Capítulo 33

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Opa, tudo bem galera?
Então... Ser papai é maravilhoso, mas pensa num trabalho 😴😴😴
Tá difícil escrever, mas estou tentando...
Espero que gostem do capítulo, é grandinho...

************

A quarta-feira começou normal. Acordei no meu horário de sempre e tomei café com mamãe, como parte fundamental daquela rotina que eu começava a mudar naquela época. Atravessei a rua em seguida e logo me encontrei com meu namorado.
Como estávamos fazendo nos últimos dias, entrei em sua casa para ajudá-lo com sua pasta super pesada de trezentos gramas e aproveitei para beijá-lo. Era legal, gostava daquilo. Naquele dia em especial peguei também a sacola com as tintas que ele comprou e levei tudo para Bret. Com o carro abastecido, fomos para a escola.
Assim que chegamos eu o ajudei a descarregar tudo e colocar em sua sala, dentro de um armário. Depois o acompanhei até a sala da senhora Oxford, onde ele entrou para falar com ela e eu fui para meu armário. E o dia de aula começou normalmente.
Conversei com Mandy no intervalo sobre o passeio do dia anterior. Ela sorria feito boba conforme eu contava, acho que ela estava realmente muito feliz por eu estar vivenciando aquilo. Em meio á nossa conversa, perguntei:
- E aí, vai fazer alguma aula dessas extracurriculares?
- Amor, eu ainda não sei... Estou pensando em fazer culinária, afinal eu vou me casar um dia e preciso fazer uma comidinha gostosinha pro meu Jeff, não é?
- Sim, precisa – ri – e que tal fazer a de pintura comigo?
- Não sei – ela respondeu pensativa – quero dizer, eu nunca fui lá muito boa em desenho, talvez seja interessante ter um hobbie que não envolva eu e Jeff nus num quarto de motel, não é?
Gargalhei loucamente com o comentário dela.
- Mandy do céu, você não presta! Agora é que eu não quero que você faça mais essa aula, vai que você fica secando... – fiz uma pausa e olhei em volta para ter certeza de que ninguém nos ouvia – Meu namorado – cochichei.
- Jully, querida, não precisa se preocupar – ela se aproximou de mim e cochichou – a bundinha do professor bundinha só você pode ver, pegar, apertar, morder... Fica a seu critério – ela terminou com uma piscadela e eu fiquei vermelha feito sangue fresco.
- Meu Deus, você me mata de vergonha, sua louca!
- Ai, deixa disso, vai dizer que não tem pensado nisso?
- Não... Quero dizer, não até agora, né? – dei risada e ela riu comigo.
- Mas eu acho que é uma ideia legal, vou fazer pintura com você. Vai ser legal, eu acho. E deve ajudar o professor, eu estava ouvindo o professor de literatura falar que é a aula que menos atraiu gente até agora.
- Ah, amor, que bom que você vai fazer então, assim ajuda nós duas, porque se cancelarem essa aula, eu vou ficar muito chateada...
- Imagino... Conta comigo nessa, Jully!
Sorrimos uma para a outra e terminamos nosso almoço.
Ao término das aulas eu tive que ir para o ônibus, afinal era quarta-feira e ainda não teria a aula de pintura. Como Barry já tinha ido embora, não tive outra alternativa senão ter que encarar o ônibus de novo.
O caminho de casa foi tranquilo, ainda bem. Connor, ainda parecendo o Robocop, ficou sentado no fundo do ônibus e, ao passar por mim, sequer olhou pra mim, mas eu tenho certeza de que ele tinha uma expressão triste. Não que eu me importasse, mas observei que ele parecia bastante cabisbaixo. Azar o dele.
Cheguei na Courtland e, antes de entrar olhei para a casa de meu namorado. Ele estava lá, mas não cheguei a vê-lo. Entrei logo e fui varrer e passar pano no chão da casa, assim quando mamãe chegasse, eu barganharia com ela a possibilidade de ir para a pizzaria com Barry, Lou e May.
Enquanto ouvia música fiz o serviço todo, e muito bem feito, por sinal, para não dar margens para réplicas, tréplicas ou o que mais mamãe pudesse inventar. No fim das contas, quando ela chegou, ás seis da tarde, viu que eu tinha me saído muito bem.
Quando eu ia pedir para falar com ela, a campainha tocou. Fui até a porta e abri. Era May:
- Jully, minha flor! – ela deu um sorriso lindíssimo e me abraçou como se fôssemos grandes amigas há muito tempo – Estava com tanta saudades de você! Como você está?
- Oi, May, eu estou bem, e você? – respondi tentando não pirar com o jeito meio afobado e meio atirado dela.
- Melhor agora!
Minha mãe ouviu a voz de May e veio da sala com um sorriso curioso no rosto:
- Jully? Quem é, minha filha?
- Mamãe, essa é a May, que Barry estava falando. May, essa é minha mãe, Lorraine.
- Senhora Mitchell, como vai? – May foi um pouco mais contida para falar com minha mãe – Barry falou muito bem da senhora...
- É um prazer, May... Pode me chamar de Lorraine, eu dispenso essa coisa de “senhora” – ela sorriu.
- Vocês chegaram agora? – perguntei.
- Na verdade tem pouco mais de meia hora, estávamos desfazendo as malas, mas agora estamos saindo para comer uma pizza... Eu vim chamar vocês pra irem com a gente!
Quando Barry falou que eles iriam sair para comer pizza ele tinha de fato me chamado, mas ele não tinha dito nada a respeito de chamar minha mãe junto. Eu sempre amei minha mãe, mas naquele caso, um duplo encontro com uma vela não seria nada divertido.
- Oh, May, eu agradeço muito – disse mamãe – mas eu acabei de chegar em casa, tive um dia corrido no trabalho, estou muito cansada.
- Ah, que pena – May fez uma expressão chateada, mas compreensiva – e você, Jully, quer ir com a gente? – ela sorriu enquanto juntou as mãos atrás de si e ficou se balançando.
- Eu não sei... – respondi cautelosa enquanto olhava para mamãe.
- A gente vai no Pizza Place, ali na Broadway... Eu sei que ela e Barry não devem se expor, mas não se preocupe, Lorraine, seremos apenas bons amigos conversando e comendo pizza.
Minha mãe olhou para May desconfiada, mas eu conhecia aquele sorriso que ela deu, ela iria deixar.
- Tudo bem, você pode ir – viva! – afinal, é só um programa de amigos numa pizzaria, não é mesmo?
- Com certeza – disse May sorrindo – não quer mesmo ir com a gente?
- Não, tudo bem, eu vou ficar aqui e descansar, mas divirtam-se!
Abracei minha mãe e fui até meu quarto pegar um casaco. Aproveitei, é claro, para fazer uma maquiagem rápida e trocar a camiseta por uma blusinha mais bonita. Depois desci e beijei mamãe antes de sair.
Lou e May estavam na porta da casa de Barry, só esperando por ele e por mim. Me aproximei deles e dei um abraço em Lou, que pareceu também muito feliz em me ver. Logo depois meu namorado saiu e fomos caminhando até a Broadway.
Fizemos o trajeto de maneira rápida. O ruim é que não pude dar a mão para Barry. Para evitar olhares e comentários fuxiquentos fiquei eu em uma ponta e ele em outra, com May e Lou de mãos dadas entre nós. Foi divertido.
O Pizza Place ficava próximo do Elaine's Café, onde eu tomei café algumas vezes com Barry. Era um lugar muito legal, com fliperamas e aquelas máquinas de apanhar ursinhos de pelúcia. Já tinha comido ali algumas vezes e sabia que a pizza era sensacional.
Eu preferia me sentar em uma mesa daquelas que tem quatro lugares, dois de cada lado, assim eu ficaria perto de Barry. Mas o risco de um deslize era grande, então sentamos numa mesa redonda, onde fiquei relativamente longe dele. Apesar que só de estar próxima dele num momento entre amigos, eu já estava feliz.
Ficamos ali mais de uma hora. Comemos, conversamos, demos risadas. Barry tinha razão em gostar tanto de Lou e May, eles eram ótimos. Brincavam com tudo, eram extrovertidos, eram pessoas que valia a pena se ter no círculo de amizades.
Eu entendi o que Barry quis dizer quando disse que May era “irritantemente maravilhosa”. Ela exalava simpatia, fazia você querer ficar perto dela. Seu sorriso era quase um convite pra você a considerar uma melhor amiga. Me apaixonei por ela.
Lou era um tanto extravagante. Durante o dia ele usava óculos escuros daqueles grandes e tinha um cabelo afro de tamanho médio muito legal. Usava roupas com detalhes meio chamativos e usava um relógio de ouro enorme no pulso. Mas sua simpatia e educação se sobressaiam e era muito fácil perder horas jogando conversa fora com ele.
Barry podia ser o tipo de cara que não tinha muitos amigos, mas os seus bem dizer “únicos amigos” valiam por muitos, tanto que naquele pouco tempo que ficamos ali conversando e comendo pizza, eu já os considerei muito queridos.
Falamos sobre diversos assuntos, apesar que eu mais ouvi do que falei, mas todos eles fizeram questão de sempre me incluir no assunto de alguma forma, para que eu não ficasse deslocada. Muito fofo da parte deles.
- E aí, garota – Lou disse em certo momento – seu pai já sabe do nosso clube do bolinha no sábado?
- Ainda não – respondi rindo – não falamos nada pra ele, assim a surpresa é maior.
- Sem falar que vou ganhar pontos com ele pra poder a notícia sobre nós – Barry acrescentou enquanto coçava a barba.
- Malandrinho – Lou brincou – eu estava pensando, será que seu pai gostaria de ganhar uma camiseta dos Wild?
- Nossa, ele ia amar! Eu o ouvi comentando algumas vezes sobre usar as jerseys dos times que ele torce, mas desde que compramos o carro as contas ficaram bem justas.
- Ah, fechou então – disse ele abraçando May – vai ser o nosso presente, gata.
- E a gente dá os pontos que a gente ganhar com seu pai pro Barry – disse ela piscando pra mim.
Dei risada e sorri para Barry.
- Gente, eu vou dizer uma coisa – falei um tanto tímida – eu comentei com o Barry semana passada que estava com muita vontade de passar um tempo com vocês desde aquela vez que eu conheci você – apontei pra May – e eu estou muito feliz de estar aqui hoje, vocês são demais, adorei vocês, de verdade!
Lou e May sorriram.
- Ah, garota, a gente também estava muito ansioso pra passar um tempo com você, não é, gata?
- Demais! Desde que Bar nos falou que vocês estavam juntos nós contamos as horas pra poder vir passar uns dias aqui, sair a quatro, essas coisas!
- Só é uma pena que tenha que ser assim – falou Lou fazendo menção á distância que eu tinha que ter de Barry.
- Mas eu já falei pra Barry – disse eu sorrindo – em dezembro eu faço dezoito anos e vamos ter um pouco mais de liberdade.
- Vai ter festa? – May perguntou.
- Não sei ainda, mas se tiver alguma coisa eu aviso vocês, faço questão da presença de vocês!
- Não perderíamos por nada, não é, bebê? – falou ela para Lou.
- Sem chance! – confirmou seu marido.
Sorri para eles dois e para Barry, que coçou a barba e me olhou com uma carinha tão linda que eu quase agarrei ele.
- Falando em aniversário e em idade – Barry começou – May, amanhã quando você for ficar com Jully e a mãe dela, conversa com ela sobre essa questão da diferença de idade, eu disse pra Lorraine que você ia contar como foi pra você quando vocês começaram a sair.
- Ah, pode deixar, vou tirar todas as neuras da cabeça da sua mãe, Jully – ela disse sorrindo.
- Tenho certeza de que vai – concordei sorrindo.
Ficamos ali por pouco tempo mais depois daquilo. Logo voltamos andando para casa, antes de o frio começar a ficar realmente forte. Paramos em frente á casa de Barry e eu, não podendo beijá-lo em público, apenas segurei sua mão com ternura antes de abraçar Lou e May. Fui embora com a promessa de que, no sábado, eles iriam para minha casa por volta de três da tarde.
Entrei em casa e contei para mamãe como tinha sido. Ela ficou satisfeita com o fato de eu ter gostado e disse que iria querer conhecer minha nova amiga melhor, pois ela parecia ser um amor de pessoa. May realmente exalava isso.
Fui me deitar por volta de nove e meia e resolvi não ligar para Barry, afinal ele estava com visita e seria indelicado deixá-los esperando enquanto conversávamos. Acabei dormindo cedo e, consequentemente acordei cedo.
Ás sete da manhã eu já tinha tomado café, como de costume, e atravessei a rua para minha carona para a escola. Para minha surpresa, Barry ainda não estava pronto. Bati na porta e ele me chamou para entrar um instante.
Como Lou e May estavam lá, ele iria sair meia hora depois, para poder dar mais atenção á seus convidados. Ele disse que na sexta-feira seguinte eu poderia ir mais tarde, mas claro que eu não iria fazer isso, assim passaria mais tempo com ele.
Ás sete e trinta e cinco nos despedimos de Lou e May e fomos para a escola. Comentei com ele no caminho que tinha entendido seu comentário acerca de May, “irritantemente maravilhosa”. Ele riu e falou que eu ainda não tinha visto nada. Fiquei curiosa em saber mais sobre seus amigos, que agora também eram meus.
Depois do horário de almoço fui com Mandy até a secretaria da escola para nos matricularmos na aula de pintura. Vimos que, fora nós, apenas mais três outros alunos tinham se inscrito, sendo dois garotos e uma garota. Senti um leve ciúme crescendo dentro de mim, mas preferi esperar até a próxima quarta para ver de quem se tratava.
Depois das aulas fomos embora. Dessa vez fui direto pra casa, pois naquele dia eu iria com mamãe para Rochester comprar um presente para papai. Ela me deu parte do dinheiro e disse que achava legal se cada uma de nós escolhesse algo diferente, assim ele ganharia dois presentes.
Em Rochester fomos ao Apache Mall. Lá rodamos por algumas lojas e escolhemos presentes bacanas para papai. Minha mãe comprou uma jaqueta e um relógio de pulso, enquanto eu comprei um boné e um DVD com um filme que eu imaginei que ele iria gostar muito.
Depois lanchamos no McDonald's, pois minha mãe gostava do lanche deles, enquanto eu amava as batatas fritas. Depois voltamos para Spring Valley, mas não sem antes passarmos numa papelaria e comprar papel para embrulhar os presentes.
Chegamos em casa perto de seis da tarde. Como tínhamos lanchado a pouco tempo, nem nos preocupamos em fazer jantar. Acabamos apenas embrulhando nossos presentes e fomos assistir TV.
Me deitei ás nove e meia, como no dia anterior, sem ter ligado para Barry. Meio que tinha prometido pra mim mesma não ligar para ele esses dias que ele teria visita, apesar de eu também ser amiga deles. Dormi rápido e acordei novamente cedo.
Foi mais cedo que o normal para a casa de Barry na manhã seguinte. Aproveitei que iríamos sair mais tarde e resolvi ir passar ainda mais tempo com ele e nossos amigos. Acabei comendo uma omelete com queijo que May fez e, confesso, estava maravilhosa. Conversamos um pouco e ás sete e quarenta e cinco saímos para a escola.
Depois das aulas voltei no ônibus pela última vez, já que a partir da semana seguinte eu teria aulas de pintura ás quartas e sextas e teria carona todos os dias para voltar pra casa. Mandy acabou indo no carro dos pais dela, pois sua mãe a buscou para irem para Mineápolis, já que era aniversário de uma tia dela no sábado.
