Cap. 04

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Acordei bem cedo, não sei porque. Antes mesmo do despertador. Arrumei minha cama, escovei os dentes, troquei de roupa e fui em qualquer padaria comprar algo para comer. Optei por pão de queijo e um suco de caixinha. Voltei para casa, deixei tudo esquematizado para as duas e fui para o Batalhão de carro mesmo.

Cheguei lá, peguei meu uniforme no armário e comecei a me vestir. Fiquei conversando com a moça da faxina, já que só havia eu e ela ali.

- Chegou cedo, Srta. Williams... Aconteceu alguma coisa?

- Não, Delegado... - risos. - Hoje acordei disposta.

- Então tá bom - sorriu e entrou em sua sala.

- Bom dia, Jade - Diego passa por mim e me cumprimenta.

- Bom dia, Diego.

E foi assim com quase todos do BPM. Não demorou muito para o Capetão e minhas irmãs chegarem. Ele estava bem concentrado na tela do celular; ao me ver, apenas continuou andando. Poxa, o que eu fiz para esse cara?

- Oi, Jadezinha...

- Não vem, cobra - reviro os olhos.

- Nossa - Brenda se ofende.

- Você também foguenta.

- Eu? - Brenda fala desacreditada.

- Sim, exatamente você.

- Mas o que eu fiz? E por quê foguenta?

- Fica botando lenha na fogueira. Até parece que não lembra.

- Tá, desculpa Jade.

- Eu ainda não ouvi isso de você, Brenda - pirracei.

- Desculpa irmanzinha do meu coraçãozinho... - sorriu amarelo, logo após foi ao encontro do Delegado na sala do mesmo.

Dou risada e rapidamente lembro de que o Capitão tinha falado para eu arrumar os arquivos da sala dele. Putz, esqueci... Corri para a sala dele, ja vendo sua expressão raivosa direcionada para mim.

- Se você é uma ajudante, eu não sei o que não é.

- Desculpa, é que...

- Vá para a operação da Penha, agora! - ordena.

- Mas... - ele suspira nervoso e então eu vou para a operação.

Se ele pensa que eu vou ficar arrumando as folhas da mesa de trabalho dele, ele está muito enganado. E bota enganado nisso. Eu sou ajudante, não empregada.

- Aconteceu alguma coisa? - olhei para trás e vi Diego me encarando.

- Deixa quieto - bufei.

- Vai para a operação da Penha?

- Fui obrigada.

- Por que não queria ir?

- Meus pais foram mortos lá, está bem? Vamos logo, o Capetão vai falar bosta no meu ouvido - balanço a cabeça negativamente e ando até a viatura que Diego estará responsável por dirigir hoje.

- Capetão? - dá risada, lembrando da cena de minutos atrás.

- É, bem a cara dele - viro o rosto, observando o caminho, pouco me importando.

- Jade... Toma cuidado. Você está falando do Capitão do BPM. O mais famoso do Rio de Janeiro, para ser exato.

- Tô nem aí.

- Tu não tem jeito mesmo, hein?! - Risos.

- Nunca tive - dei risada, descontraída com a situação.

- Relaxa. O Capitão só está​ cismando contigo porque ele quer ver se você é do nível dele.

- Você quer dizer que ele quer que eu seja uma miniatura de capeta??? - fingi espanto e Diego se rachou de tanto rir.

- Tá, chega. Não vou te fazer mudar de ideia.

- Ainda bem que você sabe.

- Nossa, a mocinha está muito respondona. Seus pais não te deram educação, não?! - brinca.

Na mesma hora estremeci. Ainda é difícil lembrar dos meus pais, do passado que eu tive, das mãos de quem já passei, a vida que levei e levo até hoje. E quando alguém pergunta, eu fico assim. Exatamente sem palavras para respondê-la.

- Melhor parar o carro aqui, mesmo - mudei de assunto.

- Por quê?

Apontei a arma para frente, mostrando um dos suspeitos da operação. Ele estacionou o carro como eu havia dito e se escondemos para observar melhor. Montamos uma barreira com os melhores policiais e seguimos o plano babaca do Capetão.

- Não está dando certo, ele está fugindo... - ouvi Diego informar no radinho.

Me levantei bruscamente de onde eu estava agachada, indo para o meio dos traficantes. Olhei no fundo dos olhos de cada um deles e, sei lá, me veio uma lembrança tão ruim... Uma coisa que não sei explicar.

- Deita no chão e larga a arma! - ordenei.

Ele deu um sorrisinho de lado e continuou sem mexer um músculo.

- DEITA NO CHÃO E LARGA A ARMA! CREIO QUE VOCÊ NÃO QUER RECEBER UM TIRO NO PEITO, AGORA - falei com toda a raiva que sentia na hora e, o mesmo, olhou a situação, vendo que estava cercado por dezenas de policiais e então se rendeu como eu falei.

Coloquei meu pé nas costas dele, o algemei. Fui empurrando o sujeito até o porta-malas da viatura que eu estava, esperando os outros policiais, que estavam segurando outros traficantes.

Assim como naquela outra operação com o Capetão, todos os policiais ficaram admirados com minhas ações. Hoje não me senti veterana ou mais que os outros. Me senti no dever de algemar com as minhas próprias mãos, um dos merdas que estragaram com a minha vida.

Entrei no carro a espera de Diego. Depois de um tempo falando com os outros policiais, Diego entra no carro e começa a dirigir. Fechei o meu vidro, me escorando ali mesmo.

Como pode? Eles não têm recentimento de como eu e minhas irmãs ficamos depois que ele e seus comparsas fizeram aquilo com nossos pais? Nem um pinguinho de arrependimento por terem deixado três pobres menininhas órfãs? Não, claro que não, Jade. Eles são traficantes. Traficantes matam dezenas de pessoas por dia. Eu me vinguei de um, mas ainda quero me vingar dos outros quatro. E assim que surgir oportunidades, eu vou me vingar da mais cruel e pior maneira possível. Eles que me aguardem...

- Jade? - olhei para ele, que me observava estranho. - Já chegamos à dez minutos - informou.

Saí totalmente do transe e abri a porta, deixando o carro. Diego me acompanhou até entrar no Batalhão.

- O Capitão vai te matar.

- Uhum - falei olhando para as mãos.

- Você não se importa?

- Ai, Diego, ele que se dane! Ele faz um plano bosta e depois que eu tento melhorar esse plano bosta, ele reclama?! Que se dane! - respondi firme.

- Tá, mas por que você estava em um transe profundo lá no carro?

- O Capetão já está me esperando - mudei de assunto, aproveitando que ele apareceu.

A cara dele estava a mesma de sempre. Talvez um pouco pior. Mas não liguei. Aliás, se eu fiz o que fiz, eu tenho um motivo.

O Capitão 1 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora