Necrofilia Adolescente

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Sob o capuz negro, Etherion chamejava em uma aura esmeralda, seus olhos sem pupilas reluzindo com ódio e ira. Súbito, seu punho de esqueleto na mão direita se fechou. Instantaneamente, todos os zumbis que cercavam o grupo se tornaram pó. Ouviu-se o som de dezenas de armaduras e roupas caindo vazias no chão, junto com as mais diversas armas. 

Os gigantes desmoronaram em montanhas arenosas, assim como os mamutes. O dragão desfez-se aos poucos, até que a pulverização degradasse seus ossos gigantescos. Em questão de segundos, o grupo antes rodeado por centenas de mortos-vivos via-se cerceado por um deserto arenoso e um intenso cheiro putrefato.

Todos ficaram deveras boquiabertos. Felizes por serem salvos, embora houvesse algo na expressão do jovem necromante que não os deixava sentirem-se totalmente fora de perigo. Alguma coisa muito maligna irradiava dele. Não conseguiam traduzir em palavras, mas seus corações se comprimiam com aquela presença.

 Estagnado, o grupo contemplou o garoto com tranças esvoaçantes até que este suprimisse a aura esverdeada e seus olhos castanhos retornassem à face. Etherion arfava, como se estivesse se recuperando de uma maratona.

— Você tá legal, guri? — indagou Shagda, se aproximando cautelosa. Seus arrepios haviam cessado junto com a aura do aprendiz.

— Você ainda é você, né, garotão? — perguntou o bárbaro. Gostava de Etherion, mas nunca na vida sentira tanto furor maligno emanando de um mesmo ser. Queria acreditar que aquilo se foi para nunca mais voltar, embora seu instinto lhe contradizesse enfaticamente.

— Veja só quem voltou dos mortos — comentou Elizabeth. — Por incrível que pareça, no momento não estou desapontada que o tenha feito. Por enquanto... — sussurrou para si mesma.

— Você salvou a gente! — Andriax se aproximou, todo sorridente. Também apavorou-se com aquela sensação, mas sua gratidão superava seu receio do garoto. Não tanto por ter sido ele salvo, mas por Elizabeth. — Que bom que você voltou!

Agaxis caminhou até ficar do lado do necromante. Sem aviso, sua mão esquerda segurou no punho esquelético do jovem. Com a direita, o mago ergueu a manga da camisa verde escuro. Ao invés de um braço direito de pele negra, ali havia apenas ossos. Surpreendido pela atitude do eldrazar, Etherion deu um passo para trás, recobrindo o membro cadavérico com a manga da roupa.

— Como imaginei — deduziu o sujeito de longos cabelos pretos e bigodes finos. — Você voltou, mas com uma parte do corpo a menos. Se prepare, moleque. Cada vez que ceder ao poder do Triungrandrel, ele te consumirá. Até que você se torne um esqueleto por completo.

— E quando isso acontecer? — questionou o rapaz, em um tom desafiador.

— Acho que você sabe muito bem no que isso vai dar. Você vai virar um mero receptáculo que libertará esse demônio do inferno. Ele vai poder se manifestar no plano físico não apenas em espírito, mas em corpo. E sua alma, claro, ficará presa no lugar dele... para sempre.

— Para sempre é tempo demais. Almas reencarnam.

— Não seja tão ingênuo — Agaxis riu. — As almas com mortes comuns conseguem reencarnar porque são levadas pelas Tropas Valquirianas até as cidades astrais. Mas demônios são seres que lutam pela supremacia do plano espiritual, garoto. Se você se envolver com eles, já era. Além do mais, você é um necromante. Achei que seu pai já teria te explicado sobre isso.

— Chega! — O rapaz de colete de couro e capa preta exaltou-se. — Acho que um simples "obrigado por salvar minha vida" já seria ótimo, cara. Não quero saber o que vai ser depois da minha morte.

O sujeito de cavanhaque e capa roxa sorriu com o canto dos lábios e afastou-se dizendo:

— Como se você não soubesse...

— Pega leve com o garoto, Agaxis. — Dronar se aproximou do aprendiz e pôs um pedaço da mão gigante sobre seu ombro, quase tombando Etherion para o lado. — Ele tem o que, uns vinte invernos?