Assim como nos últimos tempos, Connor não falou comigo, nem me deu atenção, mas o semblante triste dele permaneceu. Talvez eu estivesse fazendo falta pra ele, talvez seu cotovelo robótico doesse. Não me importei.
Passei o restante do dia muito ansiosa pela chegada de papai. Minha mãe falou que ele chegaria por volta de dez da noite naquela sexta-feira mesmo. Falei pra ela que ficaria em casa e não iria pedir para ir para casa de meu namorado, mesmo estando com muita vontade de vê-lo. Se papai chegasse antes e eu não estivesse em casa, o couro ia comer.
E realmente papai chegou ás oito e meia da noite. Ouvi o som de seu caminhão entrando na Courtland e, como já era rotineiro quando ele chegava ainda cedo, ele buzinou. Sorri e fui para a sala esperar pela sua chegada. Assim que ele entrou em casa, mamãe o beijou e o abraçou e eu em seguida. Nossa, como eu amava ter papai em casa!
Nós três nos sentamos á mesa e ele começou a falar sobre o trabalho enquanto comíamos. Durante a conversa ele falou:
- No domingo vamos fazer um churrasco para comemorar meus cinquenta e cinco anos. Como sei que Harry e Diane vem, vamos fazer uma pequena festinha em família. E pode chamar Barry, gosto dele e quero ele aqui com a gente!
Sorri de orelha a orelha.
- Sim, sobre isso – mamãe começou – ele está recebendo visita, um casal de amigos que vieram de Nova York.
- Eu conheço eles, são uns amores, o senhor vai gostar deles – completei.
- Pode chamar os dois – papai falou mordendo uma coxa de frango – é uma festa, amigos são bem vindos também...
Sorri novamente e toquei a mão de papai. Mamãe fez a mesma coisa e piscou disfarçadamente para mim. Entendi o sinal dela.
Fomos dormir cedo, como de costume e eu acordei ás sete horas. Desci e fiz um café, mas dessa vez usei as medidas de mamãe para não fazer besteira de novo. Tão logo terminei de arrumar a mesa, papai apareceu abraçado com mamãe.
Era impressionante a alegria de minha mãe quando papai estava em casa. Eu queria tanto que naquela época ele arrumasse outro emprego e ficasse mais conosco, mas naquele tempo a situação era delicada e ele estava há muitos anos na mesma empresa, seria perigoso se ele saísse de lá.
Tomamos café juntos e, para nossa surpresa, ás nove horas o telefone de casa tocou. Era Harry, dizendo que chegaria ainda antes do almoço, por ter conseguido sair cedo de casa. Ficamos muito felizes com isso, afinal sentíamos muita falta de meu irmão.
Dito e feito, ás onze e quarenta o carro dele buzinou na porta de casa. Recebemos ele com um sorriso no rosto e muitos abraços. Diane estava linda, como sempre, mas tinha algo diferente em seu semblante.
- Está tudo bem, Bandida? – perguntei á minha cunhada.
- Está sim, Madeixas, só estou com sono, acordei cedo demais e não consegui cochilar no trajeto.
- Se quiser tirar uma soneca depois do almoço, Diane, fica á vontade – mamãe completou.
- Acho que vou aceitar – ela respondeu com um suspiro.
Entramos em casa e almoçamos a comida especial de mamãe. Ela preparou um salmão grelhado maravilhoso com uma salada que estava de aguar a boca. Comemos com muito gosto, com excessão de Diane, que foi um pouco mais comedida.
Depois de almoçar nos sentamos na sala e fomos colocar o papo em dia. Em um determinado momento fui preparar uma jarra de suco na cozinha e meu irmão me seguiu. Olhei para ele sorrindo quando já estávamos sozinhos no outro cômodo e ele me abraçou demoradamente.
- Eu devia te perguntar se você tem merda na cabeça – começou ele enquanto me apertava – mas você é minha irmã, então eu sei que tem...
- Do que você está falando, Harry? – perguntei rindo de seu comentário.
Ele me soltou e colocou as mãos na cintura.
