O reencontro

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- Podem deixar suas coisas aqui em cima. – Disse Leyla apontando para o sofá da pequena sala, mas aconchegante. A sala tinha uma parede de vidro de correr, que ia para um pequeno quintal com lavanderia. A sala era em conceito aberto com a cozinha, que também era pequena mas bem equipada, e com uma mesa redonda de quatro lugares. Deixei minha mala e minha mochila nos sofás e respirei fundo tentando controlar as batidas descompassadas do meu coração. Até então parecia tudo normal. Também havia um sofá em formato de L e mais duas poltronas, todas da cor creme. Uma mesinha de centro, e na frente uma televisão grande com videogame embaixo.

- Ela não joga mais videogame? – Perguntei passando a mão pelo o videogame que parecia estar intocado fazia tempos e suspeitava que se não fosse a limpeza de Leila, ele já estaria empoeirado. 

- Não. Acho que ela nem sabe que tem ainda. Deixo ai com a esperança de que ela descerá uma tarde e ficará jogando enquanto trabalho, mas faz meses que isso não acontece. – Leyla respondeu suspirando de forma nostálgica. – Eu vou mostrar o quarto de hóspedes e logo depois eu pego um outro colchão, tudo bem? – Ela perguntou gentilmente e eu apenas assenti. 

- Muito obrigada por nos hospedar aqui. – Diana agradeceu e Leyla sorriu. 

- É o mínimo que posso fazer... Vocês estão com fome? Posso preparar alguma coisa. 

- Não obrigado, estamos bem. – Rodrigo agradeceu. Eu mal conseguia respirar direito, quem dirá comer algo. 

- Tem um banheiro em baixo da escada, fiquem à vontade. – Leyla informou. 

- A senhora continua gentil... eu lembro que era naquela época longe do pai da Lorenna. - Leyla desfez o sorriso e estremeceu e dei um passo a frente. - Desculpe Leyla, não foi a intenção de fazer relembrar, é que...

- Não! - Ela me interrompeu gentilmente. - Você está certo! Você era só um menino e o pai dela... ele o tratou... bom... eu não sei como eu deixei ele tratar a minha anjinha daquele jeito. - Disse com os olhos brilhando com as lágrimas e eu neguei. 

- Não Leyla, como poderia? Ele ... ele assustava qualquer um! - Falei e ela suspirou. 

- Mulher por favor, não ache que foi sua culpa. - Rodrigo pediu passando um braço por seus ombros de forma engraçada, o que a fez rir. - Só doido pra não ter medo daquele cara, tipo o Benjamim. - Apontou pra mim e ela riu mais enxugando as lágrimas, Diana também aproveitou a "quebra" de assunto pesado e também não resisti, rindo fracamente. 

- Vou levar vocês lá.  - E logo em seguida pediu para a acompanharmos e nós subimos as pequenas escadas. Paramos em um corredor e ela abriu a primeira porta. Um quarto grande, de cor clara e bem iluminado apareceu na minha visão. Várias caixas de papelão se dispunham no canto do chão, empilhadas delicadamente. – Desculpa a bagunça com as caixas. São as coisas da Lorenna. – Ela disse e eu segui para as caixas. Abri uma e vi seus livros preferidos guardados. Abri outra caixa e vi suas canecas e suas pelúcias. Continuei abrindo.... Roupas, revistas, lápis de cor, canetinhas, papéis, objetos... 

- O que é isso? Por que ta tudo guardado? Ela ama essas coisas. – Perguntei indignado para Leyla. 

- Eu não sei. Acordei num dia e estava tudo aqui já. Quando eu fui perguntar para ela o porquê, ela apenas me respondeu por que quis. – Balancei a cabeça desnorteado e respirei fundo. Fechei as caixas novamente desnorteado e nunca me senti pisando em um campo minado, tanto quanto eu sentia ali. Definitivamente a Lorenna não era a mesma. E como poderia?

- Eu quero ver ela. – Leyla desfez o sorriso e respirou fundo. Ela saiu do quarto e nós à acompanhamos novamente. Ela parou na última porta no final do corredor e antes de bater me olhou. 

Anjo PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora