Cap. 42

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- Tá, chega, não vamos mais lembrar disso. Outro dia você me conta mais sobre essa história, você não está em condições de falar disso. - tento o levantar do sofá apenas o puxando pelos braços mas ele não moveu um músculo.

- Quando eu já tinha uns dez anos, num dia comum, eles começaram a brigar por que minha mãe estava citando a posibilidade dele parar de beber. Lembro bem. Cada detalhe, cada momento, cada palavra trocada... Eles saíram no quintal de casa, ao piscar os olhos, ela já estava no meio da rua e ele na calçada. Eu e os meus irmãos estávamos na rua jogando bola, mas no momento da briga paramos para observar até onde irião ir com aquilo tudo. Num momento de distração, onde minha mãe se alterou mais gritando com ele e gastando suas energias, onde só se ouvia sua voz falando "Você é um monstro!", passou uma caminhonete e... - enxugou uma lágrima. - E aí que nossas vidas tiveram um motivo para ficar totalmente sem graça e emoção. Os dias e as noites dando beijinhos na bochecha dela, os "bom dia" ou "boa noite" dela, nunca mais foram ouvidos por nossa parte. Aquela voz doce avisando sobre o almoço estar pronto ou falando que já era hora de dormir. Aquele bolo que só ela sabia fazer... Tudo foi embora junto com ela. As noites se tornaram um pesadelo para nós três. Toda vez ele entrava no nosso quarto, nos acordava, e nos batia. Eu tentava defender meus irmãos e sempre se resultava em eu apanhar mais do que o comum. Ele nos batia como se tivéssemos matado nossa mãe, talvez, por isso que nos odeie tanto. Toda vez só falava que a culpa era nossa e etc. Até hoje não suporto a dor de ter perdido minha mãe por causa desse babaca. Tudo bem que se não fosse por ele eu não teria vindo ao mundo, mas se fosse para escolher entre minha mãe ter escolhido um homem de bem, honesto, do qual poderia ter seus filhos e ser feliz com eles, ou eu não ter nascido, eu escolheria não ter nascido. Só para ela não ter tido esse fim que teve. Muitos me criticam por odiar mais do que o normal o meu próprio... - pausa e suspira. - Mas enfim, eu não gosto dele, ele não gosta de mim, e estou nessa casa apenas pelos meus irmãos. Nunca se sabe o dia que dá a louca nele e o mesmo faz algo com eles. Não me imagino perdendo mais alguém que faz um papel importante na minha vida. Bom, depois que minha mãe morreu ele nos levou para morar com a amante dele. Do qual também traia. Ela era uma pessoa boa, nem sabia que ele já tinha uma mulher, e muito menos, filhos. Ela aceitou pois sabia que nas mãos dele nós não estaríamos seguros, e também para arranjar uma maneira de se "desculpar" da minha mãe. Ficamos uns dois ou três anos com ela, mas ela acabou morrendo num tiroteio que teve onde morava. Daí eu, como era o mais velho dos irmãos procurei algum lugar para trabalhar. Sim, com apenas treze anos de idade eu já trabalhava. Consegui emprego numa sapataria perto de onde minha segunda mãe morava. A casa ficou com a gente, ele nem sabia como estávamos e que ela tinha morrido, ele nunca soube nada da gente. Uma tia minha se mudou para lá e começou a cuidar da gente, mas quando completei quinze ele ficou sabendo de tudo que havia acontecido com a gente e ameaçou ela de morte se não se mudasse para longe de lá. Como eu já tinha quinze anos eu pude trabalhar melhor, num emprego melhor, em condições melhores. O tempo passou, fiz dezoito, saí da escola, fiz todo o processo para trabalhar no Batalhão e acabei sendo escolhido. Nisso a minha vida pessoal e profissional deslanchou. Todos me admiravam, me idolatravam, mas não era por isso que eu gostava de estar no BPM. Não era para ser idolatrado e admirado que resolvi estar ali, foi mais pela minha mãe, por tudo que minha família passou, por tudo que vivenciei nas histórias dos jornais. Mortes e mortes causadas por esses traficantes de merda, eu queria sim, mudar o país. Talvez um pouco. Tirar essa fama do Brasil de país que acontecem muitos crimes e não acontece nada por causa da justiça. Não consegui bem isso, mas faço o meu melhor até hoje. Todos pensam que sempre tive muito dinheiro, sempre tive uma vida boa, uma família da qual me amava, mas na verdade ninguém sabe da minha versão.

- Nossa, Jake, que história triste. - abraço ele ao mesmo tempo que as lágrimas caíam por meu rosto. Eu simplesmente fiquei emocionada com tudo que me falou até agora.

- Desculpa por esse meu jeito grosso, que não demonstra sentimentos pelos outros, que sempre fez da sua vida um inferno... É que eu nunca senti por ninguém antes, o que estou sentindo agora por você. E também, com todas essas coisas que tive que passar na vida, me tornei uma pessoa fria e sem sentimentos. Me desculpa, de verdade.

- Eu sempre soube que você tinha uma grande história nas costas para ser quem você é. Por isso nunca julguei você por ser assim. Mas não fique desse jeito, sua mãe e as pessoas que te criaram devem estar te olhando e muito orgulhosas. Você é uma pessoa boa, só não demonstra. E tem um porquê. Seu pai entrou numa vida que fez mal não só para ele, mas também para vocês, e só vocês sabem o quanto isso dói. Também perdi meus pais, isso dói, eu sei, mas isso acontece justamente para aprendermos a ser fortes e encarar os nossos problemas simplesmente sabendo lidar com eles. Olha, prometo te fazer feliz e esquecer pelo menos um pouco de tudo de ruim que já aconteceu na sua vida. Eu estou aqui, disposta a refazer sua história.

Ele sorri e segura em meu rosto com as duas mãos, ali, partindo para um beijo cheio de sentimento. Eu, por um minuto, senti o peso de tudo que aconteceu com ele. Agora entendo o porquê ele sempre foi esse cara fechado. Talvez por medo de demonstrar sentimentos e acontecer com essa pessoa o que aconteceu com a mãe dele. Perder essa pessoa. Perder alguém que já foi parte dele um dia. Estou disposta a mudar isso tudo. Aliás, se não fosse para isso, nós nem teríamos se cruzado, até porque, nada é por acaso.

NA❤

Pois é, corujinhas, agora vocês conheceram o outro lado de Jake Dornan. Espero que estejam gostando da história ❤ Comentem o que vocês estão achando, o que gostariam que acontecessem, enfim, criatividade de vocês. E outra coisa, eu adoro conversar com vocês, então por favor comentem para eu interagir com os mesmos, ok?! Adoro os comentários de vocês❤ Pensem num povo criativo para comentar o que está achando❤😂

O Capitão 1 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora