— Maldita!! — xinga o centauro de barba, disparando uma flecha contra a elfa que se aproximava.
Em uma fração de segundos, Lorendell entesa o arco e liberta uma seta em resposta. Os dois tiros silvam perfurando o ar.
A flecha da mulher de cabelos azuis atinge exatamente a ponta do projétil inimigo. O impacto rebate ambos os disparos para direções aleatórias, como se fossem dois gravetos jogados ao vento.
Elizabeth pasma, assim como os dois capangas.
— Me cubra! — solicita o centauro de moicano loiro. Ele cavalga em direção à inimiga rodopiando seu mangual no alto.
O loiro mal terminou a frase e o mais velho já estava tesando o arco com outra flecha. Ele atirou mais uma vez contra a adversária de capa prateada.
Novamente em velocidade sobre-humana, Lorendell usa a mão esquerda e desembainha um dos sabres nas costas. Um choque metálico se propaga. Com um movimento diagonal, ela rebate o projétil como se fosse uma pedrinha inocente.
Após essa ação, o centauro de moicano já tinha a rival no alcance de sua arma. Ele ataca com o mangual horizontalmente.
A bola metálica na ponta da corrente acompanha o impulso, os espinhos prontos para estraçalhar a lutadora. E a arma acerta... um vulto. De tão rápido que a guerreira saltou, um rastro da sua imagem ficou para trás.
Elizabeth assistiu a arqueira fazendo uma acrobacia no ar. De alguma maneira a elfa calculou o trajeto do centauro para que ela aterrissasse exatamente nas costas dele, mesmo em pleno movimento.
Antes que o loiro pudesse tentar acertá-la com o mangual, sua cabeça se separou do pescoço. Duas lâminas fizeram um "x", ossos foram partidos e músculos, retalhados.
Uma erupção de sangue esguichou para o alto. Antes que o corpo caísse, Lorendell deu outro pulo. Com uma pirueta no ar, pousou próxima ao centauro de barba.
Ela embainhou os sabres duplos e continuou se aproximando. Abriu um sorriso para seu último inimigo, levantando a mão direita e fazendo sinal com os dedos, tal como se chamasse um cachorrinho.
— Vem.
O centauro empinou, relinchou de horror e partiu a galope. Cavalgou com toda a força de seus pulmões.
— Adoro brincar de tiro ao alvo — a elfa disse ao esticar outra flecha em seu arco.
Ela levantou a mira, claramente conjecturando a trajetória em parábola. O centauro estava a cinquenta metros, emaranhado por entre galhos de árvores mortas, quando uma seta foi pregada em seu crânio.
A ponta do projétil saiu pelo queixo. O inimigo tombou na terra seca capotando por três metros devido à velocidade.
— Uau! — exclamou Elizabeth, agora saindo de seu esconderijo.
Lorendell se aproxima da ruiva.
— Você está bem, Lady Elizabeth?
— Sim, graças a você. Puxa, muito obrigado! Eu realmente achei que fosse meu fim.
— Não há de quê. — A elfa pareceu analisar a qualidade da lança jogada ao lado do centauro caolho. Descontente, foi até o mangual. A donzela a seguiu.
— Qual é seu nome? Como sabia que eu estaria aqui? Nem eu sei bem onde estou...
A arqueira toma o mangual nas mãos, levantando-o como se fosse um graveto. Ela parecia avaliar a qualidade do metal.
— Meu nome é Lorendell Qüillura. Sou uma caçadora de recompensas.
Ao considerar que a arma podia ter algum valor de venda, a mulher de colete e botas negras decide guardá-la. O mangual é colocado em uma bolsa sob a capa, nas costas. Ela logo continua:
— Quanto a te encontrar, minha Lady, não foi tão difícil. Pratico a perícia de rastreamento há alguns milênios. O tempo te ensina uns truques.
— Você disse... recompensa? — indaga Elizabeth, nervosa com essa palavra.
— Sim, a senhorita pode se orgulhar. Seu futuro marido está pagando mundos e fundos pelo seu resgate, você virou notícia em vários reinos.
— Vários?
— O rei Galec Segundo está oferendo terras, títulos de nobreza e muito, muito dinheiro. Mais do que isso, ele até planeja dar a tal joia de Kalíndraetos. Duvido que ele tenha uma, mas vamos descobrir logo.
— Eu não vou me casar com um homem que eu nem conheço — afirma a ruiva, cruzando os braços. — Até parece. Meu casamento foi arranjado, mas mesmo assim eu planejava fugir antes que acontecesse.
— Você é corajosa, garota. Gosto disso. Bem, você discute isso com o rei Galec depois. Temos que sair daqui, essa floresta é perigosa à noite.
— Eu não vou voltar, se é isso o que está pensando.
A elfa de olhos lilases ondula uma sobrancelha.
— Como é?
— Você ouviu muito bem. Eu te agradeço por me salvar, mas acho que cada uma já pode seguir seu caminho.
Lorendell dá uma risada.
— Minha Lady, use a cabeça. Você é jovem, rica, pode casar com a realeza e viver uma vida de conforto. E se quiser, você pode fugir, se tornar uma viajante, talvez uma aventureira. Tanto faz pra mim.
A mulher com pele de mármore segura o braço da moça e o aperta com força. Ela continua, agora falando entredentes:
— Eu não me importo com o que vai fazer ou não, garota, desde que eu receba meu pagamento.
— Tira essa mão de mim!! — retorquiu Elizabeth, já desferindo um soco na cara da elfa.
Tudo o que ela se lembra depois daquilo é um grande breu. Quando acordou, estava nas costas de um cavalo cor prata flanqueado por asas emplumadas.
Jogada de lado na cela, seus pulsos estavam amarrados nas costas. Ela parecia uma caça que a mulher tinha abatido para a janta. Tentou protestar, mas uma mordaça a impediu.
De repente o pégaso parou. Lorendell teve dificuldade para impedir que ele empinasse. A ruiva ficou sem saber o que estava acontecendo até ouvir a voz que mais odiava no mundo.
— Quem é viva sempre aparece. Como vai, Lorendell?
Com desgosto, a elfa reconhece:
— Brontak...
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☠☠ NECROFÚRIA ☠☠ Aventura de RPG Medieval 🏹 Ação, Guerra e Magia ⛥
FantasyUm aprendiz de necromante. Um psicopata sanguinário. Um mago bêbado e uma paladina marrenta. Todos atrás de uma donzela durona que sai esmurrando todo mundo. Isso vai acabar mal... Do terror à comédia improvável, essa é a aventura daqueles que son...