Passar um tempo com Juliana e Agnes até que foi legal, digamos assim. Ver Juliana defender alguém que ama me deixou bem orgulhosa da minha prima, por muitos anos eu fui comparada a ela por minha mãe e Thalita, eram coisas pejorativas como: Você é uma gorda inútil como sua prima Juliana. Olha tão insossa quanto Juliana. E o nojento do Felipe dizia que eu era muito parecida com ela, mas eu não fui tão forte quanto ela foi ou é. Mas eu seria a partir de agora, a minha meta era ser alguém melhor do que eu sou hoje, alguém que realmente quer viver uma vida digna, e principalmente sem ser motivo de pena para ninguém.- Quando suas aulas começam? – vovó perguntou enquanto tomávamos café da manhã.
- Segunda, entrarei em uma turma já formada, mas que está no mesmo patamar do meu outro cursinho. – ela assentiu.
- Que bom que agora a senhorita terá um motivo para sair de casa. – revirei os olhos. Qual o pecado de querer ficar um pouco sozinha?
- Eu saio, não sai com Juliana ontem? – foi à vez de ela revirar os olhos.
- Ontem, mas desde que chegamos ficou trancafiada aqui, Fernanda, eu sou velha, mas não estou caquética. – sorri.
- Eu sei vovó. A senhora não tem natação hoje? - perguntei para fugir de seus questionamentos.
- Não, nós vamos comprar material para você começar a estudar.
- Ah, não vovó.
- Anão é um ser pequenininho. – sorriu e tomou um pouco de café. – Esteja pronta em meia hora ou vamos do jeito que você estiver.Vovó era um ser maravilhoso, bem louca, mas odiava ser contrariada, e principalmente, amava dar ordens.
- Eu acho que vou voltar a estudar também. – ela disse enquanto passávamos pelos corredores da livraria.
- A senhora poderia mesmo, quem sabe não prestamos vestibular juntas?
- Estou velha para isso. – revirei os olhos.
- Pra namorar a senhora não está velha né? – ela sorriu.
- Claro que não, sua bobinha. A vovó está sempre na ativa para um chamego.
- Ô o seu coração, hein. Sabe que não agüenta fortes emoções. – já estávamos no caixa.
- Essas emoções ele agüenta, menina besta. – sorrimos. Eu gostaria de trabalhar para poder pagar as minhas coisas aqui, mas segundo vovó eu tenho que fazer igual à Juliana, focar nos estudos e seguir em frente.
- Obrigada vovó, eu sei que não demonstro muito mais me sinto muito grata por tudo o que a senhora vem fazendo por mim. – a abracei. Se não fosse por ela, eu não estria aqui hoje, pelo menos não o suficientemente bem emocionalmente falando.
- Para com isso, daqui a pouco você vai fazer essa velha chorar. – sorri. – Vamos comer um daqueles sanduíches cheio de coisas que você, pra vê se levanta essa sua bola.
- Vamos. – era ela que queria se lambuzar de Ketchup, como sou uma boa neta, vamos nessa também.(*)
- Querida, você sabe que terá que depor aqui também, não é? Para a delegacia que pegou o seu caso. – suspirei.
- Sim, eu sei. – vovó me deu um olhar de consternação.
- Eduardo já pediu para um amigo dele assumir o seu caso, Juliana quer que você se sinta segura e amparada. – segurei a sua mão em cima da mesa.
- Eu me sinto, vovó. – tomei um pouco do meu suco. – Será que dá para ir só à gente?
- Sim, se você quiser assim.
- Eu prefiro. Não quero que Juliana escute mais do que já sabe. Ela está se culpando, não quero isso. Eu nunca a culpei por nada, mas se eu disser tudo o que ele me dizia e ela estiver presente, talvez ela não agüente talvez eu não agüente. – engoli o bolo que se formo em minha garganta.
- Tudo bem, vamos apenas nós duas e o advogado. Ele tem que estar presente, afinal de contas você ainda é menor de idade. – assenti. Já que não tinha outra forma disso acontecer, que seja.
- A senhora sabe quando será? – ela assentiu. – Quando?
- Amanhã. – arregalei os olhos com a surpresa.
- Como assim, mas já?
- Sim, o mais rápido possível. O advogado pediu urgência, ele não quer deixar nenhuma brecha para o Felipe. – nojo era o que eu sentia toda vez que ouvia esse nome.
- Ok. - respirei fundo. – Então amanhã nós vamos lá.Amanhã eu precisaria ser mais forte do que estava sendo hoje, que Deus me ajudasse a conseguir isso.
Saímos da praça de alimentação do shopping em que estávamos para pegar um uber e ir para casa, eu precisaria de um pouco de silencio para calar as vozes que estavam ecoando em minha mente.
Já era noitinha quando chegamos em casa, vovó tinha me avisado que iria ficar para trás pois hoje era dia de bingo no salão do prédio, era algo que alguns moradores faziam, acho que só os velhinhos para matar o tempo. Subi sozinha todo o percurso até a porta do apartamento. Ficar sozinha era o meu momento preferido, eu colocava uma musica para tocar em meu quarto, a cantora dessa noite seria Pink , algo dentro de mim parecia tão errado, tão quebrado que as vezes achava que não havia concerto, achava que eu não tinha mais solução.
Segui para o banheiro, precisava de um banho, eu me sentia suja, durante o dia me sentia assim por oitenta por cento do meu dia. Saber que é algo psicológico, eu sei, mas a minha mente entender isso era outra historia. Agora eu entendia toda vez que falavam sobre isso no colégio, o abuso causa uma ruptura profunda em quem sofre, algo que sempre nos deixa na beira. Já pensei em me matar diversas vezes, mas seria o lado mais fácil, e eu sempre gostei de coisas difíceis e por mais que fosse complicado e quase impossível, eu queria viver. Queria ser diferente e eu precisava ser forte para isso, e eu seria.
Desliguei a musica quando sai do banheiro. Peguei um dos remédios receitados pela médica que me atendeu em Holambra e tomei para conseguir dormir. Precisava dormir uma noite inteira, precisava estar inteira amanhã ou não conseguiria depor. Os meus olhos foram pesando, e pouco a pouco cai na escuridão ou nos braços de Morfeu.
(*)
Acordei com um barulho na porta, havia trancado o quarto e nem percebi. Levantei meio tropeçando, ainda com um pouco de sono e abri a porta.
- Finalmente! Quer me matar do coração, menina? – vovó disse ao puxar uma de minhas orelhas.
- Ai, vovó! – doeu. Puta merda.
- Nunca mais tranque essa porta, ouviu Fernanda? – ela respirava pausadamente e mostrava que estava cansada. – Bati aqui ontem e você não atendeu. Acordei, e vim aqui novamente e você continuava sem responder, o meu coração ta que não se agüenta. Nunca mais faça isso! – senti-me culpada por deixá-la preocupada.
- Eu tomei um remédio para dormir ontem a noite, ele me apagou. Desculpa. Não percebi que havia trancado a porta. – disse a ela que assentiu.
- Só não faça isso novamente, mantenha a porta destrancada. – assenti. – Se arrume que o advogado vai passar aqui para nos pegar e levar a delegacia. Não demore ou então ficaremos atrasadas. – ela disse ao começar a caminhar pelo corredor.Fui ao banheiro fazer a minha higiene e depois segui para o guarda roupa para pegar uma roupa, escolhi algo básico, nada que chamasse atenção, já bastava o que eu estava indo fazer, isso já chamava atenção por si só. Tirei um poucos as minhas olheiras, pois mesmo dormindo, elas continuavam bem aparentes. Respirei fundo ao ouvir a campanhinha, era chegada a hora de ser forte.
- Fernanda, vamos! – vovó chamou da sala.
- Já vou. – gritei. Peguei a minha bolsa com os meus documentos e segui para sala. – Já estou aqui. – disse quando cheguei e levei um susto quando vi quem estava parado no centro da sala ao lado de vovó. – Você!
- Olá gatinha. Nós encontramos de novo. – sorriu.Não era possível que o cara abusado que me deu um banho de café seria o meu advogado, eu realmente era muito azarada.
Olá luzes! Fernanda chegou! Ela ainda está bem quebrada, minha bixinha. Maaaaaas, agora vamos com força total.
Essa semana volto com mais.
Beijos de luz no coração de vocês. 😘♥️🥰
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O mais louco amor (Livro 2 - Amores) RETA FINAL
Chick-LitJúlio Guimarães Lemos é a personificação da perfeição da espécie masculina. Simpático e alegre eram características que podem o definir, mas às vezes por trás de um sorriso existe um coração quebrado. Um advogado com sede de vingança é a outra verte...