Cap. 05

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— O que foi aquilo Srta. Williams? Você acha que é contratada para deixar de seguir meus planos no local? VOCÊ ACHA QUE DEVE FAZER O QUE QUISER? — Bate na mesa com toda a força.

— Não.

— EU NÃO OUVI.

— NÃO — o olhei com raiva.

— Por que fez aquilo? Você poderia ter morrido e levado todo o plano do BPM junto com você. És uma incompetente mesmo!

— Você acha que com um plano ridículo daquele você iria prender algum dos sujeitos? Se eu fiz o favor de prender um deles para você, no mínimo um parabéns eu deveria receber por ter pensado em alguma estratégia na hora. Você acha que é fácil seguir os planos do Capitão sem questionar e poder opinar em nada?
Vai.se.ferrar! — Virei-lhe as costas.

— VOLTA AQUI, SRTA.WILLIAMS! AINDA NÃO TERMINAMOS NOSSA CONVERSA!

— PODE ASSINAR QUE A DEMISSÃO FOI DE JUSTA CAUSA...

— VOCÊ SÓ NÃO VAI SER DEMITIDA POR SER UMA DAS MELHORES DAQUI! — Informou.

— AH, QUE ÓTIMO. SUA PIEDADE ME COMOVE.

Saí de lá furiosa. Como pode? Não faz nem um mês, uma semana que estou aqui e tudo isso já está acontecendo. Uma coisa que está me irritando ao nivel do Capetão — ou quase — é ela: Aline Ross. Desde que entrei aqui no Batalhão essa mulher fica me encarando e desviando olhares.

— Que foi, fofa? Ele te demitiu, foi? — Ao dar risada fez com que os outros também caíssem na gargalhada. Pior do que ela é só essa gente hipócrita que dá risada de coisas fúteis que Aline fala.

— Olha aqui, Aline Ross — falo com um jeito de gente mesquinha —, quem você acha que é para cuidar da minha vida desse jeito? O que eu e o Capetão fazemos ou falamos dentro de uma sala não importa nem para você nem qualquer outra pessoa daqui. Aprende, fofa.

— Você vai morrer com um tiro no estômago ainda, garota — me olhou séria.

— Isso é uma ameaça, linda? Bom, espero que não. Qualquer coisa um processo resolverá, não é mesmo? Aliás, olha o tanto de testemunhas. Hum, curioso, quem é que iria me matar? — Risos. — Você? — Dei muita risada. — Prefiro ser morta por gente que saiba atirar. Capaz do seu tiro acertar o portão do BPM.

— Está insinuando que eu não sei atirar? — Perguntou desacreditada.

— Iiiii, a cobrinha cascavel se ligou na indireta.

— Sua mãe deve ser uma vadiazinha mesmo para te dar tamanha educação.

Avancei nela e comecei a lhe dar socos seguidos um do outro.

— AAHHHH, SOCORRO! ESSA GAROTA VAI ME MATAR.

— AINDA BEM QUE VOCÊ SABE, CRETIDA, VAGABUNDA, IDIOTA!

— Solta ela, Srta. Williams — o Delegado exclamou atrás de mim. Saí de cima do corpo dela, encarando o homem de terno e gravata. — Vamos para a minha sala — ordena.

Voltei nela e dei um chute no nariz da mesma. O único som que reproduziu no local foi um belo estralo.

Talvez agora minha jornada no BPM tenha acabado, mas se tiver, tenho consciência limpa de que defendi minha mãe mesmo quando ela não pôde estar aqui para se defender. Pelo que sempre ouvi dela, provavelmente ela teria classe de se retirar sem bater nem discutir com ninguém, ela era dessas — dura na queda. Desculpa mãe, queria poder ter escutado essas barbaridades sem ter machucado ou retrucado ela, mas o meu espírito de filha defensora falou mais alto. Promete que quando nos encontrarmos a senhora não vai me dar um puxão de orelha por tal ação? — risos.

Segui o Delegado até a sala dele. Nos sentamos nas cadeiras de couro na cor preta. A decoração de sua sala era bem parecida com a do Capetão, eu acho que a única diferença é que a do Delegado tinha mais ar de autoridade mesmo. Não sei explicar o porquê. Enquanto eu pensava em sua decoração, o dono da sala me olhava cabisbaixo.

— Srta. Williams, nunca imaginei esse tom agressivo da sua parte. Sinceramente, vi toda a sua ação de hoje e te achei realmente excelente e experiente, mas vendo a cena de agora... Qual foi a provocação que ela te fez?

— Vou falar a verdade, essa mulher, desde que cheguei aqui me enche de piadinhas desnecessárias, revira os olhos e etc. Isso não é de hoje. Se fiz o que fiz foi porque eu não aguentei e explodi. Agora ela falou da minha mãe, meu ponto fraco.

— Srta. Williams, você não pode ceder a provocações. Não irei te demitir, mas você irá ficar duas semanas de suspensão por justa causa.

Revirei os olhos e me levantei imediatamente da cadeira.

— Espero que reflita no que você fez hoje. E não se preocupe, vou ter essa mesma conversa com Aline.

Saí da sala, passando pela quadra e arrancando olhares curiosos. Aquela vagaranha sorriu vitoriosa com o nariz todo sangrando, provavelmente quebrado.

— O que aconteceu, Jade? — ouvi uma de minhas irmãs perguntarem atrás de mim.

— Ele te demitiu? — uma das duas, creio que Brenda, questionou também.

— Eu não quero falar disso agora!

— Mas...

— RESPEITEM MINHA DECISÃO! POR FAVOR — respondi, já perdendo a linha.

— Jade, calma... — Diego aparece com os meninos.

Comecei a tirar o uniforme ali mesmo, já que hoje eu havia vestido o mesmo por cima da minha roupa. Tirei a bota, a calça, a blusa e ainda soltei meu cabelo. Deixei minha roupa de trabalho no chão.

— Jade, eu sei que ela falou da nossa mãe... — Brenda sussurra quando estou perto dela.

— Que bom que você sabe, Brenda, que bom — as lágrimas escorriam rapidamente. — Talvez vocês tivessem calma ao falar com uma pessoa hipócrita dessa, mas eu não. Nunca vou superar ter perdido os meus pais por pessoas ruins, muito menos pessoas que não sabem pelo que tivemos que passar para poder estarmos aqui hoje. Odeio gente que se intromete na minha vida, fala o que quer e não gosta do que ouve. Se alguém um dia quiser falar dos meus pais do jeito que aquela sujeita disse, eu juro que faço pior.

Minha face queimava. Era como se eu estive pegando fogo por completo. Minhas mãos começaram a formigar e minhas pernas ficaram bambas. Lembrei da cena da briga e daquela piranha falando da minha mãe. As lágrimas vão rolando pelo meu rosto, fazendo arder mais ainda. Saí correndo daquele lugar, ouvi as minhas irmãs me chamarem, mas continuei correndo. Entrei no meu carro e tranquei todas as portas. Minha respiração não era uma das melhores, meu peito subia e descia, a raiva que eu estava daquela mulher era tão grande que nem mesmo eu acreditava.

Fiquei assim, apoiada no volante por alguns minutos. Levantei a cabeça, limpei minhas lágrimas, finalmente decidi ir para casa. Me deitei na cama, eu precisava descansar depois desse dia tenso.

• Cecília on

Quando vi Jade deixando o uniforme no chão eu percebi que a situação estava precária. O que será que aconteceu para ela sair daquele jeito? Era mais do que notável as lágrimas em seu rosto vermelho. Ela estava mal, eu sentia.

O Capitão 1 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora