Os Males da Solidão

159 21 9
                                    


O necromante caminhava por uma estreita ponte de pedra natural. Dos dois lados, abismos de amplitude vertiginosa. Estalactites pontiagudos brotavam na abóbada pedregosa a trezentos metros de altura. Nas distantes paredes da câmara desmesurada, colossais estátuas de demônios alados mantinham chamas esmeraldas crepitando na cavidade dos olhos e da boca.

A pálida luz crepitante relumbrava na armadura de ossos do sujeito. Sobre um traje negro, ossos retorcidos e recheados de espinhos envolviam todo seu corpo. A parte superior de seu rosto era ocultada por um elmo de crânio aterrador. Via-se dentes afiados, órbitas engrandecidas e chifres recurvados despontando a partir das têmporas. Ao caminhar pela ponte, uma capa repleta de rasgos e buracos oscilava às suas costas.

Após extensos minutos de caminhada, Maodron atravessou um umbral rochoso com vários crânios diabólicos esculpidos em seu arco. Do outro lado, uma intensa luz rúbea o banhou enquanto a sinfonia de gritos de agonia ecoou em seus ouvidos. 

Ali dentro, um corredor do tamanho de cinco vilarejos. Milhares de jaulas de energia avermelhada flutuavam a esmo como planetas órfãos de seu sol. Cada prisão tinha o formato de um icosaedro — mas como eu sei que você deve ser ruim em matemática, basta apenas imaginar o formato de um dado de vinte lados.

Os espíritos aprisionados, que até então lamuriavam ou praguejavam sobre seu destino, encheram-se de um pavor eletrizante ao vislumbrarem o homem de pele escura adentrar no local.

— Não! Socoooorro! De novo, não, por favooor!

— Tenha piedade! Eu nunca te fiz nada!

— Meus deuses, ele de novo, não! Me tirem daqui, eu não aguento mais!

— Necromante! Fique comigo, mas liberte meus filhos, eu te imploro! São crianças, não merecem este castigo tão cruel!

— Não! Aéllea, me acuda, por favor! Socoooooorro!

Os berros de súplica e desespero se propagavam como o zumbido de um vespeiro perturbado pela implacável força da natureza.

— Sentiram saudades, seus vermes? Parem de reclamar, vocês não sabem o que é sofrer! — disse Maodron sob seu grosso bigode, erguendo a mão direita (também envolta na armadura óssea). — Mas não se preocupem, eu vou ensiná-los! — Então ele fechou o punho.

As jaulas icosaédricas brilharam mais intensamente enquanto raios acarminados se espalhavam pelas grades de energia. As incontáveis almas, em uníssono, esgoelaram-se em uma legião de gritos de sofrimento interminável. A dor dilacerava seus corpos astrais, massacrando seus chakras, pulverizando o resquício de sanidade que lhes restavam.

Aquela eletricidade não apenas lhes torturava o físico, mas intoxicava seus sentimentos. A vibração do medo e do horror era explosiva, também corroendo seus centros psíquicos. Jamais, em vida, nenhum daqueles espíritos sofreu qualquer tipo de aflição tão poderosa e intensa quanto a que estavam ali submetidos. A maioria naquele lugar acreditava estar no  inferno, sendo Maodron o próprio diabo.

Em meio aos gritos ensandecidos, o algoz abriu os dois braços. Toda aquela energia da massiva tortura estava sendo absorvida pelo seu espírito. Era algo que transcendia o poder da mana. Era o mesmo método usado pelos demônios não apenas para se alimentarem, mas para ficarem mais e mais poderosos. Esse era o único meio que permitia Maodron ser o mais poderoso dos necromantes, o único no mundo capaz de realizar o Necrofúria.

— Isso mesmo, gritem! — ele exclamou, em êxtase enquanto absorvia tudo. — Compartilhem a minha dor! A dor que eu senti quando os deuses tiraram tudo de mim!

☠☠ NECROFÚRIA ☠☠ Aventura de RPG Medieval 🏹 Ação, Guerra e Magia ⛥Onde histórias criam vida. Descubra agora