Amor Proibido

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A taverna era enorme. Lotada com clientes de várias raças, todos bebiam, comiam e dançavam. Um sexteto de bardos cantarolava músicas de amor e batalhas épicas. Tambores, flautas, violões e gaitas-de-foles repercutiam por entre a multidão.

Andriax sentia-se deslocado, era um dos poucos humanos por ali. O público era uma salada de anões, elfos, trolls, sátiros e muitos mais. 

Agaxis logo puxou o garoto para assistir as dançarinas no palco. Todas variavam de etnia e trajavam espartilhos decotados. Elas saltitavam ao ritmo dos instrumentos segurando suas grandes saias redondas.

O rapaz se espantou delas exporem suas pernas (às vezes mais de duas) envoltas em meias-calças arrastão. Dronar, já bêbado, estava bem entretido disputando queda de braço com um minotauro. 

A gnoma tinha acabado de ganhar vinte moedas de prata em um jogo de cartas. Toda contente, ela foi até o balcão pedir mais uma dose de hidromel.

Foi então que ela observou Kamilzedek conversando com uma mulher morena de uns quarenta anos com o rosto formigado de espinhas.

 No que ela assina um pergaminho, a gnoma vê o demônio estalar os dedos azuis com júbilo. Um segundo depois a morena estava com a aparência de vinte, pele de bebê e dona de uma beleza que jamais lhe pertenceu.

— Fala, capeta! — Shagda disse alegremente quando a outra se afastou, extasiada de alegria. — Como vão os negócios? Coletando muitas almas, pelo visto!

— Ah, não tem noção! — sorriu o sujeito de cabelos encaracolados e roxos. Com outro estalido, o pergaminho e a pena sumiram de vista. — Essa já é a décima cliente satisfeita da noite, he, he.

A gnoma bebeu do hidromel e falou:

— Viu, eu estava pensando... você não conseguiria fazer a Lady Kaellerus, tipo, aparecer na nossa frente?

— Então... — O companheiro ajeitou a cartola com a pedra vermelha na faixa. — Se eu tivesse tocado nela alguma vez, teria a assinatura energética de sua aura. Aí seria bem fácil, mas como nunca nos vimos, nem dá. Você e o grandão estão atrás da recompensa por ela, né?

— Ahan. Eu, sim, pelo menos. Dronar quer só a glória, vencer inimigos poderosos e conseguir itens raros. Coisa de bárbaro, sabe como é. Mas eu quero a grana e tudo mais. Com essa quantia vou poder realizar meu sonho de construir uma fábrica de artefatos tecnomágicos.

— Ah, ouvi falar da tecnomagia! Pelo que me disseram, vocês gnomos e os elfos noturnos são os pioneiros na arte de retirar a energia dos cristais para criar engenhocas mecânicas.

— Tu manja dos paranauês, hein! — A gnoma virou o copo e o taverneiro de três olhos logo foi servindo mais. — Diferente daquele imprestável lá babando pelos rabos de saia. Não faz um feitiço certo e só coloca a gente em furada.

O demônio de sobretudo riu.

— Ah, o Agaxis! Ele é poderoso, sim, mas quase nunca está sóbrio para usar sua magia direito.

— Agora, a pergunta do século! — Ela dá um murro de ênfase no balcão. — Como é possível que ele seja amigo de um demônio e se diga ateu?

— Não sei se percebeu — ele aponta para Agaxis, que tinha retirado a capa roxa, a rodopiando no ar com um grito frenético —, mas ele não bate muito bem da cabeça.

— Nem dá pra notar — fala a pequenina ao observar o magrelo tirar a parte de cima da túnica rubra, subindo no palco para dançar com as bailarinas.

A gnoma dá um arroto curto e indaga:

— Vem cá, você disse que conhece ele há dez mil anos... Que história é essa? Ele não é humano, não?

— Agaxis, humano? — Ele faz um gesto com as mãos como se rebatesse uma bola de vôlei. — Não, ele é um eldrazar. Eles vivem uns vinte mil anos no máximo. Mas meu amigo foi expulso do povo dele...

— Por que não estou surpresa? — Picada pela curiosidade, ela continua: — Mas o que foi que ele fez?

— Bem, ele foi banido das ilhas flutuantes porque se apaixonou por minha irmã, Belzebelle — O azulão faz um sinal para o taverneiro servi-lo com vodka. — Ela era uma súcubus, sabe o que é?

— Sei — Ela vira outro copo de hidromel e depois limpa o bigode de espuma. — São demônios do sexo. Pelo que lembro, elas se alimentam da energia do prazer até matarem as vítimas.

— Exato. Mas contra todas as expectativas, minha irmã se apaixonou por aquele mortal idiota. — Ele apontou para o mago, que já estava pelado junto com duas bailarinas, os três dançando algo muito esquisito.

— Que mau gosto!

Kamilzedek riu e bebeu da vodka. Continuou:

— Então, Belzebelle se apaixonou tanto por ele que parou de coletar almas para o nosso chefe de falange, o Khanzurxos. Daí as coisas complicaram. O patrão a exilou para o Abismo dos Sonhos e...

— Que é isso?

— Ah, então. Demônios são imortais, sabe. A gente assume uma forma física neste plano, mas se ela for destruída, a gente volta pra casa. Já que não há como matar um de nós, o jeito é aprisionar ou adormecer. Ou ambos. E foi isso o que o Khanzurxos fez com ela.

— Ela está presa e dormindo no inferno... tipo, pra sempre?

— Bem, até o Khanzurxos mudar de ideia, sim. Ele é do Nono Abismo, o último antes da Imperatriz das Trevas. Não tem como derrotar ele, não, te garanto.

— Por isso você falou que estava fugindo? — Ela vira mais um copo e solta outro arroto.

— Pois é. Khanzurxos não confia em mim porque eu fiquei do lado do Agaxis.

— Que bonitinho. Às vezes vocês dois até parecem um...

Nesse momento um indivíduo alto de armadura branca puxou Kamilzedek pela gola do sobretudo e o lançou a dois metros de distância. Os que estavam ao redor pararam de conversar e observaram estupefatos.

Ele tinha pele cor de musgo e, sob o elmo, olhos com fundo amarelado faziam par com lábios protuberantes. Um martelo de um metro de meio descansava cingido às costas.

 As duas laterais de ataque tinham o formato de uma cabeça de carneiro. A armadura alva tinha detalhes dourados, além de incontáveis símbolos estranhos.

Por entre a barba grisalha, o sujeito rugiu:

— Vai pagar pelo que fez à minha discípula, ser das trevas!!


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