— Dezessete — corrigiu Etherion, tentando se equilibrar sob o peso da mãozorra escamosa.

— Viu? Nem tem um século de vida ainda. Duvido que sequer tenha deflorado alguma donzela.

As bochechas marrons do rapaz coraram imediatamente. Queria contestar aquilo, mas as palavras se embaralharam na sua cabeça.

— Dronar, humanos não vivem até um século. A maioria morre aos trinta, na verdade. — Shagda se aproximou, gargalhando. Ela deu um tapinha na bota de couro do garoto e emendou: — Mas e aí, tu é virgem mesmo, moleque?

— Claro que não! — Etherion contradisse, muito ansioso para aquele assunto morrer o quanto antes.

— Com certeza ele não é — Elizabeth alegou, um sorriso maldoso serpenteando nos lábios. — Afinal, Etherion tinha muitos corpos para praticar necrofilia, não é mesmo? Ouvi falar que necromantes adoram...

— Tá doida, garota?! — o aprendiz bufou. — Eu já me deitei com várias donzelas, e todas elas mais vivas que você!

— Gente... — Andriax sentia-se perdido na conversa, mas sabia que aquilo não iria acabar bem. — Estamos num cemitério macabro, à beira da destruição iminente do mundo por causa de um demônio e tal... Que tal discutir depois, hein?

— Depois o caramba, tá divertido! — Agaxis se intrometeu, um largo sorriso estampado na cara morena. Fez um gesto com as mãos e invocou um pote de pipocas para ficar comendo.

— É, pessoal, deixem o virgem em paz e vamos seguir caminho — acrescentou Dronar em tom de defesa. Etherion não se sentiu exatamente defendido.

— Eu não... ugh, deixa pra lá — o aprendiz suspirou.

— E então, necrófilo, vai nos dizer pra onde fica a entrada ou vai me deixar continuar a guiar o caminho? — a ruiva indagou, irônica. Deu a entender que não precisava dele acordado.

O rapaz fechou a cara para a garota de corpete.

— É óbvio que eu que vou nos guiar. Sua dada! — sussurrou, mas com ênfase.

Shagda e Agaxis caíram na risada. Andriax ia dizer algo quando a garota logo indagou, toda em fúria:

— O que foi que disse? — Elizabeth deu um passo à frente, já com a mão procurando algo em seu cinto. Tudo o que ela precisava era de uma desculpa para tentar assassiná-lo ali mesmo.

Ignorando a pergunta e satisfeito pela provocação ter surtido efeito, Etherion virou-se para o resto do grupo.

— Mas antes de seguirmos, uma pergunta. O que aconteceu com o Drayundrakoz? Eu... o venci com aquele ataque?

— Ôh, se venceu — Agaxis ironizou. — E sozinho! Não foi, Dronar?

— Ôh, se foi! — Dronar então riu com sua voz gutural.

Etherion ondulou as sobrancelhas, confuso.

— Então, meu querido — Shagda começou, toda pomposa —, não foi bem assim, sabe. Vamos indo que eu te conto os detalhes sobre como meu plano perfeito derrotou a montaria do seu pai. E sabia que eu tive que te dar um coro depois disso? Tu ficou todo endemoniado, mas nada que uns tapinhas na bunda não resolvessem, he, he.

Agaxis e Dronar estavam ocupados demais dando gargalhadas para prestar atenção no que a gnoma estava dizendo. Enquanto isso, Andriax estava tentando conter Elizabeth, que estava disposta a pular no pescoço do necromante a qualquer custo. Ainda assim, não pôde evitar de pensar: "Nada como uma descontração antes do fim do mundo!"


PALAVRA DO AUTOR:

Queridos leitores! Desculpe pela demora, mas é que eu estava mortalmente doente. Agora estou bem melhor, o suficiente para continuar a escrever. Espero que tenham gostado do capítulo! Necrofúria já está em sua reta final, mas ainda há muito para ser desenvolvido entre os personagens. Comentem o que estão achando do enredo e dos personagens, quero muito conhecer a opinião de vocês. Só para avisar, se tudo correr como planejo, vou lançar outro capítulo semana que vem. Por hora é só, pessoal! Até mais ver ;)

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