Moscas do Inferno

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O esqueleto de dragão era o dobro do tamanho do bárbaro, facilmente alcançando os sessenta metros. Ao contrário de Dronar, ele tinha quatro pares de asas, todas com a película rasgada e perfurada. 

A ponta da cauda tinha naturalmente um mangual feito de ossos. Com três cabeças, os pares de olhos brilhavam com chamas azuis. Um orbe luminoso da mesma cor resplandecia onde antes deveria estar seu coração.

"Pirralho," Etherion ouviu três vozes uníssonas em sua mente, "seu pai te quer de volta. Se você se recusar a vir comigo, direi a Maodron que fui forçado a tomar atitudes drásticas. Para ser sincero, adoraria que me desse um motivo... O que vai ser?"

Uma aura verde recobriu o garoto enquanto sua mão esquelética chamejou no mesmo tom. Os olhos se tornaram brancos. Shagda levou um susto enquanto Agaxis ondulou uma sobrancelha. O aprendiz respondeu mentalmente: "Diga pro meu pai que mandei ele tomar naquele lugar!"

Ashrai caelldrov akaksandur mishra orksulbaor! — o rapaz esbravejou, apontando a mão na direção do imenso zumbi. Chamas verdolengas foram expelidas e se condensaram em um ponto no espaço até formarem uma enorme esfera flamejante.

Esta logo assumiu o formato de um crânio demoníaco que começou a gargalhar estridentemente. Etherion ficou surpreso que desta vez ele não precisou repetir o encantamento várias vezes; sentia que a conexão com a mão implantada estava ficando mais forte... 

Sem demora, a caveira de fogo disparou com tudo em direção ao esqueleto dracônico, atingindo sua cabeça direita em cheio.

Nada aconteceu.

"Mortalzinho tolo," o aprendiz ouviu telepaticamente, "chamas do Oitavo Abismo para mim são tão quentes quanto o sol do crepúsculo. Vou te mostrar o que é poder de verdade."

Os instintos de Dronar lhe avisaram que algo ruim estava por vir. A cabeça do meio abriu a bocarra anavalhada e cuspiu uma chuva de raios negros contra o draggonath. Ouviu-se o trovejar de várias explosões simultâneas.

 O bárbaro desviou quase que por milagre, chacoalhando a todos nas costas com sua manobra evasiva às cegas. A chuvarada elétrica cruzou o ar e abriu uma cratera gigantesca no terreno centenas de metros lá embaixo.

— Precisamos sair daqui! — Elizabeth gritou para o trio à frente.

— Não garanto nada, mas vou tentar uma coisa — disse Agaxis, desenhando símbolos estranhos no ar.

Um portal azul surgiu na frente do mulato de capa roxa. O mago o atravessou e o disco luminoso sumiu no mesmo instante.

— O miserável fugiu! — Shagda vociferou enquanto colocava o Martelo dos Mil Trovões na mochila mágica. Elástica, a bolsa preta se expandiu e após engolir a arma, murchou de novo. — Etherion, eu não tenho como carregar todos de uma vez, mas prometo que eu volto!

O garoto não respondeu, parecia se concentrar para sua próxima técnica.

— Do que ela está falando? — indagou Elizabeth quando observou a gnoma colocar a invenção metálica nas costas, por cima da mochila. Logo em seguida, ela bradou:

— Acionar turbinas! — De imediato, chamas roxas foram cuspidas dos dois cilindros metálicos atrás dela. Asas de energia dourada, tal como de um planador, surgiram da invenção. Dezenas de cristais acoplados no aparato metálico piscavam como luzes de natal.

A pequenina de macacão azul metálico decolou para o alto. Um rastro de fumaça escarlate ficou para trás. Em segundos, Shagda sumiu da vista de todos.

"Você não acha que ele realmente desviou do meu ataque, não é mesmo?" Etherion ouve em sua mente. "O primeiro disparo foi só um aviso, moleque. Venha comigo ou matarei todos vocês em um único golpe."

"Gente, se segurem!" avisou Dronar na cabeça dos três em suas costas. "Eu vou atacar!!"

— Elizabeth!! — Andriax berrou desesperado. — Já que vamos morrer, pelo menos saiba que eu estou feliz de ter te reencontrado! Eu te am...AAAAAAHH!!!

