A Justiceira da Luz

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Suando frio, Andriax acompanha a paladina pelo terreno, que era salpicado de pedras elevadas. Por entre os rochedos, eles se aproximaram de uma mulher com uma túnica azul prussiano.

 Seu cabelo ia até a cintura, todo sinuoso em uma trança única. A pele era escura como carvalho, uma coroa de ossos com chifres repousava na cabeça.

A necromante segurava uma cabeça em decomposição cujos olhos brilhavam um verde intenso. Ela falou:

— Como assim, quer dizer que Lady Elizabeth fugiu?

Kayara e Andriax arregalam os olhos. Embora os lábios não se mexessem, uma voz saiu da cabeça e respondeu:

— Pois é. Brontak disse que foi um fantasma solto pelo seu irmão. Ele deu uma surra no garoto, mas parece que Etherion usou sua mão nova contra o caçador e conseguiu fugir. Já mandamos nossos centauros atrás da donzela.

— Pelo menos ela não vai muito longe. Aquele pentelho imprestável, só arranja pra nossa cabeça. Ele que reze para que eu não o encontre antes do nosso pai.

— O cristal bakkaksur já está em posição?

— Sim, agora só falta o de Rundrolgog. Encontrei uns humanos de ressaca na floresta, vou sacrificá-los em honra a Khanzurxos e já irei para lá.

— Não demore, Yggnarus. Seu pai está impaciente.

A cabeça decrépita perde o luzir nos olhos. A mulher a pendura em um cordão atado ao cinto de couro negro e se vira para o grupo de pessoas amarradas. Ajoelhadas perto dela, tremiam e suavam.

— Façam suas últimas preces — disse a necromante ao levantar a mão direita. Símbolos brilharam em sua coroa, uma aura esmeralda a envolveu enquanto as pupilas fugiram dos olhos.

— Elas foram atendidas!! — grita Kayara, correndo em direção à necromante.

Como um reflexo, Yggnarus aponta a mão para a paladina e dispara um projétil de luz espectral na forma de uma caveira. Ouve-se um gargalhar sinistro no lugar. 

A paladina maneja sua arma e rebate o tiro luminoso para longe. Em seguida ela aponta a lâmina para a inimiga e anuncia com autoridade:

— Em nome da divina Aéllea, a senhora da luz, eu te dou um ultimato. Abandone sua relíquia do poder e renda-se agora ou você sentirá a fúria dos deuses!

"Não pode ser!"  a necromante pensou, aterrorizada. "Não é qualquer objeto que consegue rebater uma magia. Essa espada... a Justiceira da Luz!"

Ela crava os olhos esbranquiçados na rival e demonstra um tom firme. A voz sai embebida em distorção monstruosa:

— Então você é a famosa Kayara Vondral, discípula de San Meldric. 

— Não haverá segundo aviso! — a paladina insiste, pondo-se em posição de batalha.

A mulher negra arqueia uma sobrancelha e faz uma cara de pena. Afinal, a oponente estava cercada por um exército.

— Quanta audácia vir até mim sozinha. Não fique bêbada de glória só porque tem essa espada especial. — Ela faz um sinal com a cabeça para os esqueletos que a circundavam. — Matem ela.

A guerreira vira a lâmina para baixo e fecha os olhos enquanto os mortos-vivos se aproximam lentamente.

— Você se engana, necromante. Eu nunca estou sozinha!

Uma aura resplandecente envolve Kayara e faz a joia incrustada no centro da espada brilhar. Ela finca a arma no chão, fazendo surgir um símbolo de luz circular. 

Ele se expande pelo solo em uma área de vinte metros. De repente um clarão explode no local, o som de cantos angelicais repercutindo ao redor. 

Todos os esqueletos que pisavam na marca viraram pó instantaneamente.

Perturbada, Yggnarus recita uma frase mística. Fumaça negra surge aos seus pés e a envolve, a teletransportando a trinta metros de distância. Ela observou a paladina retalhando seus zumbis restantes como se fossem de papel e disse:

— É, pelo jeito as lendas são verdadeiras. Vou ter que apelar.

A necromante começa a entoar um cântico enquanto a Justiceira rasgava ossos e carne podre, braços e cabeças voando para todos os lados. 

Quando o último esqueleto virou história, um portal de chamas negras se abre no chão à frente da mulher com a coroa de ossos.

De lá emergem três criaturas demoníacas de cinco metros. Cada uma com quatro braços, uma boca gigante no meio da barriga e pernas de aranha. 

Uma cauda semelhante a um escorpião balançava nas costas, chifres retorcidos subiam pela cabeça. A pele variava do cinza para o musgo, mas o olho único no rosto brilhava com uma cor de sangue.

— Vão brincar, meninos — ela comanda com timbre grotesco. Os três imediatamente pulam na direção de Kayara.

Naquele momento algo no meio dos destroços da taverna chama a atenção de Yggnarus. Eram luvas pretas.

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