O jeitinho de criança

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Lorenna:

- Eu só preciso apresentar o trabalho e depois vamos nos encontrar com o Enrico para irmos okay?! – Benjamim perguntou assim que chegamos na porta da sala, apenas assenti e ele pediu que eu esperasse. – Professor, licença. Eu tenho uma amiga que ta hospedada lá em casa e queria perguntar se o senhor deixa ela assistir essa aula hoje. – O professor abriu um sorriso assim que viu Benjamim e confirmou. Ben me chamou e eu entrei na sala. Estava lotada, tinha muitas pessoas, e todas pararam para me olhar na hora que entrei. Não me intimidei e olhei para o professor.

- Muito prazer, pode me chamar de José. Geralmente eu não aceito pessoas de fora, mas como hoje é o último dia, abriremos uma exceção. – O professor disse e eu sorri. Ele disse mais algumas coisas e apontou para uma carteira na frente, ao lado de onde ele estava sentado. Me sentei e ele pediu para que Benjamim e seu grupo começasse a apresentar. Eles começaram a falar e o professor parecia prestar muita atenção. Quando Benjamim começou a falar, ele me olhou e logo depois voltou a sua atenção para os demais que estavam na sala, percebi que ele tinha ficado envergonhado e começava a ficar vermelho.  Sorri por saber que ele ainda tinha esse lado envergonhado por baixo daqueles músculos e barba de um homem. 

Ao final, o professor se levantou e começou a aplaudir, fazendo os outros fazer o mesmo. Fiz a mesma coisa e o professor foi até a frente e disse:

- Pra fechar e vocês tirarem nota máxima na minha matéria, vocês saberiam me resolver essa equação? – E passou algumas fórmulas na lousa. Todos ficaram olhando um tempo e eu analisei.

- Professor eu não tenho certeza que o senhor já tenha passado isso. – Uma garota falou depois que todos ficaram em silêncio.

- Ninguém se arrisca? – O professor perguntou.

- Posso tentar? – Perguntei e todos se surpreenderam. Ele me estendeu a caneta e eu fui até a lousa começando a fazer as contas. Ao final percebi que a lousa inteira estava cheia de contas e o professor olhou para mim.

- Você fez faculdade de engenharia?

- Não, eu tranquei a faculdade de design. – Respondi colocando a caneta em cima da mesa.

- Onde aprendeu isso?

- No exército. – O professor sorriu. - E bem.... Um amigo meu me ensinou também, a gente costumava disputar quem resolvia mais equações em menos tempo. - O professor ergueu uma sobrancelha.

- Ótima forma de passar o tempo livre. - Brincou e alguns riram, incluindo eu. - Bom, depois dessa Benjamim está dispensado. Pode ir e foi um prazer Lorenna. - Apenas assenti e nós saímos.

- Caramba Lorenna com quem aprendeu tudo aquilo? - Benjamim perguntou animado, com a mochila nas costas. Eu arrumei minha bolsa e sorri.

- Bom, quando eu não ia pra casa aos finais de semana, o Ítalo fez eu engolir livros e mais livros de matemática. Ele me ensinou tudo que era possível, depois peguei gosto. Eu gostava de ter uma distração pra não lembrar de algumas coisas por que sabe.... Era doloroso. - Ele sorriu.

- Entendo você querer se manter distraída, eu fazia a mesma coisa antes de ir pra Nova York. - Ele sorriu tristemente. - Preciso te mostrar as fotos depois.

- Deve ter sido o máximo!

- Foi sim, mas ia ter sido perfeito se tivesse sido com você. Como a gente  é sempre planejava. - Desmanchei o sorriso e fiquei lembrando de todos os nossos planos. Um deles era conhecer Nova York juntos. - O Enrico já deve estar nos esperando. Vamos logo para não nos atrasarmos. - Apenas assenti e continuamos andando até encontrar Enrico na porta. Ele nos cumprimentou e seguimos em direção a seja lá onde estávamos indo.
Por todo o caminho fiquei lembrando dos nossos planos. Conhecer Nova York, nos casar na igreja da cidadezinha antiga dele e fazer uma festa no sítio, construir uma casa, abrirmos nossos próprios negócios, viajar e ter nossos filhos... Um casal. Tudo que sempre sonhamos. Meu coração se apertou e me permiti fechar os olhos e tentar esquecer.

Anjo PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora