Cap. 36

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O garoto segurou minha farda com força, com certeza, com medo. Quando vi mais de dez sujeitos reunidos com armamento pesado, uma mulher desmaiada no chão, e uma menina de mais ou menos uns oito anos morta numa forca, me assustei completamente. O garotinho em meu colo começou a chorar derrepente e assim agarrou meu uniforme com mais força ainda, afundando o próprio rosto em meu peitoral.

— Tá louco, mermão? — todos se viram e me encaram, já apontando as armas grandes para mim.

Eu não consegui dizer uma palavra, eu estava sozinho, ou eu morreria ou eu morreria. Não tinha nenhuma chance de eu escapar dali. Me surpreendi quando alguém arrombou uma porta ao nosso lado, (pois é, esse lugar é cheio de portas), e logo percebi que se tratava de Jade. Meu Deus, essa garota quer morrer? Só nós dois aqui dentro. E aliás, cadê os outros? Tudo incompetente!

— Qualé, olha a namoradinha dele... Veio salvá-lo. — dá uma leve ombrada no sujeito ao lado e todos riram. Olhei para Jade, no mesmo instante ela olhou para mim e em seguida para o garoto no meu colo. Virou o rosto e voltou a focar nos sujeitos.

— Abaixem as armas! — ordena mirando sua pistola 9mm - Taurus neles.

— Você acha que nos assusta com essa pistola? Aqui tem doze homens da pesada, com fuzil na mão, e mais fortes que você. — se gaba para ela, dando risada.

Jade não gostou nadinha de ter recebido essas palavras de irônia deles. Se à conheço bem, ela não vai deixar isso barato.

POW!!!!!

Foi o disparo que sua pistola emitiu depois de dar um tiro bem no peito de um. Após ele cair no chão e gemer de dor, quase todos foram para cima dele.

— Tá metendo o loko?! — se aproxima dela apontando o dedo na cara da mesma.

Como se não bastasse Jade ser uma das melhores policiais, se não for a melhor, outra vez me surpreendeu. Deu um soco no estômago dele e um no rosto, o pegando desprevenido.

— Vai defender seu namorado... — mais uma vez riram de sua cara, agora foi um outro sujeito.

— ELE NÃO É MEU NAMORADO! E MESMO SE FOSSE, EU ACHO QUE DEVERIAM O TRATAR COM RESPEITO. SE NÃO SABEM, ELE É O CAPITÃO DO BPM! E OUTRA, EU IREI DEFENDÊ-LO ONDE E ATÉ QUANDO EU QUISER, POIS ELE CONTINUA SENDO UM MEMBRO IMPORTANTE DA EQUIPE, E GARANTO QUE SEJA MELHOR DO QUE DEZ DE VOCÊS.

— Se ele é tão bom assim, porque ainda não...

— PORQUE SE VOCÊ NÃO PERCEBEU, O QUE EU ACHO QUE NÃO SEJA O CASO, ELE ESTÁ COM UMA CRIANÇA NOS BRAÇOS. INCLUSIVE, O FILHO E IRMÃO DAS MULHERES QUE ACABARAM DE MATAR.

Assim que ela falou isso todos os policiais entraram na sala e apontaram suas armas para os sujeitos. Claro que eles se renderam, até porque, tinham mais policiais do que eles.

— Você ainda vai morrer, eu tô dizendo! Vou mandar algum truta te matar, fica vendo. — diz aquele malandro que tomava frente da situação.

— Nossaaaa!!!! Tô morrendo de medo. — responde Jade toda despreocupada e com um jeito descolado. — Avisa para ele tomar cuidado, com o BPM não se brinca, e acho que você já descobriu isso.

Assim que me levantei, vi que um sujeito ainda estava solto, observando todas as ações que os policiais faziam. Pisquei. Foi quando já vi ele mirando uma fuzil na Jade. Ela não fazia ideia de que ele estava fazendo isso, pois estava de costas para ele e de frente para mim. Rapidamente tirei minha .40 do cinto e atirei nele. Jade se assustou e olhou para trás, imaginando o que tinha acontecido. Suspirei pesado, dando graças à Deus por aquela operação ter aparentemente acabado. O garotinho me olhou esperando alguma reação minha, mas apenas o abracei forte. Eu sabia tanto quanto ele que o mesmo precisava disso. Coitado, uma criança tão ingênua, não viveu quase nada da vida e já perdeu a mãe e a irmã por causa desses assassinos de merda.

Senti uma presença feminina me abraçando por cima do garoto, e só pelo seu cheiro único já soube de quem se tratava.

— Obrigada. — agradece assim que se desfaz o abraço.

— Não foi nada. — sorrio sem mostrar os dentes. — Eu que tenho que agradecer. Se não fosse por você eu estaria caído no chão com umas vinte balas na testa. Ah, e valeu penas palavras.

— Só não se acostuma. — dá um soco de leve no meu braço, sorrindo.

— Namorados? — o garotinho pergunta meio embolado e com um sorriso no rosto.

— Não. — risos.

Diego e mais um policial tiraram a garota da forca, à deixando no chão, junto com a mãe. Nessa hora eu estava lá fora, já para o garotinho em meu colo não lembrar do acontecimento tenebroso que acabará de ocorrer com seus familiares, pelo menos, não por enquanto.

— Oii. — Jade chega apertando as bochechas de leve do pequeno.

— Oii. — responde com um sorriso no rosto.

— Tudo bem? — assente. — Vem aqui. — estica os braços e o garotinho pula para os mesmos.

— Como é o seu nome?

— Pietro.

— Nome bonito. — ela elogia e ele sorri.

— Tem quantos anos?

— Seis.

— Cadê seu pai?

— Trabalhando.

— Ele sabe que você está aqui?

— Não sei.

— Vamos levar você para a delegacia, depois iremos ligar para seu pai, assim ele pode buscar você, ok? — assente.

— Ligamos para o IML à alguns minutos atrás, eles já estão vindo. — Diego informa vindo até nós. — Quem é esse pequeno? — pergunta após apertar sua bochecha levemente.

— Filho e irmão das duas vítimas. — sussurro em seu ouvido e ele abre a boca surpreso.

Jade me entregou o menino, por questão dele já estar quase dormindo. Bateu um vento forte e ele abriu os olhos na hora. Peguei um casaco na viatura, que sempre trago comigo, colocando no mesmo. Não demorou muito para o pequeno adormecer em meus braços. Parecia um anjinho dormindo. Ele era muito bonito, era inacreditável como uma criança tão pequena já tinha os olhos azuis, cabelos dourados e escorridos até metade de sua testa, lábios avermelhados, pele branquinha, e até tinha estilo. Diego assumiu o volante na volta, já que eu estava com o garoto nos braços e Jade quase dormindo de cansaço. Como não tinha nenhum sujeito no nosso porta-malas a gente não precisou parar na delegacia e deixá-los lá, apenas fomos direto para o batalhão. Acabamos que optamos por deixar o garoto no Batalhão, já que pela localização o pai dele trabalhava perto de lá.

Peguei mais alguns casacos na minha sala e já que minha cadeira deitava um pouco, foi bom para mim. Sentei, me aconchego um pouco, ainda com o menino em meus braços coloquei os casacos por cima da gente e ficamos assim, deitados, quentinhos, o que foi um dos motivos para eu dormir ali mesmo. Já era umas 05h50 da manhã, meu plantão de quarta já tinha acabado.

O Capitão 1 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora