- Lívia, por favor, vá para a minha casa agora. Preciso conversar com você e as meninas, não estou me sentindo bem.
- O que aconteceu? Está bem, estou indo para ir. - encerra a ligação.
- Flávia, está fazendo alguma coisa, agora?
- Não, por que? Aconteceu alguma coisa?
- Mais ou menos, preciso conversar com você e as meninas.
- Ok, já estou à caminho. - desligo.
- Fê, vem aqui em casa, preciso conversar com você e as meninas, não ando muito bem.
- Ok, já estou indo.
E depois de ligar para elas eu cheguei em casa. A pé, como vim. Deixei o portão aberto, para elas já entrarem. Me deitei na cama, fiquei segurando uma almofada de coração, pequena, que eu tinha, e pensando. As lágrimas eram visíveis, e por isso é mais trocentos motivos eu estou com raiva daquele desgraçado. Chamei Cecília e Brenda também, já que elas sabem da história e pelo meu ponto de vista entenderiam pelo o que eu estou passando nesse exato momento.
- Olá... - Fernanda abre a porta devagar e Lívia e Flávia pareciam estar atrás dela. - O que aconteceu, amiga? Por que está chorando?
- É, ficamos preocupadas.
- Pode começar a contar. - Flávia senta na cama e espera eu começar de contar.
- Bom...
- Desculpa a demora, estávamos avisando ao pessoal que íamos sair rapidinho. - Brenda avisa entrando junto com Cecília no quarto.
- Então, eu preciso muito desabafar sabe... - suspiro. - Cecília e Brenda sabe o que eu tive que passar minha infância inteira. - olho para as mesmas e elas me olham tristes. - Louis, aquele que falou ser e na verdade é, meu irmão. Adotivo, claro. Quando eu tinha uns seis anos de idade, também quando meus pais o adotaram, começou todo esse pesadelo. Mais ou menos um mês depois que ele veio para casa. Adorávamos ele, era o nosso sonho ter um irmão para saber a experiência. E com Louis não foi diferente. Espontâneo, divertido, alegre, com quinze anos de idade já havia conquistado a gente. Até que numa noite como qualquer outra, ele entra no meu quarto. Naquela época eu, Cecília e Brenda dormíamos no mesmo quarto, mas nesse dia, justo nesse, elas e meus pais foram para a casa da nossa avó, em Curitiba. Louis então teve que ficar cuidando de mim, na verdade, só olhando o que eu fazia e me dando remédios. Eu fiquei doente. Nessa noite, quando eu já havia me deitado e estava quase pegando no sono ele entra no quarto. Até então fazendo cafuné em mim. Suas mãos começaram a deslizar até minhas pernas desnudas por causa de um short, e aí eu comecei a perceber suas intenções. Infelizmente era tarde demais. Minutos depois ele começou. Enfim, isso aconteceu por anos. Três, para ser exata. Para muitos parece ser pouco, mas para mim, isso durou quase uma vida. Parecia que eu nunca estaria fora dessa. Meus pais morreram no dia 20/12, Louis foi para longe, aproveitando a morte deles. Ele tinha medo de ser descoberto. Foi o primeiro Natal que passamos sem nossos pais. O Natal mais chato das nossas vidas. Uma tia da gente passou a cuidar de nós, até que ela também morreu. Uns seis anos depois. Quando tínhamos acabado de completar treze anos. Fomos mandadas para um orfanato de BH, onde nascemos e fomos criadas até os três anos de idade. Era tudo muito rígido. Eles obrigavam as crianças, incluindo nós, comermos, mesmo sem querermos. Tínhamos que dormir sete horas em ponto e acordar às cinco da manhã para ir para a escola. Era horrível. Eu rezava todos os dias para aparecer um casal de bom coração e adotasse nós três, mas o inesperado aconteceu. O orfanato pegou fogo dois anos depois, com mais de cem anos de existência. Como já tínhamos quinze anos de idade, procuramos um emprego por lá mesmo. Moramos de favor na casa de uma senhora muito bondosa. Ela já estava muito idosa, morreu uns meses depois. Descobrimos que ela nos deixou um herança, nada de abrir a boca e levantar as mãos para o alto, mas foi o que ela mais gostava, a casa. E um pequeno valor no banco. Deu para sobrevivermos trabalhando na lanchonete da esquina, onde nem havia movimentação direito e por isso ganhavamos pouco. Aos dezessete, terminamos os estudos e resolvemos nos mudar para o Rio de Janeiro novamente, já que havíamos guardado uma boa quantia para vivermos lá. Aqui fizemos um curso e uma prova, e passamos de primeira. Falavam que éramos um mito na história da Polícia Militar, assim como nossos pais. Estou feliz, encontrei meu grande amor, minhas amigas que eu não via à muito tempo, conheci novos, estou na melhor fase da minha carreira, mas tem algo me encomodando.
- O que? - Lívia questiona.
- Quando fui sequestrada... - começo a chorar novamente. - Louis abusou de mim de novo.
- E você não fala nada? Como você está? Você deveria denunciar esse cara! - Brenda se levanta raivosa, andando de um lado para o outro.
- Calma. - deixo lágrimas escorrer. - O pior... É que, agora, eu vejo Louis em todo lugar.
- Como assim? - Cecília indaga.
- Hoje, à alguns minutos atrás, encontrei Jake no Batalhão, sentado no pequeno muro enfrente sua sala. Nos falamos, expliquei sobre ter saído do hospital mais cedo, e assim como todo casal com saudade, nos beijamos como se não houvesse amanhã. Entramos para sua sala, a coisa começou a ficar mais intensa, seus toques mais quentes, e aí me veio na memória o Louis fazendo isso comigo. Por um segundo eu vi o Louis fazendo aquilo comigo, naquele momento, mas na verdade era Jake. Foi quando me senti confusa e saí de perto dele. Ele estranhou, perguntou o que tinha acontecido, se fez algo de errado, mas na verdade, foi isso. E fora que na rua, em todos os lugares, eu estou vendo Louis. Um trauma de infância que veio à tona e não vai sair da minha cabeça tão cedo. Não é loucura, é medo! Eu estou morrendo de medo. Fiquei sabendo que não conseguiram prender ele. E se ele vir atrás de mim? Que é o que provavelmente vai acontecer. Eu não sei o que fazer, onde me esconder, só sei chorar, lembrar dos momentos ruins. Sei que Jake e todos vocês querem meu bem e está fazendo o possível para isso, mas eu não consigo me sentir bem e protegida sabendo que um louco está atrás de mim querendo sexo e mais sexo, mesmo sabendo que somos irmãos. Nem que seja adotivo. Eu não vou sossegar enquanto não ver Louis... Morto. - olho para cada uma e suspiro. - Pagando pelo que fez e ainda vai fazer se ninguém impedir. Eu não sei por onde procurar ajuda, eu não estou bem, eu sei disso. E o pior é que a Polícia e a justiça nunca esteve ao meu favor, não nessas ocasiões pessoais. Fora dessa farda somos pessoas normais, com vida, como a de qualquer um, com os mesmos problemas, assim como qualquer cidadão.
- Amiga, eu sei que nós todas não estamos tão próximas de você assim como antigamente, mas eu, todas nós, faremos o possível e o impossível para te ver bem, com um sorriso no rosto, sem se preocupar com esse canalha.
- Isso aí, a Flávia está certa. - Lívia continua. - Vamos te ajudar no que precisar, agora, mais do que nunca.
- Todas nós. - Fernanda sorri.
- Você já sabe que pode contar com a gente. - Cecília levanta as mãos como forma de rendição, sorrindo, tirando de nós gargalhadas.
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O Capitão 1 (Concluído)
RomanceJade Williams acabou de ser escolhida para substituir o Capetão do BPM, como prefere chamar. Um dos mais bem falados, sucedidos, e bem de vida naquele Batalhão. Junto com suas irmãs, gêmeas, lutou e conquistou a vaga mais cobiçada do Batalhão da Pol...