Capítulo LXIII

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Júlio Lemos


Calma, tudo está em calma.

Acordei com gritos. Não reconheci as vozes de imediato, mas assim que ouvi a voz de Fernanda levantei da cama às pressas não me preocupando como estava vestido. Saí do quarto e no corredor consegui escutar com mais claridade sobre o que eram os gritos e senti meu corpo ferver com as palavras que a mãe da minha garota dizia para ela. Ali eu vi que que qualquer possibilidade de entendimento entre elas era nulo, visto que minha sogra não mensurava em nada a dor de sua filha que é a verdadeira vítima do descontrole da irmã. Assim que percebi que Fernanda estava perdendo as forças nas pernas, a segurei antes que seu corpo fosse ao chão.

— Vai ficar tudo bem. - sussurrei em seu ouvido, tentando lhe passar algum tipo de conforte enquanto a levava para o sofá da sala.

— Fernanda, minha neta, me desculpe. Sua mãe disse que estava em paz e queria saber como você estava, por isso a deixei entrar... - dona Eva foi dizendo enquanto se aproximava da neta e se acomodava ao seu lado segurando sua mão.

— A senhora não tem culpa dela ser assim, vovó. - Fernanda disse após respirar fundo. - A gente não pode se condenar pelas decisões de outras pessoas. Dona Berenice escolheu a filha que ela sempre amou, e não foi eu. Sinceramente perdi ao longo desses anos a vontade de saber o que os fizeram não me amar.

— Eles são doidos, minha filha. Não sei o que errei na criação da sua mãe, provavelmente foi porque não bati nela a vida toda, talvez uns supapinhos fizessem os neuronios dela serem normais. - dona Eva falou e tive que segurar o riso. - Enfim, é triste ver que no final eles vão acabar sozinhos, porque não vai lhes restar nenhum filho que possa cuidar e zelar por eles na velhice.

— Consequencia das escolhas que eles estão tendo, dona Eva. - eu disse ao passar meus braços pelos ombros de Fernanda. - Agora Fernanda precisa de descanso e não de pessoas que não querem o seu bem.

— Sim, meu filho.

— A senhora permite que eu a leve para o meu apartamento por alguns dias? - sugeri. - Tenho certeza que sua filha e o marido ainda irão bater aqui atrás dela. O processo de Thalita será longo e realmente não quero que Fernanda passe por um estresse maior ainda do que o de hoje. Fora que ela tem que começar a faculdade, e já está atrasada alguns dias. - olhei para minha pequena Demonia e a vi de olhos fechados respirando fundo.

— Se a minha neta quiser ir...

— Eu quero. - Fernanda disse e se levantou do sofá. - Vou arrumar minhas coisas.

Observamos ela caminhar para o seu quarto em silêncio. Aquela situação havia me deixado triste por ela, mas sabia que minha namorada iria superar e seguir em frente com seus planos e sonhos. Esse ciclo vicioso de ser maltratada pela família havia chegado ao final e se dependesse de mim, ela não precisaria passar mais por isso. Não demorou para que ela arrumasse suas coisas, já que eu também retornei ao quarto para pegar minha blusa e meu sapato.

— Ao menos um café tomem com a gente, a Lúcia já acordou e está na cozinha preparando. Saco vazio não para em pé, de qualquer forma. - dona Eva falou e concordamos em tomar café com elas. Foi algo rápido, Fernanda não estava em clima de conversa e logo partimos para o meu apartamento.

Quando saímos do elevador em meu andar, e entramos em casa, senti meu corpo aliviar um pouco da pressão do mundo. Ali agora era apenas eu e minha pequena Demônia que estava encarando a janela da sala nesse momento.

— Tudo bem? - sussurrei em seu ouvido, passando meus braços pelo seu corpo e o trazendo para mim.

— Não. Mas vai ficar. - olhando para o horizonte juntos eu sabia que as coisas poderiam ser difíceis, mas que eu estaria ali ao seu lado sempre.

O mais louco amor (Livro 2 - Amores) RETA FINALOnde histórias criam vida. Descubra agora