MEIA HORA ANTES
— É bom você se comportar, filha. O futuro de nossa família depende desse casamento.
— Tudo bem, senhor meu pai. Mas será que pode me desamarrar agora?!
— Promete que não vai pular da carruagem?
— Eu tenho cara de quem quer morrer aos 19?
O vento apressava a brasa do charuto na boca do cocheiro. Era a única coisa que aliviava a irritação de ter sido lambido por uma chuva torrencial.
Isso e o fato de ter roubado a cigarrilha de seu senhor — era uma maneira de compensar pela falta de consideração, o velho dizia a si mesmo.
A ventania da locomoção cortinava seus ouvidos, alienando-o da discussão voraz que acontecia dentro da carruagem.
Mesmo assim ele ouviu a janela abrir-se numa explosão furiosa, cuspindo uma jovem de cabelos ruivos em um vestido impecavelmente branco. A aterrissagem da moça fez a lama deflorar aquela branquidão num festival de respingos audaciosos.
— Pare a carruagem! — ouviu o conde vociferar.
Em seguida o velho observou uma mão emergir da janela e apontar para a donzela em fuga.
— Tá esperando o quê, seu imprestável? Atrás dela, Andriax, vai logo!
A porta da carruagem se abre e um rapaz alto, com cabelos cor de amendoim, dispara em direção à moça. "Não se fazem mais serviçais como antigamente," o cocheiro ouviu uma voz depreciativa e cansada vir de dentro da carruagem.
O jovem correu, correu, descansou para recuperar o fôlego e correu mais um pouco. Descansou de novo e correu mais ainda. Nada da moça, a floresta a engoliu — ou assim parecia. Todavia, voltar sem ela não era bem uma opção.
O frio de uma lâmina pousa levemente em seu pescoço, arrepiando até o último fio de cabelo. O coração se torna um touro ensandecido. Andriax sente uma cálida respiração na nuca enquanto uma presença cola em seu corpo atrás dele.
— Ai, se eu quisesse... — A voz brincalhona da ruiva alivia toda a tensão instantaneamente.
O rapaz se vira e lhe aplica um beijo fervoroso. Ambos se agarram por alguns minutos antes dele começar a falar.
— Elizabeth, sua doida... não tem medo de morrer, não? — Ele a manteve em seus braços.
— Tenho medo é de não viver.
— Prefere a morte do que casar com outro? Tudo isso só pode ser amor por mim, fala aí. — O garoto de olhos azuis vestiu o mais cativante dos sorrisos.
— Não força, Andriax. — Ela gentilmente se desvencilhou do abraço e se afastou um passo. O rapaz tentou encenar a continuação do sorriso, mas tudo o que conseguiu foi uma careta mal feita.
— Então tá, né — ele suspirou. — Mas então... acho que a gente tem que voltar, sabe.
— Meu pai não vai me levar ao castelo toda suja desse jeito — ela afirmou triunfante enquanto guardava sua adaga. — Quer dizer que provavelmente vamos ter que parar em uma estalagem antes. Minha última esperança era tentar convencer o velho durante a viagem, mas já vi que não tem jeito mesmo. Vou fugir enquanto ele achar que estou no banho.
Os olhos azulados do rapaz brilharam de esperança.
— Posso fugir com você?
— Se você controlar suas expectativas sobre mim, pode.
— Hum.
Elizabeth se aproximou e lambeu a orelha do jovem. Uma onda de prazer se espalhou pelo seu corpo imediatamente.
— Quem sabe a gente não pode demorar mais um pouquinho antes de voltar pra carruagem, né?
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☠☠ NECROFÚRIA ☠☠ Aventura de RPG Medieval 🏹 Ação, Guerra e Magia ⛥
FantasyUm aprendiz de necromante. Um psicopata sanguinário. Um mago bêbado e uma paladina marrenta. Todos atrás de uma donzela durona que sai esmurrando todo mundo. Isso vai acabar mal... Do terror à comédia improvável, essa é a aventura daqueles que son...