Capítulo 2

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As semanas seguintes correram como todas as outras, com exceção dos três dias sem aulas na semana seguinte à morte do professor John Blake. Uma foto dele foi colada em uma cartolina branca, onde os alunos podiam deixar mensagens para o finado artista.

Para não dizer que ignorei totalmente aquela homenagem, escrevi um singelo "descanse em paz, professor Blake; família Mitchell", mais por conta do meu irmão do que por mim mesmo, até porque ele não foi meu professor.

Depois de uma semana as aulas acabaram. Devido à morte do professor Blake, não houve o baile, mas a escola organizou uma cerimônia singela para os formandos na quadra da escola, sem música, sem decoração, sem nada. Apenas um discurso rápido da senhora Oxford e a entrega dos diplomas. A tromba de Mandy e Jeff pela falta da festa chegou a ser engraçada.

Mais ou menos um mês depois disso eu estava em casa á tarde separando o material que havia usado no ano letivo, quando ouvi o som inconfundível do caminhão Mercedes-Benz do meu pai dobrando a esquina. Larguei tudo como estava e corri para a sala.

Minha mãe estava terminando de preparar um café, pois sabia que papai chegaria em casa pedindo uma xícara. Ao ver minha alegria junto com a dela, rimos divertidas e ansiosas para a chegada do meu velho pai.

O som do freio a ar do caminhão dele ecoou pela casa e saímos para recepcioná-lo ainda no quintal. Como sempre, fui na frente e dei uma leve corrida em direção á ele quando ele saiu da boléia.

- Papai! – falei enquanto me jogava nos braços dele como uma criança de quatro anos.

Meu pai sempre foi grande e gordo, tinha uma força quase descomunal. Seus cabelos negros estavam já em parte grisalhos e suas marcas de expressão revelavam um homem que ria muito, e de fato ele ria. Suas roupas eram tradicionais de caminhoneiros: boné, calça jeans surrada, camiseta folgada e, por cima, uma camisa de flanela.

- Oh, minha pequena Jully! – falou ele me abraçando e me beijando no rosto – Minha pequena princesa, como você está?

- Estou ótima! E o senhor?

- Feliz por estar em casa com as minhas meninas – falou ele me colocando no chão e puxando minha mãe para um abraço.

- Meu Jack, como está, querido? – falou mamãe ao abraçar papai.

- Estou ótimo, querida! E estou sentindo o cheirinho do café!

- Acabei de passar – falou mamãe com uma piscadela.

- Eu amo minha família – falou papai brincando e beijando minha mãe e eu.

Entramos em casa sorrindo e nos sentamos á mesa para o café da tarde. Ficamos duas horas conversando, colocando nossos assuntos em dia.

Naturalmente eu comentei sobre o professor de artes, o que deixou meu pai um tanto desconfortável, pois na adolescência haviam jogado futebol juntos, mas nada que pudesse afetar seu humor.

- É uma pena – disse ele – mas, o que se pode fazer? A vida é assim, não é mesmo?

Mamãe e eu concordamos com um sorriso sem jeito.

- O importante é que a vida segue! – completou papai – Pessoas vêm e vão de nossas vidas, é natural.

- Por falar nisso – disse mamãe bebericando o café – eu soube que a casa aí da frente foi vendida.

- Já estava na hora! – falou papai mordendo um biscoito – Há quanto tempo ninguém morava aí mesmo? Dois, três anos?

- Quase isso, Jack.

Uma Rosa Para BarryOnde histórias criam vida. Descubra agora