- Barry? Sério mesmo? – falou ele baixinho depois de conferir que papai não estava vendo ou ouvindo.
Gelei por um momento.
- Mamãe te contou, foi?
- É, ela contou, assim eu fico de pré-aviso quando seu namorado de quase cinquenta anos falar pro nosso pai de também quase cinquenta anos que ele está namorando a filha dele de dezessete!
- Nossa – eu ri sem graça – falando assim eu me sinto mal, seu chato!
- O que você tem na cabeça, Jully?
Apesar de parecer estar brigando, ele parecia mais querer entender do que me julgar.
- Aconteceu, Harry, a gente começou a passar tempo junto, eu o conheci melhor, eu vi que a gente tem coisas em comum e agora a gente está namorando.
- Meu Deus, Jully...
- Olha só, ele é muito respeitador, educado, mamãe gosta dele, papai também, até você gosta dele, oras! Eu sei que a diferença de idade é muito grande, mas o que a gente sente é maior que essa diferença!
- Tem certeza, maninha? Porque eu vou te falar... É uma diferença muito grande! – ele sorriu.
- Eu entendo sua preocupação, Harry, mas pode ficar tranquilo, a gente é consciente, sabe se portar e, se você quer saber, a gente só namora, ta? À moda antiga... – falei em tom explicativo.
- Menos mal – ele riu – senão eu teria que processar ele, você é menor de idade, cabecinha!
Sorri com ironia:
- Só até nove de dezembro, cabeçudinho!
Ele riu do meu comentário e fomos os dois para a sala de estar, eu com o suco e ele com os copos. Servimos nossa família e todos aprovaram meu suco, com excessão de Diane, que pediu mais açúcar, alegando que o suco estava meio amargo. Mas de modo geral, meu suco foi um sucesso.
Aproveitamos aquele início de tarde em família e conversamos bem descontraidamente. Foi bastante divertido, gostei muito daquele momento. Claro, que se Barry estivesse lá, eu iria gostar ainda mais.
Quando o relógio marcava pouco mais de três e meia da tarde a campainha tocou. Todos os músculos do meu corpo tremeram. Eu sabia que se tratava de meu namorado.
- Eu abro – disse me levantando.
Só pelo olhar de mamãe quando eu me levantei eu entendi que era para não demorar em voltar nem fazer nada que pudesse causar problemas antecipados. Fui até a porta e a abri. Barry estava parado na porta ao lado de Lou e May. Ele estava lindo com uma calça jeans, uma camiseta azul escura e um casaco de couro preto. Segurava seu boné com as mãos e tinha aquele sorriso arrebatador no rosto.
-  Jullienne, como está? – perguntou ele.
- Ótima... E você? Vocês?
- Todo mundo nos conformes, garota – Lou sorriu.
- Entrem, já está todo mundo aqui – falei abrindo passagem.
May tinha aquele sorriso conquistador no rosto e me beijou a bochecha quando passou por mim. Ao chegarmos na sala, Barry abriu aquele sorriso:
- Boa tarde, família Mitchell!
- Ah, Barry, meu amigo! – papai se levantou e foi até ele, abraçando-o – Como está se recuperando do seu acidente?
- Estou quase novo, Jack, quase novo!
Meu namorado cumprimentou todos com bastante simpatia. Ele abraçou Harry e cumprimentou Diane da mesma forma cavalheiresca que ele me cumprimentava incendiando minha calcinha. Definitivamente, ele cumprimentava as mulheres assim. Mamãe e Diane tudo bem, mas eu esperava que fosse só elas.
- Lou, May, essa é minha família – apontei para cada um deles – meu pai Jack, minha mãe Lorraine, meu irmão Harry e sua esposa Diane.
- Olá! – Lou acenou com recato.
- Oi, gente! – May foi mais extrovertida.
- Sentem-se, Barry, fiquem á vontade – mamãe falou.
- Obrigado, Lorraine, mas eu vou ser breve – disse Barrytocando o ombro de papai – Jack, fiquei sabendo que amanhã é seu aniversário...
