O Mestre dos Mortos

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Andriax estava fugindo do goblin que tentara matar Etherion quando olhou para cima e viu uma aura flamejante envolver o mago, que flutuava dois metros acima deles. Em seguida, ao redor do grupo, um gigantesco tornado de fogo surgiu. O calor abrasou a todos, o som crepitante se tornou ensurdecedor. A miríade de lâminas douradas espiralava para os céus, arrancando litros de suor do grupo inteiro. Mas o tornado não ficou muito tempo ali.

A coluna giratória se expandiu ferozmente, abrasando tudo pelo caminho, em todas as direções. As árvores empreteceram de súbito, a maioria caindo aos pedaços. O exército de zumbis que os rodeava, que já chegava a quase uma centena, foi engolido pelo brilho destruidor. As chamas pulverizaram a carne podre, encandecendo as armaduras em um instante. Os ossos ou caíram negros ou viraram cinzas. Um grande pedaço da névoa foi consumido pelo tornado, que se desfez após cobrir um raio de trinta metros.

Dronar sentia-se em casa no meio das chamas. Já tinha resistência natural antes do trato com Kamilzedek, imagine agora. Elizabeth, por outro lado, achou que iria morrer quando a parede circular avançou em sua direção. Sentiu o corpo ser abrasado por um calor intenso, mas sequer um fio de cabelo queimou-se. Naquele momento comprovou que a magia protetora do traje se estendia à sua cabeça e mãos — pelo visto, somente ataques físicos poderiam feri-la.

O único morto-vivo que restou foi o goblin que continuou correndo atrás de Andriax. A ruiva se aproximou e lançou seu chicote contra ele. As garras laminadas se encaixaram na perninha direita. Ela deu um puxão e, com força, lançou a criaturinha contra uma árvore próxima. O goblin se espatifou no tronco carbonizado, seu corpo se desmembrando no processo.

— Obrigado, Lady Elizabeth! — Andriax parou para recuperar o fôlego.

— Disponha. E já disse para parar de me chamar de Lady. — Ela olhou para o mago de capa roxa que estava pousando próximo a todos. — Temos que agradecer ao Agaxis, aqui. Não esperava por uma magia tão poderosa, estou impressionada. Que bom que você sabia que minha roupa me protegeria.

Agaxis fez uma mesura indicando que estava lisonjeado, tentando não expressar o que pensava naquele momento: "Eu não fazia a menor ideia, guria. Estou surpreso de que esteja viva, na verdade."

— Mas é claro que eu sabia! — declarou Agaxis, todo pomposo. — Afinal, sou um mago, né!

— Acabou com a diversão, mas obrigado mesmo assim! — falou o meio-dragão de dois metros e trinta se aproximando. De repente, jogou uma espada com uma pedra celeste no centro da empunhadura dourada para Andriax. — Achei jogada em um canto. Alguém te acertou pra valer pra ela ser arremessada tão longe, hein!

— Valeu, he, he. — Andriax tentou apanhar a espada no ar, mas a deixou cair no chão. Ele a levantou, guardou na bainha e corou. Muito. — Pois é, foi um golpe e tanto...

— É, você até que você presta — Shagda comentou para Agaxis com um sorriso maldoso. — Às vezes.

— Ora, sua...

— Olhem! — Elizabeth alertou, apontando para o limite circular da névoa, que lentamente avançava de novo.

Da neblina cilíndrica, pouco a pouco, uma horda de zumbis foi surgindo. Gemiam morosamente, como lamentos de angústia infinita. As diversas raças caminhavam decrépitas: homens-dinossauro, centauros, trolls, gárgulas e até mesmo um gigante de seis metros se aproximavam cambaleantes, de braços estendidos.

— A gente vai morrer, né? — o rapaz de olhos azuis indagou engolindo em seco.

— Se for, que seja lutando! — Dronar ergueu o martelo e preparou-se para a batalha.

— Agora ferrou tudo — suspirou a gnoma.

— Faz o fogo de novo! — insistiu Elizabeth para Agaxis.

— Olha, moça, não é assim que magia funciona — o eldrazar explanou, olhando preocupado para um urso caolho que avistou. — Eu gasto mana para conjurar as coisas, sabe, e meu estoque não é lá infinito. Digamos que eu preciso descansar um pouco para recuperar essa energia, da mesma forma que o Dronar não pode manter a forma de dragão por tanto tempo.

Shagda distribuiu uma granada para cada um do grupo, tomando uma para si.

— Essas são as últimas da bolsa mágica! Arranquem o pino e joguem para longe, vai explodir como as outras que eu atirei.

Outro gigante surgiu da névoa, esse de quinze metros de altura. Tinha uma barba rubra que descia em uma trança suja. Trazia um porrete cheio de espinhos na mão direita. Do outro lado, dez rinocerontes e cinco tigres dente-de-sabre avançaram. Um mamute os acompanhava atrás.

— Eles são muitos, não dá pra lutar contra eles! — o rapaz de gibão laranja afligiu-se, entrando em desespero. — Não importa quantos matemos, não vão parar de vir!

— Não cheguei tão longe para morrer na praia! — Elizabeth vociferou. — A gente vai sair dessa, Andriax!

— É isso aí, garota! — apoiou Shagda enquanto, secretamente, pensava: "São muitos, eles vão morrer mesmo. Pelo menos posso entrar dentro da bolsa mágica antes que me peguem!"

Pouco a pouco, os zumbis foram avançando pelo raio de trinta metros sem névoa criado pelo tornado de fogo. O grupo fez um círculo, mas desta vez só o corpo de Etherion ficou no meio. Andriax desembainhou a espada e se consolou com a ideia de que, pelo menos, queria que seu último ato antes de morrer fosse tentar proteger Elizabeth de alguma maneira. Tentar, pelo menos, ainda que as pernas estivessem tremendo loucamente.

Então, uma sombra passou por cima do grupo. O chão tremeu à direita deles. Quando deram por si, havia ali um dragão de vinte metros. Ele estava cravejado de flechas e lanças, as asas salpicadas de buracos. O réptil rugiu para o grupo, pronto para pular em cima de todos. Os gigantes, mamutes, rinocerontes, minotauros, orcs e lobisomens também já estavam bem próximos.

Andriax então segurou a mão da ruiva e, pronto para ser esmagado pelas gigantescas patas draconianas, disse-lhe:

— É o fim. Eu te amo, Elizabeth!

O dragão abriu as asas e pulou. O gigante de vinte metros ergueu o porrete para bater. O menor, de seis metros, avançou com um soco. Os chifres dos rinocerontes já estavam bem perto quando...

Todos pararam. O dragão bateu as asas para evitar cair no grupo, retrocedeu alguns metros e pousou no exato ponto de onde pulou. Os gigantes se detiveram, assim como todos os mortos-vivos. Então o mar de zumbis, em um único movimento, se ajoelhou. O dragão baixou sua cabeça, assim como todos os animais pútridos. O grupo ficou boquiaberto, desconfiado e suspirando de alívio ao mesmo tempo. Observavam atônitos, com o coração na boca.

— Um milagre! — Shagda comemorou, incrédula.

— Acho que não... — disse Agaxis, olhando para trás.

Todos acompanharam seu gesto e viram Etherion de pé, um brilho verde saindo de seus olhos, os braços estendidos com as mãos espalmadas.    

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