A Vingança Espectral

429 98 137
                                    

O rapaz de tranças castanhas estava no meio de um círculo de giz rodeado por velas negras. O aposento era retangular e cheirava a mofo.

 No canto havia uma cama de palha ao lado de bolsas com roupas. Metade do lugar estava infestado por incontáveis pilhas de livros, todos sobre necromancia.

Ele deposita a adaga enfeitiçada no centro dos símbolos no chão. Em seguida começa a entoar um canto em uma língua antiga, erguendo um martelo repleto de inscrições rúnicas. 

Quando sua arma começa a brilhar, o jovem dá um golpe furioso na adaga. Uma explosão de raios verdejantes lança Etherion na parede.

A adaga deu lugar a um vórtice luminoso do qual centenas de espectros ascenderam em espiral. Menos um.

— Você está livre agora — falou o garoto, se levantando com dificuldade. — Pode ir com sua família.

A mulher grávida, caolha e sem seios, responde em um tom amargurado:

— Eu te agradeço. Mas não vou partir até me vingar daquele homem. Vou tirar dele o que ele mais ama para que sinta minha dor.

— É uma perda de tempo. Não há nada que Brontak ame mais que a si mesmo.

— Não me surpreende que ele desconheça o amor. Mas deve haver algo de importante que o frustre. E eu vou descobrir o que é — após a sentença, a mulher desaparece no ar junto a todos os outros espíritos.

A cabeça de um fantasma atravessa a porta do quarto, arrancando um susto do mancebo. O rosto transparente tinha orelhas pontudas e um buraco no lugar do nariz. Notava-se também um cabelo longo, liso e cor de prata. 

— Etherion, seu pai mandou avisar que está na hora do treinamento. — O elfo sumiu antes mesmo de ouvir resposta qualquer.

O aprendiz suspira de alívio. Por um momento pensou que o haviam descoberto, mas era apenas rotina. Sem demora, navegou por entre corredores sinuosos até chegar na gigantesca sala de treinamento. 

Metade do lugar cavernoso era preenchido por um lago com uma luz azulada ao fundo. As águas turvas adentravam por entre túneis que se perdiam de vista. Lamentos estranhos ecoavam nas profundezas...

Ali não se precisava de tochas. A cintilância azulada revelava um sujeito em vestes negras no meio do salão. Com pele escura, ele tinha um elmo que outrora fora o crânio de um demônio chifrudo. 

Também de ossos era sua armadura, toda cheia de curvas e espinhos. Uma capa rasgada tremeluzia mesmo sem vento algum. Olhos com um brilho escarlate fitaram o garoto que se dirigia a ele.

— Sempre atrasado. — A voz do homem não era grave, mas imponente.

— Perdão, senhor meu pai.

— Depois discutiremos sua punição. — Ele retira uma pequena ampulheta das vestes e a gira. — Agora se concentre, quero cem esqueletos erguidos antes do cair do último grão de areia.

O garoto com colete de couro começa a entoar um cântico.

— Não — o homem com um bigode grosso o interrompe bruscamente. — Nem sempre o campo de batalha te dará tempo para isso. Quero a invocação com somente uma única palavra.

— Mas pai...

— Se a areia terminar de cair e você não conseguir, sabe muito bem o que te aguarda.

Relutante, Etherion fecha os olhos e se concentra.

— Lembre-se, filho. A mana está no ar que você respira... na terra sob seus pés...

☠☠ NECROFÚRIA ☠☠ Aventura de RPG Medieval 🏹 Ação, Guerra e Magia ⛥Onde histórias criam vida. Descubra agora