Uma Péssima Aposta

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— Você vem sempre aqui, gatinha?

A elfa sente um misto de incredulidade e pena. Ela para de bebericar seu whisky e olha para o outro lado do balcão. 

Vê um homem mulato com uma barbicha pontuda alçada por um bigode igualmente afiado. Seu olhar castanho era todo sorriso.

— É sério, isso? — ela replicou com total desinteresse. — Essa é mais velha que minha avó. E olha que ela tem dez mil anos.

— Aposto que sua beleza deve ser de família. Já te disseram que seus cabelos azuis são tão formosos quanto...

— O oceano? — ela interrompeu, impaciente. Deu outro gole no whisky. — Vocês homens carecem de criatividade mesmo.

A elfa joga uma moeda de prata para o taverneiro atrás do balcão, que fingia limpar um copo mas estava ouvindo toda a conversa.

— A bebida estava boa. — Olhou de canto para o sujeito ao lado. — Pena não poder dizer o mesmo dos frequentadores. Até mais ver!

— Volte sempre, Lorendell! — O homem gordo acenou risonhamente enquanto a elfa se dirigiu à saída. Assim que a cliente passou pela porta ele espalmou a mão para o sujeito cabisbaixo. — Eu disse que não iria conseguir, Agaxis. Tá me devendo sete moedas de cobre.

O indivíduo de cabelos pretos e longos dá um gole demorado em sua taça e a pousa com desalento no balcão.

— Se continuar desse jeito vou ter é que jogar pro outro time.

— Você não pega nem resfriado, cara.

— Ah, é? Vou fazer você engolir esse seu comentário medíocre. Escolha qualquer outra mulher na taverna, arrancarei um beijo dela. Se eu perder, te dou cinco moedas de ouro. — Agaxis viu as sobrancelhas do taverneiro arquejarem. — Se eu ganhar, terei qualquer bebida gratuita por um mês. Trato?

O moreno com luvas pretas estendeu a mão para selar o acordo, todo confiante. O taverneiro hesitou, mas então vislumbrou uma certa freguesa atrás do desafiante.

 Um sorriso aterrissou em seus lábios. Apertou a mão do colega ao dizer:

— Feito. Vai ter que ser aquela ali — Apontou para uma mulher com cabelos ondulados cor de chocolate, amarrados em um rabo de cavalo.

 A única companheira era uma garrafa meio vazia de absinto. Sua armadura reluzia o flamejar das tochas próximas.

Agaxis olhou para o taverneiro com uma expressão incrédula.

— Tá de sacanagem com minha cara, Gatryggus? Ela é uma paladina, tem voto de castidade. Deve ter até teia de aranha lá embaixo.

O gordo riu quase tão alto quanto a melodia dos músicos. A taverna era uma cacofonia de brindes embriagados e garfos glutões. 

Serviçais nadavam por entre a multidão equilibrando bandejas lotadas de bebidas e petiscos. O clima era festivo e descia queimando pela garganta.

— Ué? Você não é mago? Usa seus truques pra aumentar seu carisma, oras.

— Essa foi a coisa mais estúpida que eu ouvi hoje.

— Não, estúpido foi você apostar cinco moedas de ouro.

O mulato ajeitou o broche da capa roxa, esfregou a luva até espantar uma sujeira qualquer e virou sua taça de vinho goela adentro.

— Me deseje sorte — disse antes de partir em direção à paladina.

— Quebre as pernas! — ouviu o taverneiro retrucar alegremente.

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