O que eu quero mais é ser rei

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A bordo do Jolly Roger, o vento soprava forte, as velas estendidas como asas que cortavam o mar revolto. Heitor, exausto mas determinado, mantinha as mãos firmes no timão, guiando o navio através das águas traiçoeiras. Ao seu lado, Kalila encostava no rapaz, os olhos fixos na movimentação no convés abaixo.

— Zezinho e Helena se deram melhor do que eu esperava. — Kalila comentou, um leve sorriso no rosto.

Helena e o menino travavam uma luta de espadas improvisada, suas risadas ecoando pelo navio. Mais afastados, Will ensinava movimentos de combate a Beth, Huguinho e Luisinho, que observavam atentos.

— Beth reagiu bem após de ter ouvido toda a verdade sobre Maligno. Quando passou o susto inicial, ela foi receptiva. Não achei que ela iria escolher continuar com a gente, podendo ter voltado para Auradon. — Heitor permaneceu em silêncio, seu olhar viajando pelos tripulantes antes de se perder no horizonte. Estavam chegando perto de uma ilha. — Posso assumir o navio para você descansar.

— Meu cansaço é outro. — respondeu Heitor, sem desviar os olhos. — Anos. Anos procurando as malditas armas que o velho biruta disse que encontraríamos. E nada. Cada dia nessa busca é mais um dia longe de Mal.

Kalila permaneceu quieta por um momento, mas sua voz suave cortou a tensão.

— É melhor para eles que não saibam que estamos vivos. Você mesmo disse.

— E todas as vezes que Will me olha, vejo o quanto ele quer falar com Carlos. Ele não diz, mas eu sei.

— E ele sabe que nossa missão é mais importante que nossos desejos. — Os dois ficaram em silêncio, até que Kalila sorriu. — Quem diria que o irmão de Beth conquistaria o coração de Mal?

Heitor soltou uma gargalhada, sincera pela primeira vez em dias.

— Beth também ficou feliz. Aposto que Jay está aprontando horrores em Auradon Prep.

Kalila riu, o som leve cortando o ar salgado do oceano.

Mal observava os dois com um olhar inquisitivo. Algo não fazia sentido. Se aquela memória era real, por que Heitor parecia tão diferente do que lembrava?

— Zezinho! — gritou Kalila, interrompendo o momento. — Quantas vezes eu já disse para não mexer nos canhões?

— Mas Helena disse que podia!

— Eu disse não!

— Por que ela manda em tudo? — Zezinho protestou, cruzando os braços.

— Porque ela dorme com o chefe. — respondeu Helena, rindo, ao vestir seu sobretudo vermelho.

— Eu quero dormir com o chefe. — Zezinho disse cheio de inocência. arrancando gargalhadas de todos, exceto de Kalila, que apenas revirou os olhos.

Helena, mudando o assunto, se aproximou de Kalila e Heitor.

— Nossos suprimentos acabaram. Qual o plano?

— Tenho seguido os pássaros há algum tempo. Olha lá no horizonte. Tem uma ilha.

— E tem fumaça. — Kalila disse. — Deve ter gente.

Helena usou a luneta e estreitou os olhos.

— Parece um sinal de ajuda. Como os índios de Tigrinha faziam.

— Será que dividirão a comida? — Heitor debochou.

— A gente ataca primeiro. — Helena disse. — Não temos tempo para desperdiçar. Vamos invadir o local e...

— Não — cortou Heitor. — Beth e eu iremos primeiro. Investigaremos.

— E você escolheu o golden humano? — Helena zombou, mas o capitão ignorou.

Descendentes 4Onde histórias criam vida. Descubra agora