O garoto de gibão laranja esgoelou-se ao ver três discos vermelhos e horizontais surgirem à frente deles, por entre os espinhos de Dronar.

— Aogarmak siunfruet magnaektus! — o aprendiz conjurou, sua voz demoníaca ressoando pelos céus.

Dos portais surgiram três criaturas idênticas de aproximadamente dois metros de comprimento. Com a carne toda enegrecida, um grande olho amarelado com uma pupila fendida observava. Abaixo deste, vários tentáculos remexiam-se frenéticos. Às costas do olho, asas que mais pareciam trapos esfarrapados ondulavam.

O draggonath começou a fazer uma curva no céu para iniciar seu ataque.

— São Devoradores de Sonhos! — o rapaz de olhos brancos explicou aos dois enquanto uma das criaturas voou para suas costas e o envolveu com seus tentáculos. — Eles estão do nosso lado, pelo menos por enquanto. Não pensem em nenhuma memória feliz ou eles irão imediatamente se alimentar de vocês.

Um dos demônios flutuou para trás da ruiva e envolveu os tentáculos pelo seu corpo. Enquanto a garota e Etherion eram erguidos das costas do dragão, esta diz:

— Sem problemas. Comigo, esse cara aqui vai é morrer de fome. — Ela se virou para o amigo enquanto voava para longe. — Andriax, fica de boa! Ele não vai te machucar!

O garoto de cabelos castanhos estava tremendo de olhos fechados, segurando firme no espinho em sua frente. Ele berrava como se estivesse indo para o abate.

Dronar aligeirou-se de encontro ao inimigo esquelético, agora a toda velocidade. Etherion e Elizabeth estavam voando bem próximos, descendo em direção ao distante solo. A moça olhou para trás e falou em desespero:

— Etherion, tem algo errado! Seu bichinho de estimação não está levando o Andriax! Ele ainda tá lá, gritando que nem doido! Faz alguma coisa!

O rapaz com as tranças ao vento olhou para as costas de Dronar e viu o demônio a dois metros de Andriax. Ele tentava se aproximar, mas parecia haver uma barreira invisível ao redor do garoto.

— Ai, saco! Droga! Droga! Esqueci disso!! — praguejou o aprendiz, sua voz ainda deformada.

— Esqueceu o quê, seu imbecil?!

— Eu não sou bom em invocação, só consigo chamar criaturas até do Segundo Abismo. Elas são fracas demais, não conseguem se aproximar da aura da Justiceira da Luz! Esqueci que o Andriax tava com uma arma sagrada na bainha!

— NÃO ME INTERESSA, FAZ ALGUMA COISA!!! Se o Andriax morrer, eu juro que você não vai durar nem um piscar de olhos no chão, seu imprestável!!

O dragão estava indo na direção de Drayundrakoz como um míssil. Mesmo assim, o gigantesco esqueleto voava tranquilamente, ignorando sua presença. "Pretende fugir nessa mosquinha, Etherion?" o rapaz escuta a voz tríplice na sua mente. "Que patético. Porém, é bem digno de você. Te vejo nos Abismos, inseto."

A cabeça esquerda ergueu-se, abrindo a boca óssea. Vários metros acima desta, uma esfera de fogo azul começou a se formar. Nesse momento, Dronar estava quase colidindo com o dragão gigantesco. A poucos metros do zumbi, uma bola de espinhos acerta o rosto do bárbaro com tudo. 

A ponta da cauda de Drayundrakoz chicoteou no ar mais rápido que a percepção do draggonath. Os espinhos perfuraram as escamas verdes de seu rosto, espirrando uma chuva de sangue no céu. O dragão pareceu ficar inconsciente, sendo jogado para o lado como se fosse uma bola de tênis rebatida por uma raquete.

O imenso esqueleto continuou a alimentar o orbe de fogo azulado até este alcançar vinte metros de diâmetro. Em seguida, a cabeça esquerda o disparou na direção de Etherion e Elizabeth.

Mas a ruiva estava desesperada por outro motivo. Seu olhar estava focado em um pontinho laranja que estava despencando das alturas. Andriax estava em queda livre.


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