No meio do gigantesco salão cavernoso, duas figuras se encontravam na frente de um pedestal ósseo. Metade do lugar era imerso em águas turbulentas.
Um brilho azul submerso iluminava todo o recinto. As cinzas dos esqueletos invocados por Etherion ainda estavam espalhadas na terra.
Ambos os indivíduos tinham a pele cor da noite. Uma trança única de cabelos crespos caía até a cintura da mulher.
Sua túnica azul prussiano se camuflava na caverna, ao contrário da coroa de chifres. Esta brilhava com seus símbolos mágicos talhados no osso.
Além das vestes negras e de uma capa rasgada, o homem trajava uma majestosa armadura feita de um esqueleto diabólico.
Seu formato era um emaranhado de curvas espinhosas e chifres retorcidos. Símbolos parecidos aos da coroa refulgiam na proteção com um tom esverdeado.
Mais sinistro era seu elmo: um crânio demoníaco parecia devorar sua cabeça. Além dos cornos sinuosos, possuía dentes afiados e órbitas imensas.
Os dois necromantes entoavam um canto em uma língua antiga. Uma aura esmeralda fluía pelos dois, que tinham os olhos brancos como papel. Em cima do pedestal ósseo, luvas pretas jaziam indiferentes.
Maodron para de cantar, interrompendo a luminescência verdejante e devolvendo as pupilas castanhas aos olhos. Yggnarus faz o mesmo, confusa.
— Já basta, filha.
— Que houve, meu pai? Ainda precisamos...
— Não. Não há como nós destravarmos o poder que reside nestas luvas. Seja lá o que for, não foi feito na dimensão terrena.
— Mas pai, você também sente essa energia! É algo muito poderoso, podemos usar como arma ao nosso favor! Talvez pudesse pedir a Khanzurxos que...
— Não diga isso nem brincando. O Lorde Khanzurxos não pode ser incomodado agora, essa não é nossa prioridade. O eclipse está próximo e há muito a fazer. Precisamos nos preparar para o ritual.
Os lábios da mulher se contorcem, os dentes se pressionam uns contra os outros. O sujeito ergue uma sobrancelha.
— O que foi?
— Se fosse para o bastardinho, tenho certeza de que o senhor não mediria esforços.
— Já falei para não chamar seu irmão assim.
A mulher de olhos castanhos deu um suspiro mesclado a uma risada.
— Tá vendo? Por que você ainda o protege, pai? Ele fugiu! Nos abandonou!
— Eu já mandei os gárgulas atrás dele. Etherion apenas está confuso, mas logo vai entender.
Ela cruza os braços e estreita os olhos.
— Eu sei que nem o senhor acredita nisso. Você sabe muito bem que ele sempre foi a ovelha negra, que ele nunca concordou com nada. Nunca ajudou em nada! O moleque só traz problemas pra cabeça, é pra isso que ele serve!
Maodron falou lentamente com um tom ameaçador:
— Etherion vai entender. É melhor você ir preparar o cristal bakkaksur e sumir da minha vista.
— É sempre assim. O senhor não aguenta ser contrariado. Não suporta que lhe falem a verdade.
Em um piscar de olhos, o necromante se materializa a um palmo da mulher. Seus olhos eram cortantes e elétricos.
— Que verdade, Yggnarus? Fala pra mim. — Agora ele ergue o timbre intimidativo. — Fala, agora!!
Lágrimas despencam dos olhos castanhos da mulher. Todavia, ela manteve a posição e fitou o pai fixamente. Sua voz era perturbada pela força de suas emoções.
— Que o senhor sempre o amou mais que a mim. Só porque minha mãe morreu no parto, você nunca deixou de me culpar por isso.
Maodron desfaz sua posição ofensiva, recuando um passo. Ele observa enquanto a filha continua.
— Eu entendo que o senhor se sentia só. Se apaixonou por aquela druidisa... Mas depois que Etherion nasceu, tudo era para ele. E eu, senhor meu pai? E eu?
— Yggnarus... — Por trás do elmo ósseo, o necromante se esforçava em vão para reter a umidade em seus olhos.
— Etherion nunca fez nada pelo senhor, meu pai! — Sua queixa era flébil, a voz lastimada por anos de sentimentos dolorosos. — Eu estive ao seu lado todo esse tempo! Eu te ajudei desde o início! Você se sentia só e precisava de alguém, mas e eu, pai? Eu precisava de você...
O homem se aproxima e faz menção de colocar a mão no ombro da filha. Ela recua um passo e olha para baixo, soluçando. Em seguida, Yggnarus limpa suas lágrimas e fixa o olhar no necromante.
— Eu nunca vou ser o suficiente, não é? Primeiro Layal, depois Etherion. Sempre eu por último.
— Isso não é verdade, Yggnarus, você sabe disso. Você é minha filha e eu amo você.
— Não ama, não — ela falou com um meio sorriso todo contorcido em dor. — Mas não se preocupe. — Ela faz uma reverência para o pai e dá as costas, caminhando. — Um dia o senhor verá o meu valor.
— Filha... — Lágrimas caíam pelo rosto de Maodron. — Filha!!
Ela o ignorou e continuou andando. Seu rosto ficou mais quente com a chuva líquida que seus olhos despejavam. Seu peito era um reboliço de amargura... e ódio.
"Parece que me livrar de Layal não foi o suficiente," Yggnarus pensou. "Vou ter que dar cabo em você também, irmãozinho."
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☠☠ NECROFÚRIA ☠☠ Aventura de RPG Medieval 🏹 Ação, Guerra e Magia ⛥
FantasyUm aprendiz de necromante. Um psicopata sanguinário. Um mago bêbado e uma paladina marrenta. Todos atrás de uma donzela durona que sai esmurrando todo mundo. Isso vai acabar mal... Do terror à comédia improvável, essa é a aventura daqueles que son...