspirei derrotada, percebi que seria da murro em ponta de faca continuar insistindo naquele assunto, e ele tinha razão, só minha mãe poderia nos dizer a verdade.