Um dia atípico.

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Benjamim:

Sexta-feira chegou e nada de eu conseguir conversar com a Lorenna. As coisas em casa ainda estavam estranhas. Passamos a semana inteira planejando as coisas da viagem, tirando vistos e separando as coisas. A semana foi corrida para todos, e Lorenna deu a desculpa de que estava cansada demais pela a correria para conversar.

 Os únicos que estavam agindo normalmente eram Thomas, Enrico e Leyla.

Amanda e Rodrigo ainda não tinham conseguido conversar. Depois da tentativa de Rodrigo (e que Amanda havia batido a porta na cara dele), ele não havia tentado mais.

Por causa disso, o projeto do aniversário de Lorenna estava sendo feito somente por Amanda. Estava combinado que nós iríamos para a fazenda do Barto, em Minas Gerais e a festa seria lá. O problema é que já seria no dia seguinte e a Lorenna não queria ir de jeito nenhum. A festa estava marcada para o feriado de segunda-feira bem no dia em que cairia o aniversário dela.

Já havíamos chamado todos e estava tudo combinado. Faltava apenas dois dias, porém o clima lá não estava dos melhores.

– Minha filha, hoje você está meio branca. Não precisa ir pro trabalho comigo, fique em casa e descanse. - Leyla disse avaliando a filha. - Tomou seus remédios? - Lorenna assentiu. Seu olhar estava tenso. - Então eu recomendo que você vá tomar um banho. Não vou chegar tarde hoje! - Beijou a testa da filha e deixou a mesa do café.

– Você está bem Lorenna? - Perguntei a ela. Lorenna me ignorou e continuou comendo. - Lorenna eu tô falando com você. - Falei grosso. - Tem como parar de ser criança e me responder? - Ela bateu a mão na mesa e me olhou com raiva.

– Tem como você me deixar em paz? - Gritou e saiu da mesa. Fiquei estático no lugar por sua reação e Thomas e Amanda pareceram assustados.

– Alguém acordou de mal humor hoje! - Enrico comentou.

– É abstinência. - Falei depois de pensar um pouco. - Não tem dia. Só vem os sintomas, mesmo com o remédio. Faz quantos meses? - Perguntei.

– Três meses que ela não usa nada. Quase quatro. - Thomas respondeu.

– Ela tá nervosa hoje. Pode ficar até agressiva. - Todos nós respiramos fundo.

– E o que fazemos? - Rodrigo perguntou.

– Eu não sei! - Respondi já cansado.

– Vamos só agir normalmente. - Amanda falou e nós concordamos. O dia se passou lentamente e todos nós estávamos na sala assistindo televisão. Lorenna respirava alto e rápido. Olhei para ela e percebi que transpirava bastante. Ela fechou os olhos e virou o pescoço, como se estivesse com dor.

– Não podemos fazer assim, vai ficar feio. - Amanda disse alto para Rodrigo.

– Não vai ficar feio Amanda. Para de ser teimosa! - Rodrigo respondeu irritado.

– Tem como vocês dois pararem? - Lorenna rosnou e os dois pararam imediatamente. Pareciam até que tinham parado de respirar. 

– Eu vou fazer o almoço, já passa das quatro da tarde. - Enrico falou e eu assenti. Por termos tomado café tarde, o almoço acabou ficando pra mais tarde ainda. – Você leva pra Leyla um prato depois Benjamim?

– Levo sim. - Respondi e ele foi para a cozinha.

– Não estou com fome. - Lorenna falou se levantando e indo em direção a escada. Levantei indo atrás dela.

– Você vai sim! - Peguei seu braço. Ela virou com raiva e tirou seu braço de mim.

– Não toque em mim!

– Você para de me tratar como se eu fosse te fazer algum mal Lorenna! - Respondi a ela em um sussurro magoado e com raiva. 

– Eu não duvido de ninguém. Quem não dirá que alguém aqui dentro vai me fazer algum mal? - Perguntou com raiva ainda. Ela estava com os punhos cerrados.

– As pessoas que estão aqui te amam. Por que você está assim? Me conta! - Falei alto.

– Você abaixe seu tom de voz comigo. - Ela falou alto também.

– Eu não vou abaixar nada, por que você está agindo insuportavelmente desde o dia em que disse que te pedir em namoro era uma "bobagem". - Disse. Ela me encarou.

– Por que você acha que é uma bobagem? Isso não é bobagem pra mim Benjamim. - Disse um pouco chorosa e começou a me bater. Eu a segurei pelo os pulsos e a olhei bravo.

– Sobe. AGORA! - Gritei com ela como nunca havia feito antes. Talvez pelo o choque dela e de todos que assistiam a discussão, ela fez uma expressão surpresa e começou a subir as escadas. Eu respirei fundo.

– Benjamim quer que eu vá falar com ela? - Amanda me perguntou preocupada.

– Não, eu vou! Terminem de mandar as coisas pro Thomas comprar. Amanhã tem que estar tudo certo pra terça tirarmos a Lorenna da fazenda pra arrumar as coisas. - Falei cansado e comecei a subir as escadas. Lorenna estava sentada na varanda, balançando a perna sem parar. Entrei no quarto e ela me olhou, ainda irritada e um pouco assustada. Pensei um pouco no que eu poderia fazer para a acalmar e lembrei de algo. – Tira a camiseta e deita na cama Lô... - Ela me olhou mais assustada ainda e indignada.

– O que você vai...

– Confia em mim. - A interrompi sério e firme. Ela ainda ficou me olhando um tempo e logo em seguida levantou um pouco trêmula. Ela tirou a camiseta, ficando só de short e sutiã e foi até a cama deitando. - Vira de costas. - Ela virou ainda trêmula e eu fechei a porta do quarto. Fui até ela.

– Benjamim o que você vai fazer? - Ela perguntou com medo.

– Confia em mim, por favor. - Pedi em um sussurro e ela suspirou. - Lembra quando você estava nervosa e tensa e eu sentava desse jeito e te fazia massagem nas costas? - Perguntei me lembrando de antigamente. - Você relaxava tanto que chegava a dormir. - Ela sorriu com a cabeça apoiada no travesseiro. Comecei a fazer massagem nas suas costas e ela relaxou completamente, tirando a tensão do seu corpo. Fiquei algum tempo assim, até que ela dormiu. Eu respirei fundo por aquele momento de alívio e levantei com cuidado tentando não a acordar. A cobri e fiquei a olhando um tempo.

Sua expressão agora estava serena, porém sua respiração pesada como de quem estava cansado. Fechei um pouco suas cortinas e sai do quarto fechando e deixando a porta aberta. Ela estava na fase depressiva, e os sintomas de irritação estavam piores e logo viriam os de melancolia... aquela névoa que ela dizia se sentir tentada a entrar de novo. Me senti cansado também e fui para o meu quarto, deitando na cama. Acabei dormindo também.

Anjo PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora