IV • A LIGA DOS IRRESPONSÁVEIS • O Esquadrão Fantasma

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Etherion viu aquela explosão do alto. Sentiu um calafrio bem familiar. Tinha certeza de que aquilo havia sido causado por um demônio. Quando sobrevoou o lugar, viu uma multidão de pessoas engarrafando as ruelas de paralelepípedos, curiosas para ver o que aconteceu. 

Um quarteirão inteiro jazia em escombros, submerso em uma espessa camada de poeira que se esgueirava pelos becos.

"Que bom que isso não é problema meu," pensou o garoto. Pousou com o grifo em uma praça vazia perto dali. A lua nova clarejava os bancos e arbustos, refletindo um tom amarelado na água da fonte central.

 Dois unicórnios de mármore erguiam-se de costas um para o outro, jorrando arcos líquidos da ponta de seus chifres.

— Que cafona julgou o rapaz de capa preta ao desmontar do grifo.

"Ôh, chefia," falou uma voz aguda em sua mente, "já dá pra eu dar no pé? Já tá quase na hora da minha novela." O mancebo de olhos castanhos ondeou uma sobrancelha para o grifo.

— Sua o quê?

"Não interessa," contestou o diabrete incorporado no cadáver. "A questão é que se tu não me despachar logo, vou contar pro chefão que cê não tá pagando as horas extras!"

Os olhos do garoto rolaram nas órbitas.

— Preciso que faça mais uma coisa.

"Na moral, mano, já tá abusando dos meus direitos trabalhistas!"

Etherion transmitiu a imagem mental de Elizabeth para o demônio e continuou:

— Sobrevoe a cidade. Encontre essa garota e a traga pra mim.

"Poxa, cara! Não é mais barato tu ir numa casa de massagem, não? Agora eu tenho que ir caçar tuas pu..."

— Anda logo!

"Tá, tá," respondeu o espírito mentalmente. O grifo se virou e sacudiu as asas para alçar voo. Antes de decolar, fez questão de comentar na mente do aprendiz: "Espera só até eu falar com um advogado, tá cheio deles lá em casa!"

O vento provocado pela ascensão do grifo tira o capuz do mancebo e balança suas dezenas de tranças. Após vê-lo partir, o garoto se dirige à sombra de uma árvore no meio da grama.

 Depois de conferir que os transeuntes na rua estavam todos se dirigindo para o local da explosão, se concentrou.

Enquanto recitava um mantra em uma língua antiga, o jovem fechou os olhos e expandiu sua consciência. Minutos depois, quando levantou as pálpebras, viu-se cercado por uma multidão de pessoas.

A maioria estava ferida, com membros faltando ou com cortes profundos. Alguns estavam com aparência muito doente. Muitos não passavam dos quarenta anos.

— Nós vimos uma luz... — falou uma adolescente com metade do corpo queimado.

— Ele consegue nos ver? — perguntou uma criança de uns oito anos com dezenas de flechas nas costas.

— Ele é um necromante — disse um homem mais velho que mancava sob um cajado. Ele carecia de uma perna e um braço. — Veio nos dominar.

— Eu vim pedir a ajuda de vocês — anunciou Etherion, falando alto para que todos ouvissem. — Eu tenho poder para obrigá-los, mas não quero fazer isso.

Alguns dos presentes fugiram. Outros se aproximaram, curiosos. Muitos ainda gemiam, pedindo socorro. O garoto transmitiu a imagem de Elizabeth para a mente de todos eles e instigou:

— Encontrem essa garota. Ela está em algum lugar dessa cidade. Assim que a avistarem, pensem em mim e eu a verei por seus olhos. É tudo o que precisam fazer.

— E o que vamos ganhar com isso? — indagou um sátiro com o corpo todo amassado, como se esmagado por algo gigante.

O aprendiz de pele escura dá um longo suspiro. Seus olhos pousam no chão por um instante antes de fitar o sujeito.

— Aquilo que eu nunca tive. 

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