O Errante Sem Carne

430 106 114
                                    

Lady Elizabeth... como ela é? — indagou a paladina de cabelos castanhos, suas mechas onduladas amarradas em um rabo de cavalo.

Tropeçando num galho e quase caindo no chão, Andriax responde:

— Minha Lady... é a mais bela dentre todas as mulheres. — Fez um olhar sonhador enquanto os pássaros cantarolavam por entre as árvores. — Jamais vi moça mais formosa, mais gentil; jamais haverá ser tão sublime!

Kayara deu uma risada enquanto picotava um arbusto no caminho com sua espada de duas mãos.

— Você está apaixonado por essa dama, isso é bem óbvio — ela afirma.

O rapaz de cabelos castanhos vira um tomate, enrubescendo completamente.

— Bem, eu... a gente... quer dizer...

— E ela também te ama desse jeito?

— Bom, às vezes sim, mas... sei lá...

— Não existe "meio amor", Andriax. Tem certeza de que vale a pena vir nessa missão tão arriscada por ela? — A mulher de olhos verdes abre outra fenda na relva com a espada. — Você disse que não quer a recompensa, mas tenho a impressão de que o que você procura esteja ainda mais distante do que ouro ou um título de nobreza.

Andriax afasta uns galhos da cara e diz, todo esperançoso:

— Você não entendeu, Sir Kayara! Talvez Lady Elizabeth não me ame agora, mas se eu arriscar minha vida para salvá-la, tenho certeza de que...

— Não. Ela poderá sentir gratidão por você, mas não amor.

O jovem que portava um arco às costas perde o brilho por um instante. Depois se esforça para afastar esse pensamento e conclui algo peculiar:

— Para uma paladina, você parece saber bastante sobre o amor.

A mulher de braços firmes sobe um barranco com a ajuda de raízes grossas que emergiam do solo. O rapaz a acompanha, aguardando por uma resposta que não veio. Ele decidiu mudar de assunto:

— Você também me disse que não aceitou essa missão pelo ouro. Por que quer salvar Elizabeth?

— Não é ela que eu vou salvar... — ela disse mais para si mesma do que para o garoto. De repente a mulher põe o dedo entre os lábios exigindo silêncio e ambos se abaixam na grama alta.

O que foi? — cochicha Andriax, assustado. Tirou o arco das costas e o preparou, rezando para não ter que usá-lo.

De repente um esqueleto atravessa a frente deles. A criatura tinha alguns pedaços de carne colada aos ossos, toda cinzenta e cheia de vermes. Fiapos de cabelo estavam grudados em ilhas de pele esverdeada na cabeça.

O crânio tinha uma ampla rachadura, possivelmente feita por um machado. Esferas ígneas flutuavam nas órbitas vazias, chamuscando um verdor tenebroso. 

Apesar de inteiro em osso, o ser vestia resquícios de uma armadura enferrujada e tinha uma espada curta pendurada no quadril.

A guerreira faz sinal para que o companheiro aguarde. O transeunte esquelético continua sua jornada floresta adentro. Kayara sussurra:

— Mortos-vivos geralmente não ficam muito longe do seu invocador. Vamos segui-lo de longe.

— Seguir aquela coisa, tá doid... — de repente ele se lembrou com quem falava — quer dizer, isso é uma péssima ideia, pra que procurar encrenca?

— Eu fiz votos para erradicar o mal, jovem Andriax. — Ela se põe em movimento, ainda abaixada. — Você pode ficar aí se quiser.

O rapaz considera essa opção com bastante carinho.

Já a alguns passos, a paladina conclui:

— Boa sorte se mais algum esqueleto aparecer enquanto eu estiver longe. Raramente um necromante invoca um só.

Andriax engole em seco e começa a seguir a mulher de armadura, também abaixado. Mesmo que a guerreira estivesse toda revestida de metal, seu companheiro conseguia fazer mais barulho do que ela ao se locomover. 

Eles seguem o zumbi até perto de uma clareira cheia de pedras altas cujo terreno se encontrava em depressão.

— Você tem que aprimorar sua furtividade, garoto, senão uma hora vai matar nós dois por isso! — murmurou Kayara, bem nervosa com todos os galhos e folhas secas que o rapaz pisoteou no caminho.

— Foi sem querer! — ele boqueja em resposta.

Ambos se aproximaram da clareira para ver o que havia mais abaixo. A boca dos dois se abre ao contemplar o tamanho do perigo.

No meio de destroços do que um dia foi uma taverna, um grupo de humanos estava refém de um exército de esqueletos. À frente deles, uma necromante erguia uma cabeça decapitada. 


☠☠ NECROFÚRIA ☠☠ Aventura de RPG Medieval 🏹 Ação, Guerra e Magia ⛥Onde histórias criam vida. Descubra agora