Da Luz Às Trevas

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A mulher de pele escurecida abre a porta. Vestindo uma túnica branca, ela adentra na casinha cheia de móveis redondos e artesanatos espirais. Os cabelos caliginosos e encaracolados davam nos ombros e balançavam em tranças enfeitadas com flores. Um brilho amável habitava seus olhos castanhos.

— Maodron, querido? Cheguei!

Uma criatura felina com três caudas e orelhas imensas roçou por entre as pernas da dona. A druidisa lhe fez um cafuné carinhoso embaixo do maxilar e indagou-lhe:

— Cadê o Maodron, Swyktiz? Ele não esqueceu de te dar comida de novo, né, bebê?

O animal com enormes olhos âmbar fez um barulho semelhante a um miado. Através da telepatia druídica, a mulher ouviu em sua mente: "Não, mamãe. Mas ele quase explodiu a cozinha hoje..."

— Ele o quê? Eu falei pra ele ficar longe da minha cozinha! Maodron, o que foi que... — Ela parou de falar quando duas mãos vieram por trás e taparam seus olhos.

— Adivinha quem é? — falou uma voz gentil.

— Maodron! Swyktiz disse que você quase explodiu a casa de novo, isso é verdade?

O homem de pele escura e bigode grosso franziu o cenho para o felino. Ele trajava uma elegante roupa azul escuro e óculosredondos que destacavam seus afáveis olhos castanhos. 

— Claro que não, amor!

— Mas...

— Mas nada. Vem, eu tenho uma surpresa pra você — falou antes de amarrar uma venda nos olhos da mulher.

Ela sorriu. Seu marido tinha o costume de fazer essas coisas, então mal tentou argumentar. Ela sentiu o toque morno da palma de Maodron envolver sua mão direita. Às cegas, foi guiada para onde sabia ser a cozinha.

Taran! — ele exclamou ao retirar a faixa dos olhos da esposa.

O recinto tinha móveis arredondados, dezenas de estatuetas de deuses e animais. Transmitia um ar aconchegante tal como um domingo familiar. Mas o que surpreendeu a druidisa foram as velas iluminando um jantar especial à mesa.

Havia uma bandeja com a salada favorita da mulher, além de uma lasanha de berinjela que ela amava de paixão. Uma garrafa de um vinho bem caro fazia companhia aos diversos molhos espalhados em pratinhos.

O coração dela sorriu. A druidisa se virou e deu um abraço com ternura no marido. Ele estava com seu habitual cabelo preto e curto, além dos óculos redondos. Hoje, contudo, vestia um elegante gibão azul escuro. A boca dela planta um beijo meigo nos lábios de Maodron e diz:

— Hoje não é meu aniversário...

— Não preciso de datas fixas para provar o quanto te amo, Layal...

— Que charmoso... — Ela sacudiu as sobrancelhas de um jeito engraçado. — Aposto que o senhor bibliotecário aqui copiou essa frase de algum livro que leu.

Maodron subitamente ergueu a esposa do chão, aninhando-a em seus braços. Em meio ao protesto de risos, ele avisou:

— Continue assim e a senhora curandeira aqui vai ficar sem sobremesa!

— Tá me levantando só pra provar que consegue, né, safado? Eu finjo que não te vejo escapando para fazer flexões de manhã. Só porque me derrubou na noite de núpcias, ha, ha!

Chiu! — ele falou antes de silenciar a druidisa com um beijo afetuoso. Após alguns segundos demorados, concluiu: — Eu fiz aquele mousse de Yggdrasil que sua vó preparava. Não sei se ficou bom, mas espero que goste!

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