Novos planos.

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Benjamim:

– Onze horas já? - Disse me levantando da cama e indo até o banheiro. Na noite passada quando havíamos chegado, Diana me fez alguns curativos e se colocou no colchão ao lado da parede. É claro que ela não estava mais lá. Tomei um banho rápido e desci as escadas. Enrico, Rodrigo e Diana conversavam animados sentados a mesa.

– Mas então, eu estava pensando em comprar um vestido vermelho. Eu vi um maravilhoso em uma das lojas lá em São Paulo. - Diana disse animada.

– Diana você quer conversar sobre vestidos com a gente? - Enrico perguntou e eu ri. Eles me olharam.

– Está melhor? - Rodrigo perguntou.

– Tô sim, obrigado! Voltar pra casa.... É estranho! - Eu disse e me sentei.

– É, eu também tô achando isso. Nos apegamos muito ao pessoal e a casa cheia. Aqui é cheio, mas mal vemos a galera. - Rodrigo disse e eu assenti.

– Por isso que eu acho que nós deveríamos nos mudar. - Enrico disse e eu o olhei surpreso.

– Tá doido? - Perguntei a ele.

– Ben qual é? O que te prende aqui? A faculdade, estamos dando adeus. Estamos nos formando semana que vem, nenhum de nós tem um trabalho, Diana acabou o estágio dela no hospital. Os pais de ninguém vivem nem próximos daqui. - Enrico explicou dando boas razões. - Já não está na hora de ter o próprio canto? Vivermos entre nós? Nós estávamos conversando com o pessoal, e todos estão procurando uma casa grande para poderem morar todos juntos. Você não acha uma boa idéia? - Enrico me perguntou e eu olhei para Diana e Rodrigo.

– Eu concordo com o Enrico. Lucas está formado e surgiu um emprego em São Paulo para ele, Amanda não quer morar no sul por que é frio, em consequência Vini e Ricardo vão para onde a irmã for. Thomas também está se formando no outro mês, Aline, Isabela e Richard já moram em São Paulo mas estão procurando algo que possa morar os três ou mais pessoas. Barto também está querendo ir embora de lá. - Diana disse e eu tentei entender.

– E a Lorenna fica sozinha? - Perguntei. Eles sorriram.

– Leyla já estava querendo ir embora de lá, se aposentar e ajudar Amanda com o negócio dela. Lorenna pode pagar a faculdade que quiser ou transferir sua vaga pra qualquer lugar. - Diana disse.

– E ela já está de acordo com a mãe! Ontem antes de sair pra viagem, ela disse pra mãe fazer o que era melhor para as duas. Leyla acha que a cidade onde aconteceu tudo com Lorenna está fazendo mal para todos, ela quer algo não em São Paulo, mas nas cidades vizinhas ou em algum condomínio. Ela está disposta a pagar qualquer preço pra sair de lá. - Enrico terminou de explicar.

– Pensa que demais seria nós todos morando no mesmo condomínio ou na mesma casa. - Diana disse e eles me deixaram com mil coisas na cabeça. Eu realmente sentia falta dos meus pais já que os via duas vezes ao ano só.

– Eu vou pensar. - Eu respondi. Minha cabeça já estava cheia.

– Pensa logo por que Barto e Leyla já estão vendo as casas. - Diana disse e eu fiquei um pouco desesperado.

– Eu preciso falar com a Lorenna. - Eu disse e levantei, subindo para o meu quarto. Peguei o celular da Diana e procurei o número da pousada. Discou algumas vezes antes que uma moça atendesse.

– Oi, eu poderia falar com a Lorenna?

Lorenna:

– Esse café da manhã está maravilhoso! - Eu disse sorrindo. Eu estava na frente de uma mesa cheia de frutas, sanduíches naturais, sucos e alguns bolos que estavam com uma cara ótima.

– Todos os dias serão assim, então aproveite! - Gabi disse e nós rimos. Pegamos nossos pratos e sentamos nas almofadas no chão, com a mesinha a nossa frente. Não coloquei pouca comida no prato querendo sim me sentir cheia, já que por muitos meses meu café da manhã era um copo de Whisky e três cigarros. Estremeci e senti enjoo só de pensar e afastei o pensamento rapidamente,, prestando atenção na conversa. 

– Depois do café eu vou na igreja, alguém quer ir comigo? - Fernanda perguntou e todas assentiram. Ela me olhou esperando a minha resposta.

– Ah eu não sei.... - Respondi sem graça.

– Até o final do café me fale, aí vai conosco. Caso não... sem problemas nenhum! - Assenti e nós continuamos tomando café. Depois eu havia marcado uma massagem e depois uma aula de zumba. Naquela madrugada eu havia sentido alguns sintomas de abstinência e foi muito difícil passar por aquilo sozinha. Eu sempre tinha Benjamim ao meu lado num momento desse, minha mãe e Thomas e fiquei muito assustada quando me vi sozinha. Mas tentei fazer tudo que eles tinham me ensinado, assim como os médicos e consegui dormir uma hora depois. 

– Lorenna? - Mirella disse ao meu lado. - Desculpa atrapalhar. - Pediu sorrindo simpaticamente.

– Imagina, eu já acabei. - Falei.

– Tem uma ligação para você lá na sala. - Ela disse e eu levantei imaginando que seria minha mãe. A segui até a sala com os pés descalços. Eu havia feito uma trança, estava de legue e regata. O dia estava quente e maravilhoso para aproveitar na piscina como várias mulheres já estavam fazendo. Ela me mostrou o telefone e eu peguei.

– Quando terminar é só desligar e voltar para os seus afazeres. - Disse sorrindo.

– Obrigada Mirella. - E saiu fechando a porta. – Alô? - Sentei no banquinho.

– Lorenna? - Meu coração disparou e um sorriso bobo se instalou nos meus lábios. 

– Oi Ben... 

– Você está bem? - Ele parecia sorrir pelo outro lado da ligação e lembrei daquele sorriso. 

– Eu estou e você? Você está melhor?

– Estou, a Diana refaz os curativos e passa pomada, então acho que até a formatura fique tudo bem. Eu não quero atrapalhar o seu descanso então vou perguntar rápido. - Ele brincou e eu ri.

– Não está atrapalhando. Tenho coisas marcadas só daqui a pouco...

– Certo, mas mesmo assim... você merece descansar. - Eu sorri mais ainda. - Você está pretendendo se mudar com a Leyla?

– Sim, estou sim. Minha mãe acha que ficar na cidade em que tudo aconteceu pode ser mais difícil pra mim e bom... meu filho não está enterrado lá e sim em São Paulo junto com os meus avós. Eu acho que não tem nada que me segure onde estou... - Terminei a frase em um sussurro lembrando do dia do velório dele que eu não compareci. 

- Não sabia disso Lô... - Ele respondeu baixo também. 

- Bom, de qualquer forma acho que pode ser um bom recomeço. Pra todos.

- Ótimo... ótimo... eu concordo. Bom, vou deixar você fazer suas coisas ai. Eu... - Ele hesitou e pigarreou. - Eu to com saudade. Foi estranho acordar hoje e não te ver. - Eu sorri mais. Deus eu tenho certeza que parecia uma idiota! 

- Também estou com saudades! - Respondi e eu pude ver seu sorriso do outro lado. - Bom, então... até. Se cuida e faça as coisas por você Benjamim! 

- Fica tranquila, eu faço terapia. - Gargalhei e ele riu do outro lado. 

- Bobo! 

- Tchau meu anjo. 

- Tchau Ben... - Voltei para o restaurante e me sentei animada e olhei para as meninas. - Eu vou na igreja com vocês. - Elas se animaram e bateram palmas. Nós nos levantamos e seguimos para a igrejinha que havia no fundo da pousada.

Era um lugar calmo e bem fofo. A igrejinha era de madeira, e havia algumas flores na entrada. Parei na porta fazendo o sinal da cruz, e quando entrei me senti bem. As meninas foram logo se sentando em frente ao altar para poder rezar, mas fiquei alguns bancos atrás sentando e ficando ali, pensando em tudo. Não sei quanto tempo fiquei ali, não sei quantas lágrimas derramei e também não vi quando as meninas saíram, mas eu sabia que aquele alívio que eu sentia dentro de mim, eu não queria perder nunca mais. 

Anjo PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora