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Rocco

Peguei um baseado e fui pra varanda do meu quarto. Acendi observando o morro. Visão do caralho aqui de cima, toda favela.

Minha favela!
Complexo do alemão, meu lar.

Assumi o comando, depois que meu pai morreu numa troca de tiros com a polícia em uma tentativa falha de pacificar o morro.
Desde então é batendo de frente com os gambé. Meu pai morreu, mas o comando continuou firme e forte.

Mas agora comigo de frente, comandando tudo.

Não troco esse lugar por nada.
Cresci aqui, vou morrer aqui.
Já nasci na vida bandida, não tem como negar, abandonar.
Nem quero!

Desde menor sonhava em herdar esse morro, só me mantida longe por causa da minha mãe, não queria que ele me olhasse com decepção. Mãe é mãe, por elas tudo e muito mais. Foi por ela que fiquei longe até quando deu, mas a mesma pegou uma infeção no estômago e acabou morrendo.
Foi foda.
Eu, com dezessete anos perdi minha mãe, com dezoito meu pai. Só não me acabei mas drogas por causa do meu avô, aquele coroa é o cara que posso contar pra tudo.

Saio do quarto depois de fumar e não encontro ele pela casa, deve tá com alguma nega. Pego a moto e no caminho até a boca vejo a prima de Guto saindo da casa dele.

O sangue tá quente até agora por não ter acertado um tiro no meio da testa dessa porra. Sorte dela que Guto chegou na hora.
Mina toda marrenta, maior cara de fresca do caralho. Não tenho paciência.

Se ela veio da zona sul achando que pode falar e fazer o que quiser tá enganada.
Aqui a parada é outra. Faço ela descer do salto e voltar pro buraco de onde veio em dois tempos.

Entrei na boca vendo os moleque na agilidade, vendendo a beça.

— Vai ter baile, Rocco? — Teco perguntou, meu melhor vapor.

— Tô resolvendo. — falei entrando.

— Mó tempão que não rola. — disse Tico. Esse é o pior, só faz dormir.

— Verdade mermo. — Menor concordou.

Peguei o caderno pra fazer as contas. Em minutos finalizei tudo, lucro tá bom fio. Vou voltar com os bailes, realmente faz um tempo que não rola.

— Rebeca tá aí. — um dos vapor entrou avisando.

— Libera. — falei, ele saiu.

Não demorou muito ela apareceu. Rebeca fechou a porta e tirou a roupa ficando nua. Ela abaixou na minha frente e levantei um pouco pra tirar minha bermuda junto com a cueca fazendo a mesma começar a bater uma. Rebeca é puta profissional, sabe como faz.
Sabe fazer do jeito que eu gosto.

— Chupa logo! — ordenei, com as mãos no cabelo dela.

Rebeca levou a boca até meu pau, fazendo sua obrigação.

▪  ▪  ▪

— Essa é das boas. — falei me referindo a carga que Guto trouxe — Começa a separar hoje mermo.

— Já começaram. — ele disse.

— Se for preciso, faz virar a noite. — digo levantando, faço toque com ele e saio.

Vou direto pra casa. Subo o morro devagar com a moto, tinha uns moleque jogando bola no meio da rua. Tem as quadras, mas é mermo que nada, essas porra joga em qualquer canto.

Entrei em casa, ia subindo reto até que vi meu avô sentando no sofá com uma das pernas esticada em um puff. Ele coloca gelo em cima, dava pra ver o vermelhão.

Porra. Fiquei logo nervoso.

— Que porta foi isso aí? — perguntei me aproximando.

— Nada de mais não. Só pisei em falso. — disse fazendo pouco caso.

— Nada de mais. — repeti na ironia — Olha isso aí, todo machucadão. POR QUE TU NÃO MANDOU PORRA QUE FAZ GUARDA AQUI PASSAR O PAPO PRA MIM? — voltei pra fora.

— Fala direito seu filho da puta! — meu avô disse chamando minha atenção — Eu falei que não precisava, não deixei ninguém te chamar.

Nem respondi nada a ele, saí de casa e mandei um dos zé tirar meu carro. É por isso que deixo Teco aqui de guarda, ele passa a visão de tudo.

Meu avô reclamou, falou que só a porra mas não teve jeito. Fiz ele entrar no carro e fui até o hospital aqui do morro. Tem polícias, mas quem paga o salário deles sou eu então é nenhuma.

Tinha gente na frente pra ser atendida, mas quando viram que era eu colocaram meu coroa pra ir primeiro. Fiquei no corredor esperando o mesmo fazer os exames.

— Senhor, não pode fumar cigarro aqui dentro. — uma senhora avisou.

— Ta. — assenti e ela fez menção de ir embora, continuei fumando o que fez ela continuar me encarando — Não é cigarro, é maconha

— Senhor... — tentou falar de novo e a interrompi.

— Tá tá. Vaza. — parei de fumar. Hoje eu não queria matar ninguem, tava só querendo voltar pra casa com meu coroa bem.

A velha foi embora, continei no mesmo lugar mas agora sem fumar. Baixei mais a aba curvada do boné e fiquei na minha, só encarava quando passava algum curioso reparando tudo.

Depois de uns minutos meu avô entrou em uma sala e fui junto.
Ele tava com a perna enfaixada.

— Boa noite. — o Dr. cumprimentou.

— Eae, ladrão. — falei, ele me olhou incomodado, mas não falou nada.

— Como eu tinha falado a Leonel, ele vai precisar trocar os curativos todos os dias. — continuou depois de um tempo — Podemos disponibilizar um enfermeiro para ir na sua casa fazer. Leonel não pode ficar fazendo muito esforço como por exemplo, vir para o hospital cada vez que tiver que fazer um curativo.

— De boa. — eu disse — Pode mandar um enfermeiro.

— Amanhã mesmo ele estará lá. — falou e eu confirmei.

Peguei os exames com o médico, e sai com meu coroa.

— Tem que comprar uma bengala. — falei.

— Vai tomar no seu cu! — ele disse com raiva me fazendo sorri.

Entramos no carro e dei partida.
Não gosto de gente na minha casa não, muito menos desconhecido. Mas se é pra cuidar do meu coroa as portas vai tá sempre aberta.

O enfermeiro vai ser bem-vindo.


O dedo de vcs não vai cair se votar.
Ou vai?
Acho que não, hein. Faz o teste aí, e vota.

Nosso Recomeço (Nova Versão)Onde histórias criam vida. Descubra agora