bang...bang...

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O coque apertava minha cabeça, fazendo ela doer. Eu já tinha me acostumado com essa doer de tantos anos.
Estava voltando para casa, tinha acabado de terminar o ensaio de ballet. Meu corpo só precisava de duas coisas. Que eu removesse esse coque apertado, e que eu tomasse um maravilhoso e quente banho.
Hoje o ensaio de ballet tinha sido maravilhoso. Eu já tinha pegado o ritmo da companhia. E já tinha me escrevido para o papel principal da apresentação o lago dos cisnes. Eu achava essa apresentação um pouco clichê. Mas era encantadora demais, e intensa demais. A forma de como os dois cisnes tem que ser interpretados. O fato de os dois cisnes serem de personalidades completamente diferentes. O que significa que quem interpretar o cisnen branco e o preto precisa trazer duas personalidades para a apresentação. E isso faz com que meu sangue dance pelas minhas veias.

Eu tinha voltado da viagem da casa de meu pai a alguns dias. Não tinha visto Gavi desde que chegamos. Aquela viagem de carro foi um tão peculiar, e constrangedora. Gavi estava bravo comigo e eu entendia o motivo. Eu o machuquei, e no momento em que ficamos juntos eu tento beijá-lo. Eu invadi o seu espaço pessoal.
Solto um suspiro alto só de lembrar dessa vergonha.

Passo em frente ao prédio da minha antiga companhia, e meu coração se apertar com as lembranças. Minha professora Marisa, que me deu aula desde pequena. O estúdio e os lugares que eu dancei, as barras em que me segurei. Meus amigos... que saudade de tudo. Daquele ano...

-Ana?.- escuto alguém me chamar no exato momento em que me afastei do prédio. Não me mexo. -Ana Luiza?.- me viro lentamente. -Eu sabia que era você.- olho para seus cabelos loiro escuro, que na luz do sol, seu cabelo brilhava em tons de dourados. Léo estava parado na minha frente com um enorme sorriso no rosto. -Quando tempo. Achei que estivesse na Broadway. - seus olhos estavam fixas em mim. Olho para os traços em seu rosto e percebo que ele não mudou muito. Lembro da briga dele e de Gavi, e por um momento volto para aquele dia. -Ana?.

-Oi!.- digo quase em meu grito. -Eu não sai da Broadway.- Léo fraze a testa. -Eu estou morando de novo em Barcelona, mas ainda trabalho na Broadway. Eles me mandaram para uma companhia daqui, foi uma parceiria da Broadway...

-Quem diria que a menininha que eu dançava ballet quando criança está na Broadway.- ele me interrompe.

-E pelo visto você continua aqui.- aponto para o prédio da minha antiga companhia. Léo não me responde em vez disso me encara. E eu vejo a raiva consumir seu rosto.

-E bom te ver.- de repente sua raiva some e se transforma em um sorriso simpático. -Acho que você deveria entrar.

-A não...- digo dando passos para trás.

-A professora Marisa iria adorar.- paro. -Vamos eu insisto...

Lá estava eu andando pelos corredores da minha antiga companhia. Todas as aquelas lembranças me atingindo como um tiro, a cada pessoa que eu via e conhecia era um tiro. Cada canto família mais um tiro.
Bang.
Bang.
Bang...
Entro dentro de uma sala, Léo estava me guiando, mas eu sabia cada canto daquele lugar de olhos fechados. Era como se eu tivesse voltado no tempo, como se nada tivesse mudado.
Tinha várias pessoas ensaiando na aquela sala, e ao longe vejo Marisa. Minha professora de ballet  olho para ela vendo seus cabelos grisalhos com um corte masculino, que de fato ficou lindo nela. Marisa era alta e magra, tão magra que as pessoas que não a conheciam poderiam jurar que ela estaria doente.
Vejo seus olhos de um tom de azul mais claro que já vi em minha vida se arregalarrem.

-Ana.- ela diz um pouco alto de mais, fazendo todos que estavam dançando pararem. Sinto um constrangimento subindo pelas minhas pernas.

-Oi.- digo dando um aceno.

-Ana Luiza?.-giro minha cabeça para o outro lado da sala, e me deparo com Samantha. Ela ainda estava aqui. Encaro a. Ela era minha melhor amiga, perdemos o contato depois que fui para Nova York. -O que esta fazendo aqui?.

Bang.
Bang.
Bang.
Tento falar mais não consigo. Não saia nada de minha boca, era como se um tiro tivesse atingido minha garganta. Minhas cordas vocais. E de repente alguém fala por mim:

-Achei que seria legal ela ver todo mundo de novo.- Léo. Ele estava ao meu lado, tentando me proteger do meu passado.
Mas eu não precisava de proteção, eu só tinha que fugir. Ir embora.

-Achou que seria legal?.- Samantha estava com raiva. Raiva de mim. -Acho que seria legal vermos ela?!.

Fugir
Bang.
Bang.
Fugir
Era o que eu sabia fazer de melhor, fugir, ir embora, decepcionar as pessoas... fugir.

E lá estava eu correndo até o meu apartamento, para longe de tudo. Para longe do meu passado...

Oi meus loves, tudo bem?.
Obrigado por estarem lendo os novos capítulos. Beijos, até...

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⏰ Última atualização: Mar 07 ⏰

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𝑴𝒆𝒖 𝑱𝒐𝒈𝒂𝒅𝒐𝒓 - 𝑃𝑎𝑏𝑙𝑜 𝐺𝑎𝑣𝑖 Onde histórias criam vida. Descubra agora