Amoeba da Pindamonhangaba

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Quando a ruiva deu por si, Andriax estava abraçando-a aos prantos. Se outrora ela talvez quisesse recusar o gesto, agora o abraçou de volta. Seu pai havia morrido e já não lhe sobravam parentes. O garoto de cabelos curtos e cor de madeira era tudo o que lhe restava de sua antiga vida. Nunca antes a donzela esteve tão contente em vê-lo.

— Lady Elizabeth! — o jovem ofegou entre soluços. — Eu fiquei tão preocupado! Estou tão feliz que esteja bem! Eu morreria se algo ruim acontecesse com você!

— Está tudo bem, Andriax — ela o consolou serenamente. — E não me chame mais de Lady. Aquela garota da nobreza morreu ontem à noite.

— Estou tão feliz em te ver! — Ele chorou mais um pouco, abraçando-a mais forte.

A jovem retribuiu a ternura, envolvendo-o mais junto a si. Ela sentiu um cheiro muito estranho, mas naquele momento decidiu ignorar. Com toda afeição, tratou de responder:

— Eu também estou feliz em te ver, meu amigo.

O escamoso olhou para a baixinha de cinquenta centímetros ao seu lado.

Friendzone?

— Pode crer.

O sujeito de capuz preto observava silencioso. Agaxis fingiu dar um bocejo de tédio e falou:

— Nossa, que tocante. Então, Andriax (é esse seu nome, né?), dá pra nos apresentar ou vai ficar aí fungando até desidratar?

O rapaz de olhos azuis enfim desgruda da ruiva, limpa o rosto com a manga e se dirige ao trio.

— Pessoal... esta é minha querida Lady Elizabeth. A que foi sequestrada ontem à noite. Mas agora ela voltou!

A gnoma fez um sinal para o draggonath erguê-la. Este a subiu uns três metros até pousá-la no ombro para ouviu-la cochichando:

— É a garota do rei Galec Segundo! Fica de olho, grandão. Não podemos deixar que ela morra. Quando a gente terminar de salvar o mundo, vamos capturá-la e levá-la pra Anvelzath, fechado?

— Fechado!

— Saquei... — Agaxis olhou diretamente para o acompanhante da donzela. — E esse aí é quem?

O jovem retira o capuz, revelando a pele negra, os olhos castanhos e as dezenas de tranças que choviam de sua cabeça até os ombros.

— Meu nome é Etherion de Jagfagak. Serei o guia de vocês para a Fortaleza Sombria.

— Me chamo Dronar — O grandalhão sorriu acenando. — É só Dronar mesmo, meu povo não dá segundo nome ou fala de onde vem, he, he.

— Meu nome é Shagda — a pequenina disse em seguida, ainda no ombro do amigo. — Shagda Ognum Taraghor Zagnag Monagtrius Gombnel. Mas pode me chamar só de Shagda.

— Agaxis de Brazandull — o mago se apresentou com pressa, como que querendo encerrar o assunto.

— Olha só — Etherion esboçou um sorriso. — Minha mãe era de Brazandull também.

— Esse não é seu nome, mago de araque — a gnoma dardejou.

— CALADOS! — O mulato lançou um olhar furioso para a pequenina e o draggonath, chegando até Andriax. — Não quero ouvir um pio sobre isso. Se eu quiser me chamar Amoeba da Pindamonhangaba, eu me chamo! O nome é meu.

Etherion ondulou as sobrancelhas, mais surpreso que intrigado. O musculoso e Shagda apenas deram risadas enquanto Andriax engoliu em seco. Não gostava de irritar as pessoas, especialmente aquelas com olhar ameaçador.

O rapaz de gibão laranja ainda segurava a mão de Elizabeth, algo que a deixou inconfortável, mas permitiu que o amigo fizesse. Apesar dele não saber pelo que ela passou, este parecia mais perturbado que a ruiva sobre os últimos eventos. Era uma maneira de consolar seu transtorno, mesmo que indiretamente.

A gnoma se dirigiu a Agaxis:

— Parece que você consegue abrir portais, Amoeba. Por que não abre um até a tal Fortaleza?

— Porque só posso ir até onde alcance minha vista ou para onde eu já estive antes. Mosquitinho irritante.

— Eu tenho um grifo, mas não vai caber todo mundo nele... E achar outros não será nada fácil — o aprendiz explicou.

— Eu tinha um pégaso. — A ruiva fulminou Etherion com olhos, que fingiu não notar. — Mas ele fugiu.

Andriax olhou pasmado para a amiga. "Como assim ela tinha um pégaso???" pensou.

— Não dá pra gente ir à cavalo? — Shagda indagou.

Nope — o garoto com tranças redarguiu. — Muito longe, jamais chegaríamos antes do eclipse. Precisamos dar um jeito de ir voando.

A gnoma de repente olhou para o rosto do amigo ao seu lado.

— Que foi? Tô com tomate no dente? — Dronar começou a passar a língua pontuda nas presas sob o focinho de réptil.

— Cara — a baixinha sorriu —, você não disse que podia virar um dragão?

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