Desenhando na Tapeçaria

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As mãos do espírito tinham um toque estranho. Parecia com gelo, só que sem a umidade. Elizabeth não conseguia conceber que o homem dinossauro podia tocá-la, mas ela não conseguia fazer o mesmo.

— Não sei de quem está falando, assassino — a moça rosnou, furiosa. — E mesmo que eu soubesse, eu não te diria mesmo. Prefiro morrer do que te ajudar.

— Eu posso providenciar isso — Etherion blefou, sua voz ainda monstruosa devido ao uso dos poderes necromânticos.

— Então tá esperando o quê?

— Por que não lê a mente dela, necromante? — o humanoide indaga.

Em seguida o brutamonte ouve em sua cabeça: "Não posso. Só tenho conexão telepática com os espíritos ou com demônios que tenha invocado para habitar corpos. Não sou um mentalista."

Como resposta, o bárbaro lança um olhar indicando que entendeu.

— Não tem como a Anciã ter errado — o jovem insiste. — San Meldric é o herói das lendas, aquele que exorcizou mais de mil demônios, salvou uma dúzia de cidades e tal... Certeza de que não viu ninguém assim... heroico por aí?

— É, acho que eu vi. Tinha um cara assim na floresta. Parece que você não vai me matar tão cedo, e eu não vejo a hora de você desaparecer da minha vida. Me solta e eu te mostro o caminho.

— É sério? — o garoto fica desconfiado, mas estava tão ansioso para encontrar San Meldric e realizar seu plano. Foi seduzido pela ideia de acabar com isso de uma vez e se livrar da mão amaldiçoada.

— Ela está mentindo — o guerreiro interveio. — Um grifo a perseguiu dos céus e ela cavalgou sozinha até aqui.

Elizabeth franziu o cenho para o captor. O aprendiz estreitou os olhos.

— É mesmo? Bom saber. — Em seguida ele fez um gesto com a luva direita e mais fogo verdoso surge por um instante.

Em algum lugar dos céus o diabrete no grifo solta um grito agonizante. Sentiu o corpo astral queimar intensamente e desprendeu-se do cadáver, que caiu como se fosse um tijolo emplumado.

— Quer dizer que enquanto ela esteve na cidade, não havia ninguém com a garota além do grifo? — Etherion indaga ao fantasma.

Este apenas meneia a cabeça.

Todos sentem um grande tremor no solo. Ao longe, uma luz ascende aos céus. No mesmo instante Etherion soube que era sua irmã ativando o cristal daquele reino. Elizabeth e o homem dinossauro ficaram confusos, mas o evento logo passou.

A ruiva acreditou que, de alguma forma, o jovem havia feito aquilo para tentar intimidá-la com seu poder — afinal, ele não parecia nem um pouco surpreso. Mas estranhou este não comentar nada a respeito. Etherion preferiu falar consigo mesmo:

— Não, tem alguma coisa errada — o mancebo põe a mão no queixo. Suas tranças ainda balançavam mesmo sem nenhum vento, assim como as vestes. — Aquela ordinária não teria me enganado, teria? Não, não faz sentido.

Uma voz feminina ecoou no local:

— Do que foi que me chamastes?

O vento soprou fortemente. Várias folhas e pétalas voaram e ficaram flutuando no ar. Ao se aglutinarem, assumiram o formato de um semblante feminino cujos olhos e boca brilhavam em púrpura.

— Eu disse lendária! — mentiu o aprendiz, o mais depressa possível.

Depois de tudo que Elizabeth viu ultimamente, uma cara flutuante feita de pétalas e folhas não parecia mais algo tão assustador assim.

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