Sweet Dreams Are Made of This

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A maior parte da agigantada taverna continuava imersa em música, dança e cerveja, alheia ao conflito dos dois. Mas quem estava por perto montou uma rodinha de provocadores:

— Ôh, looooco, vééééi! Se fosse eu não deixava!

— Não briguem, se matem!

Vishêêê! Taca-lhe o pau!

— Briga! Briga! Briga! Briga! Briga!

A gnoma já estava organizando apostas com a plateia, circulando sua boina laranja para recolher moedas. Ocasionalmente soltava:

— Bora, capetão! Tô contando contigo, hein!

O sujeito de pele verde retirou o martelo das costas e aguardou o outro se levantar — se julgava honrado demais para atacar um adversário caído. 

Kamilzedek não lhe deu o gosto de vê-lo se erguendo do chão. Em um piscar de olhos teletransportou-se no ar, ficando de pé imediatamente.

— Mas que rude! — indignou-se o azulão de sobretudo e calças listradas. — Sua mãe não lhe ensinou a...

Antes que terminasse a frase, o cavaleiro de armadura branca estava descendo o martelo sobre a cartola com o rubi na faixa. Kamilzedek riu.

O mundo ao redor do demônio passou a se mover em câmera lenta. As chamas das tochas ondulavam como bailarinas preguiçosas.

 O jorro das garrafas servindo hidromel derramava-se gota por gota, como se ofegasse para cair um só milímetro. Todos na taverna mexiam-se tão vagarosos que lesmas pareceriam velocistas olímpicos.

Movendo-se normalmente nesse mar de lentidão, o azulão se desviou da arma. E ainda teve tempo para examiná-la atentamente.

 Observou o grandioso martelo com laterais esculpidas como cabeças de carneiro. "Ora, ora, ora, vejam o que temos aqui," pensou. "O Martelo dos Mil Trovões, a arma sagrada mais temida do inferno."

O sujeito de cabelos roxos e cacheados andou até o cavaleiro, analisando o musculoso atacante de dois metros. Os olhos com fundo amarelo gritavam de fúria enquanto ele continuava no seu moroso golpe. 

O elmo reluzia na cabeça provavelmente calva, uma barba grisalha cascateava do rosto verdoengo. Caninos brotavam afiados do lábio inferior, carnudo como só.

"Poucos paladinos na história conseguiram portar essa arma," continuou o monólogo mental, seus olhos roxos vagamente interessados. 

"Esse cara aí deve valer alguma coisa, então. E essa armadura com magia sagrada impede minha polimorfia, não posso transformá-lo em algo. Hum. Talvez ele até tenha um pouco de inteligência. Vamos ver."    

Com um gesto despreocupado, Kamilzedek estende a mão até o peitoral da armadura branca, repleta de curvas douradas que desenhavam símbolos estranhos. Em seguida, ele dá um simples peteleco com o dedo indicador.

O que todos ao redor viram: do nada, antes que o agressor terminasse o ataque, alguma força invisível o empurrou para trás com extrema ferocidade. Ele voou no ar, seu peitoral se estilhaçando em incontáveis fragmentos como se fosse uma xícara de porcelana.

O grandão segurou firme o martelo, mas despedaçou duas mesas vazias na sua trajetória de encontro à parede. A madeira se rachou com o impacto; algumas costelas também.

Os espectadores estavam maravilhados. Comentaram enfáticos:

Caraaaaaca, vééééi! Que poder roubado!

— Mano do céu, o maluco trevoso derrubou o orc sem encostar nele!

— Só pode ser item mágico, certeza! Vou fazer essa build¹ na minha próxima aventura!

— Quem vai apostar no diabo azul?! — indagou Shagda à multidão extasiada com a cena. Após urros de assombro e vaias inconformadas, dezenas de mãos depositaram moedas na boina da gnoma.

Enquanto o paladino levantava-se devagar, Kamilzedek vestiu um sorriso e sentenciou:

— Você está com sorte, mero mortal. Estou de bom humor hoje. Ajoelhe-se perante a mim, entregue sua arma sagrada e eu pouparei sua vida. Que tal?

— Que tal você ir se ferrar!? — bramiu o guerreiro. Seus olhos brilharam, tal como os símbolos em sua armadura. As costelas fraturadas se curaram instantaneamente enquanto raios ziguezagueavam do martelo.

O rival arqueou uma sobrancelha.

Uma aura de chamas negras espiralou do chão e envolveu o sujeito de cartola sem queimá-lo. O fogo de todas as tochas da taverna diminuiu de tamanho, como se intimidado por uma força sombria. Os olhos do demônio ficaram completamente negros.

— Como imaginei. Você não é inteligente.


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¹ Combinação de itens mágicos.




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