- Cinquenta e cinco anos de muita experiência, meu caro – papai brincou – vamos fazer uma pequena festinha amanhã, quero você aqui, ouviu? – ele se virou para nossos amigos – E vocês dois também.
- Iremos vir, com certeza, mas eu queria te dar seu presente agora, por questões... Técnicas.
- Ora, Vercetti, deixa disso, eu quero a presença e o carinho de vocês, não ligo pra presentes!
- Ainda assim, Jack – ele enfiou a mão no bolso e puxou o presente de papai – feliz aniversário, meu amigo!
Papai pegou o presente e arregalou os olhos por um instante:
- Puta merda, isso é... Um ingresso pro jogo do Minnesota Wild... Hoje á noite?
- Todos nós vamos, papai – Harry respondeu enquanto Barry puxava do bolso os outros três ingressos.
- As mulheres não, pelo amor de Deus! – mamãe brincou.
- Puxa vida, Barry, eu não sei o que dizer... – papai balbuciou visivelmente emocionado.
- Lorraine e Jullienne me disseram que você é amante dos esportes e tem anos que você não assiste a um jogo no estádio, então...
Lou se aproximou dele e deu dois tapinhas em suas costas:
- Vamos na minha BMW, saímos daqui ás cinco horas, mano Jack!
Papai gargalhou alto:
- Ah, viajar de BMW até Saint Paul com meus amigos e meu filho e ver um jogo de hóquei! Já é um dos melhores aniversários da minha vida!
- Um programa de homens, Jack, do jeito que você gosta! – mamãe brincou.
- Não tenho palavras para agradecer, Barry! Vou ficar te devendo e muito!
Segurei o sorriso. Mamãe me olhou e fez a mesma coisa. Barry, pilantra, olhou pra mim e piscou. Seu plano estava indo de vento em popa. Agora era só torcer para papai não enfartar... Ou matar meu namorado.
- Bom – disse Barry – nós vamos nos arrumar, voltamos aqui ás dez pras cinco, está bem assim?
- Ah, está ótimo, vou ter tempo de tomar um banho – papai falou.
- Então está combinado, ás cinco saímos daqui, assim chegamos com folga – meu namorado concluiu.
Com tudo acertado, Barry, Lou e May voltaram para o outro lado da rua, enquanto papai ficou com um sorriso estampado no rosto namorando seu ingresso para o jogo de mais tarde. Rimos dele, mas ficamos felizes que ele tinha gostado do presente.
Logo em seguida papai foi tomar banho, seguido de Harry. Ele vestiu uma roupa confortável e, ás quatro e meia já estavam prontos para ir. No horário combinado eles saíram. May ficou na nossa casa conversando comigo, mamãe e Diane.
Ás seis e meia jantamos juntas e ficamos a noite toda bem dizer jogando conversa fora, até que por volta das sete horas Lou ligou para May avisando que tinham acabado de chegar ao Xcel Energy Center, lar do Minnesota Wild, em Saint Paul. Segundo Lou, papai estava deslumbrado com a arena e todo animado por ter ganho de Lou uma jersey do time da casa.
Assim que ela desligou, mamãe entrou no assunto que a interessava:
- May, desculpe a minha indiscrição, mas qual sua idade?
Ela deu aquele sorriso simpático:
- Vinte e seis.
- Nossa, parece muito menos – Diane observou.
- A quanto tempo você e seu marido são casados?
- Nos casamos no ano 2000, eu tinha vinte anos e ele estava prestes a fazer quarenta, mas começamos a namorar quando eu tinha acabado de completar dezoito e ele tinha trinta e sete.
- Ah, era isso que eu ia perguntar – mamãe começou com delicadeza – como foi quando você e ele começaram a namorar? Quero dizer, em relação á sua família.
- Meus pais são a situação oposta á minha – ela começou rindo – minha mãe é dez anos mais velha que meu pai, então a princípio foi bastante complicado, mas quando conheceram Lou melhor viram que ele não era um daqueles caras que só quer transar com a menininha novinha, e sim que ele gostava mesmo de mim.
Sorri ao ver a semelhança dele com Barry.
- No começo meu pai quis proibir, não apenas por ele ser mais velho, mas por ele ser negro também, mas a gente tinha um sentimento muito forte, a gente era bem unido como casal, sabe? A diferença de idade entre a gente não significou nada, a gente gostava demais um do outro, assim como eu sei que a Jully e o Bar se gostam – ela terminou com um sorriso e segurando minha mão.
- Eu acredito nisso também, May – mamãe falou – mas para mim é tão difícil ver os dois juntos e... Aceitar numa boa, entende?
- Ah, mas até hoje eu evito beijar Lou na frente dos meus pais. Quero dizer, Lou tem a idade do meu pai, literalmente! No começo meu pai dava tapas na mão de Lou quando ele pegava a minha mão!
- Meu Deus, que papai não invente de fazer isso – brinquei.
- Na presença deles a gente se comporta até hoje, sem muita carícia, sem nada disso. Hoje eles aceitam melhor, recebem a gente na casa deles sempre. Eu sei que a situação da Jully com o Bar é diferente, tem a questão da idade e da relação professor aluna, mas é importante tanto pra Jully quanto pro Barry quanto pra você e Jack que vocês apóiem eles.
May baixou os olhos um instante antes de continuar.
- Eu conheci meninas que fugiram de casa para ficarem com o namorado mais velho e nunca mais falaram com seus pais... Não que Jully vá fazer isso, ela não tem esse perfil, mas a falta de apoio dos pais para algo que causa tanta felicidade é perigosa demais. Claro que existem casos e casos, depende muito do cara, mas o Barry... Nossa, ele é o irmão que eu nunca tive, sempre me ajudou muito!
Diane e mamãe sorriram. Eu, então, quase rasguei a cara de novo.
- Quando eu comecei a fotografar para o catálogo das lojas deles, foi Barry quem mexeu os pauzinhos para eu conseguir. Lou foi contra, acreditem se quiser, mas Barry falou que esse rostinho aqui – ela tocou o queixo com uma das mãos – era a cara das jóias. E eu fotografo para o catálogo até hoje. Devo muito a ele.
- Então posso ficar tranquila que o senhor Vercetti não é um maluco? – mamãe brincou, mas visivelmente tranquila.
- Jully está em boas mãos, Lorraine, pode ter certeza – ela terminou olhando para mim e sorrindo.
- Que bom... Agora só espero que Jack não o mate quando ele contar para ele... – mamãe brincou, fazendo todas nós rir.
Continuamos conversando por mais um tempo, até que mamãe sugeriu que eu servisse bebidas quentes. Fui até a cozinha e preparei um chá de hortelã. Levei para a sala e tomamos, mas não sem antes Diane adoçar mais o dela. Ela estava parecendo uma formiga e todas rimos dela, inclusive ela mesma.
A conversa de mulheres foi muito produtiva. Bem como eu imaginei, mamãe e Diane se apaixonaram por May, assim como eu. E a história do relacionamento dela com Lou ajudou muito minha mãe a se tranqüilizar. Eu realmente senti que teria cada vez mais apoio em minha mãe.
Diane gostou dela também e, por mais que eu brincasse com ela chamando-a de Bandida, eu tinha muito carinho e respeito pela minha cunhada, e ela me apoiou tanto quanto mamãe depois de ouvir a história de May, o que era muito legal.
Meu irmão me mostrou que me apoiaria, apesar de estar inconformado com o fato. Mas Harry era fácil de lidar, afinal ele aparecia em casa com menos freqüência até que papai. Mas o apoio dele significava também o mundo para mim, era bom contar com ele.
Faltava agora ter o apoio de meu pai. Mas eu só saberia se ia ter o apoio dele quando ele voltasse do jogo de hóquei com os rapazes, o que só aconteceria perto de uma e meia, duas da manhã.
E acho que nunca na minha vida o relógio andou tão devagar...

Uma Rosa Para BarryOnde histórias criam vida. Descubra agora