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Rocco

Olho pra varanda do meu quarto que fica na direção da cama, daqui dá pra ver que ainda tava escuro, peguei o celular e na tela marcava três da manhã.

Coloquei o celular de volta sem fazer barulho pra não acordar Giovanna que tava dormindo em cima de mim, tirei o cabelo dela que tava caindo sobre o rosto e coloquei atrás da orelha vendo seu rosto calmo e tranquilo de sempre.

Os acontecimentos da noite anterior veem como flashes em minha cabeça, passo a mão no rosto deixando um suspiro escapar.

Nem lembro direito o que fiz, só sei que usei tudo que encontrei pela frente. Queria me desligar, esquecer tudo, sumi do mundão, nem que fosse por apenas algumas horas ou simplesmente minutos. Não pensei em mais nada.

Cheirei, bebi, fumei, injetei.
Peguei pesado demais, pô. Posso fazer isso não. Eu mesmo tava me matando, me fudendo.

Mas foi quando essa porra ruiva chegou que caí na real. Sei nem explicar, mas aqueles olhos me transmitiram uma calma do caralho. Mesmo com toda bagunça ao redor, e o jeito transtornado que eu tava, o medo que ela tava – só não quis demostrar –, mesmo tudo isso acontecendo ela contínuo com o mesmo olhar calmo de sempre.

Eu poderia ter feito algo, machucado, até a arma pra ela eu apontei e ela continuou tentando me ajudar.

Porra.
Que merda eu tava que fui puxar a arma pra mina?

Não sei se gosto da ousadia por ela ter ficado, ou acho burra por não ter ido embora quando teve oportunidade. Porque ali eu poderia ter feito qualquer coisa, tava com a cabeça em outro lugar, viajei legal, tava vendo coisa de outro mundo, paceiro.

Giovanna se mexeu em meus braços virando pro outro lado, aproveitei pra sair da cama, não ia conseguir dormir novamente. Coloquei o edredom em cima dela que já tinha ido parar no chão e entrei no banheiro. Tomei um banho rápido, peguei uma boxer e bermuda, vestir e fui abrir a porta do quarto, mas tava trancado. Nem procurei a chave, peguei a extra que tenho e abri. Desci vendo a destruição da sala.

A única coisa no lugar era o sofá, mais nada. Até os porta retratos com as fotos dos meus pais eu tinha destruído. Vacilei. Catei eles do chão, quis nem saber dos vidros espalhados. Tirei as fotos e guardei pra pôr em outro lugar.

Peguei meu rádio e mandei o papo pra um dos caras ir na casa da mulher que sempre dá um grau aqui vim mais cedo. E não deu outra, antes das seis da manhã ela já tava aqui arrumando tudo.

— Isso de novo, Rocco? — meu avô perguntou entrando na cozinha onde eu tava — Destruiu a casa mais uma vez?

— Ih, sossega que não foi nada de mais não. — falei tentando encerrar o assunto.

— Quando eu acho que você já passou vergonha demais e aprendeu com os próprios erros eu chego aqui vendo isso novamente. — ele diz me encarando.

Ele coroa é foda, joga as coisas na cara mesmo tá nem aí com nada.
Nem respondo pra não render assunto.

Saio da cozinha vendo que a mulher foi rápida, já tinha organizado tudo. Entrei no meu quarto e vi que Giovanna já tinha acordado, tava falando no celular.

— Perdi a hora. — ela disse, depois de ter desligado, deixando o celular de lado — Você tá bem?

— Tô. — falei, ela cruzou os braços como se não tivesse acreditando, e só então notei o vermelhão marcado que tava no local. Mesmo não lembrando, eu sabia que eu tinha feito. Peguei uma pomada que eu tinha guardada, sempre resolvia quendo eu me metia em brigas — Vem cá. — chamei sentando em uma cadeira.

Nosso Recomeço (Nova Versão)Onde histórias criam vida. Descubra agora